08 março 2025

Como surgiu o Dia Internacional da Mulher

Dia Internacional da Mulher: como a luta de operárias russas por paz e pão marca o 8 de Março
Conheça a origem do 8 de março e sua relação com os protestos das mulheres em Petrogrado por pão, paz e direitos trabalhistas em 1917, que não só marcaram a data, mas também foram o estopim da Revolução Russa
Ana Prestes/Portal Grabois www.grabois.org.br

 

O Dia Internacional da Mulher tem suas raízes em uma luta contra a guerra e pela paz. Vou contar um pouco dessa história que, embora não seja tão difundida, foi fundamental para que o 8 de março se tornasse um marco de celebração e reivindicação dos direitos das mulheres.

Primeiro, é importante dizer que não houve um dia específico, uma única reunião em que as mulheres disseram: “Vai ser o dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher”. Foi um processo que começou no final do século XIX e início do século XX, por iniciativa de mulheres que lutavam pelo socialismo, pelos direitos trabalhistas e pelo sufrágio feminino. O impacto da Revolução Industrial sobre as mulheres era forte, e a necessidade de organização e mobilização crescia a cada dia.

Duas figuras foram importantíssimas: Alexandra Kollontai, revolucionária russa, e Clara Zetkin, militante socialista e comunista alemã. Mas foram as mulheres anônimas de Petrogrado (atual São Petersburgo) que, em 8 de março de 1917, desempenharam um papel decisivo na história do Dia Internacional da Mulher.

Naquele março de 1917, o planeta enfrentava a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A Rússia já havia sacrificado muitos homens nas frentes de batalha, e as mulheres que permaneceram no país assumiram a árdua tarefa de sustentar a economia, cuidar das famílias e sobreviver.

Um milhão de mulheres trabalhavam na Rússia. A guerra foi um empurrão para que elas assumissem os mais diversos postos de trabalho. Além disso, cuidavam de feridos e das crianças. Mesmo assim, eram superexploradas e recebiam metade do salário dos homens.

A situação formou um caldeirão de insurreição social. O inverno foi rigoroso e o transporte de alimentos disputava espaço nos vagões das linhas férreas com armamentos e soldados. A dificuldade para comprar pão mantimentos básicos e o anúncio da autoridade local de Petrogrado, então a capital Russa, de que haveria um racionamento ainda maior gerou revolta na sociedade, especialmente nas mulheres, que passaram a realizar ações espontâneas contra a guerra, pela paz e pela garantia da sobrevivência básica, como o acesso ao pão e à comida.

No dia 8 de março de 1917, mulheres das fábricas têxteis de Petrogrado pararam as atividades e saíram às ruas. Na zona industrial, convenceram operários metalúrgicos, que também tinham programado uma greve, mas só para o 1º de maio, a aderirem ao protesto. O movimento seguiu até a praça onde ficava a estátua do Czar Alexandre III. Estudantes e comerciantes também se juntaram ao protesto, que reuniu cerca de 150 mil pessoas. A derrocada do regime czarista da família Romanov, que dirigia o país, começou por causa da iniciativa de mulheres que pediam pão e paz para o seu povo naquele 8 de março.

Estava deflagrada a Revolução de Fevereiro, considerada o estopim da Revolução Russa. E aqui cabe uma explicação: na época, o país adotava o calendário juliano, que tem 13 dias de defasagem em relação ao nosso calendário gregoriano. Assim, o dia 23 de fevereiro de 1917, data do início da revolução, corresponde, para a maioria dos países, inclusive para a Rússia atualmente, ao dia 8 de março. 

É importante dizer que, anos antes, mulheres em diferentes partes do mundo já se reuniam em torno de datas próximas ao início de março para reivindicar seus direitos. Isso ocorreu desde 1910, quando Clara Zetkin apresentou, no 2º Congresso Internacional das Mulheres Socialistas, a proposta de um Dia Internacional da Mulher nesse período, ainda sem uma data fixa.

Nos Estados Unidos, por exemplo, ocorreram greves e protestos, como o trágico incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em 1911, que matou centenas de mulheres. Então, a definição do Dia Internacional da Mulher foi resultado da convergência de diversas iniciativas, principalmente entre 1910 e 1917, que impulsionaram a realização de atividades e manifestações nessa época do ano.

O 8 de Março nasce absolutamente associado à luta contra a guerra, encampada pelas mulheres russas. Deixo aqui minha homenagem a essas mulheres de Petrogrado, que nos inspiram a seguir lutando por paz, por pão e por justiça social.

Ana Prestes é pesquisadora do Observatório Internacional, Grupo de Pesquisa da Fundação Maurício Grabois, e Secretária de Relações Internacionais do PCdoB. Todas as sextas-feiras, comanda o programa Conexão Sul Global, exibido pela TV Grabois.

[Ilustração: Trabalhadoras das fábricas das fábricas têxteis no primeiro dia da Revolução de Fevereiro em Petrogrado (Rússia), 8 de março (23 de fevereiro no calendário juliano) de 1917. Foto: Domínio Público]

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