22 janeiro 2025

Palavra de poeta: Cecília Meireles

Pássaro
Cecília Meireles  

Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.

 

Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.

 

Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.

 

Se acaso isso é desventura:
ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida.


[Ilustração: Henri Matisse]


instagram.com/lucianosiqueira65
Leia também um poema de Vinícius de Moraes https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/palavra-de-poeta-vinicius-de-moraes.html  

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