24 janeiro 2025

Minha opinião

Os clarins de Momo se aproximam
Luciano Siqueira  instagram.com/lucianosiqueira65

 
Este ano será em março. Mas já está na pauta de muita gente.
 
Antigamente o carnaval se iniciava aos sábados. Era o sábado de Zé Pereira.
 
Hoje, em muitos lugares, como no Recife e em Olinda, desde o início de janeiro a folia ocupa as ruas e invade os salões, em prévias animadas e concorridas. De modo que as quintas feiras de agora já projetam a última quinta, pós-quarta-feira de cinzas, também será de carnaval, já que, cá na província, a festança irá mesmo até o domingo subsequente.
 
Não há, no Brasil, um carnaval único, homogêneo, uniforme. Há carnavais. Distintos na duração, na intensidade com que arrebatam multidões, na variedade de ritmos e cores, no caráter mais ou menos democrático.
 
O carnaval de Pernambuco é ímpar. A começar pela tradição, palmilhada por uma
história guerreira. Pois foi com muita luta que os pernambucanos, recifenses em
particular, conquistaram o direito de ganhar as ruas e fazer a folia - conforme nos
informa, dentre outros, a pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco Rita de Cássia Barbosa de Araújo, autora do belíssimo artigo “Carnaval do Recife: a alegria guerreira” (revista Estudos Avançados – USP, abril de 1997).
 
No final do século XIX e início do século XX, só às elites era reservado esse direito — que desfilava suas alegorias e clubes de máscaras, cabendo à ralé apenas o papel de expectadora.
 
Foi enfrentando proibição legal e muita repressão policial que os
trabalhadores, a gente pobre da cidade, literalmente abriram alas e puderam brincar.
 
Daí a natural associação entre diversas agremiações carnavalescas e a categoria
profissional dos seus integrantes, revelando traços de união entre a luta por direitos corporativos e a pugna pela liberdade de participar dos folguedos. Vassourinhas, Pás Douradas, Lavadeiras, Lenhadores e tantos outros surgiram dessa simbiose lúdico-combativa.
 
Provavelmente aí se encontram as raízes do caráter absolutamente democrático do carnaval que aqui se realiza.
 
No Recife, em Olinda, nas demais cidades litorâneas e do interior, o pernambucano cai no frevo ou se deixa envolver pelo batuque eletrizante do maracatu, livre e espontaneamente, nas praças e nas ruas. Não precisa pagar.
 
Aqui certamente não vingaria um carnaval argentário como o do Rio de Janeiro,
realizado no Sambódromo, do qual a parcela mais pobre do povo foi afastada (como se queixou certa vez Oscar Niemeyer em entrevista ao Jornal do Brasil) pela discriminação econômica. Nem se poderia imaginar o Elefante de Olinda ou Pitombeira dos Quatro Cantos protegidos por cordões de isolamento e impondo a compra daquela espécie de bata que se vê em Salvador.
 
A massa "freveria" de novo e iria à guerra pelo sagrado direito de viver suas
fantasias, dores, sonhos, amores, tristezas, esperanças e alegrias no ambiente de
liberdade conquistado há mais de um século.

Leia: Figuras em Inteligência Artificial não geram direito de imagem https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/minha-opiniao_23.html

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