21 janeiro 2025

Enio Lins opina

A terra treme, e teme, sob a trupe e o trupé de Trump
Enio Lins 

“Trump joga o mundo numa era de incerteza” foi o título de editorial d’O Estado de São Paulo, ontem. No bigode, o jornal complementa um raciocínio objetivo, sem rodeios, “A partir de hoje, a presidência dos EUA será ocupada por alguém absolutamente imprevisível, o que impõe literalmente a todo o mundo desafios poucas vezes vistos na história recente”. Foi a mais direta das análises feitas pela chamada “grande mídia” brasileira. A meu ler, creio ser a derradeira linha a mais assertiva: poucas vezes na história moderna o planeta viveu sob desafio tão grande.

A HISTÓRIA ENSINA?
Já viveu o mundo sob ameaças gigantescas, algumas das quais desandaram mesmo, conforme as expectativas, em tragédias históricas como a Guerra do Ópio (1839-1842 e 1856-1860), a Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918), e a irrupção do Nazismo, em 1933 (que provocou a Segunda Grande Guerra Mundial, entre 1939 e 1945). Em todos esses episódios sangrentos, estavam presentes conceitos básicos como: a extração do lucro acima dos limites do tolerável, o “direito da violência” do mais forte contra o mais fraco, o “direito” de um país se apossar de outro, a crença na superioridade racial/social, o autoritarismo brotado no seio de regimes democratas. Com a eleição de Trump, a terra volta a tremer, sacudida por um quadro de traços semelhante ao cataclismo da pós-vitória de Hitler na Alemanha, em 1933. Aquela tragédia vai se repetir como farsa?

DEMOCRACIA PARINDO DITADURAS
Hitler não se tornou o grande ditador pela via de um golpe de estado do tipo das quarteladas latino-americanas. Chegou no poder pela via eleitoral, democrática, dentro das quatro linhas constitucionais da República de Weimar (1919-1933), como recorda o site do United States Holocaust Memorial Museum: “No dia 30 de janeiro de 1933, Adolf Hitler foi nomeado chanceler [um chanceler age diretamente e tem poder estendido por todos os ramos do governo] (...). Popularmente chamados de nazistas, eram radicais de extrema-direita, antissemitas, anticomunistas e antidemocratas (...). Adolf Hitler e os nazistas conquistaram seguidores ao prometer a criação de uma Alemanha forte. Os nazistas prometiam: restabelecer a economia e gerar empregos; recuperar o status de grande potência europeia (e até mundial) da Alemanha; reconquistar territórios que a Alemanha havia perdido com sua derrota na Primeira Guerra Mundial; criar um governo alem& atilde;o forte e autoritário; e unificar os alemães seguindo linhas raciais e étnicas”.

DENTRO DAS QUATRO LINHAS
Segue o site Enciclopédia do Holocausto (https://www.ushmm.org/pt-BR): “Nas eleições parlamentares de julho de 1932, eles [os nazistas] obtiveram 37% dos votos, mais votos que qualquer outro partido havia recebido” e em janeiro do ano seguinte, pimba! Em 2024, Trump foi eleito democraticamente, obteve maioria no parlamento ianque e, antes, já havia obtido a maioria na Suprema Corte. Donald Trump promete restabelecer a economia e gerar empregos; recuperar o status de grande potência mundial; conquistar territórios (Groelândia e Canadá já anunciados, publicamente, como alvos de anexação), criar um governo forte e autoritário; e unificar os americanos seguindo linhas raciais e étnicas (expulsando de chegada os migrantes “inferiores”). Pode ser bazófia, mas... Por via das dúvidas, o Museu Memorial do Holocausto dos Estado s Unidos não abriu suas portas no dia 20 de janeiro de 2025, excepcionalmente, “por motivos de segurança”. Trump é declarado apoiador do sionismo mais radical, mas é “imprevisível”, e a extrema-direita americana sempre foi eugenista. Melhor prevenir mesmo. Aguardem os próximos capítulos, neste mesmo canal, dessa novela tão instigante.

Leia: Trump toma posse com ameaças externas, tensões internas e apoio à extrema-direita mundial https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/editorial-do-vermelho_18.html 

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