27 dezembro 2025

Editorial do 'Vermelho'

2026: O Brasil diante de uma encruzilhada
Para o PCdoB, o país está diante de caminhos antagônicos: avançar na direção do desenvolvimento soberano ou regredir sob um programa neoliberal, neocolonial e ditatorial
Editorial do 'Vermelho'

 

As eleições de 2026 não serão apenas mais uma batalha do calendário eleitoral. Terão uma dimensão tático-estratégica decisiva, para o presente e o futuro imediato do país, com impactos nos rumos da América Latina. Será uma batalha aberta contra o pacto firmado entre o imperialismo estadunidense e a extrema-direita entreguista e setores políticos a ela atrelados.

Essa análise da Resolução Política do 16º Congresso do PCdoB, realizada em outubro último, vem se confirmando pelo correr da intensa luta de classe no país e pela instável e conturbada situação mundial.

Com apoio escancarado do governo de Donal Trump, a extrema-direita cresce na América Latina e Caribe. As duas últimas eleições presidenciais realizadas em Honduras e no Chile confirmam essa onda reacionária na região. A nova Estratégia de Segurança Nacional anunciada pela Casa Branca, altera rumos e fixa como prioridade o domínio total da América Latina e a continuidade da política ostensiva de contenção à República Popular da China.

A Venezuela, na prática, é vítima de uma escalada de atos de guerra dos Estados Unidos, cujo objetivo é o saque e a pilhagem da maior reserva de petróleo do mundo. A Colômbia, que também irá às urnas em maio de 2026, sofre forte investida do governo Trump. O objetivo é claro: tentar enfraquecer o governo de Gustavo Petro e turbinar a candidatura da direita.

No Brasil, a dez meses das eleições, nem mesmo as celebrações do Natal e os preparativos das festas para saudar o Ano Novo conseguem por água na fervura.

Antes do recesso parlamentar, a maioria de direita que controla o Senado Federal aprovou a vergonhosa redução das penas de Bolsonaro e demais golpistas. Um retrocesso que premia os inimigos da democracia e incentiva novas aventuras golpistas.

O presidente Lula já anunciou que vetará esse escárnio, provavelmente, em 8 de janeiro próximo para marcar o “Dia da Infâmia”, quando os golpistas invadiram a sede dos três poderes. Como ocorreu nos dois anos anteriores, o presidente planeja realizar uma manifestação cívica e popular em defesa da democracia.

Neste contexto, chama a atenção o ataque da mídia monopolista ao Supremo Tribunal Federal (STF), que vem desempenhando decisivo papel na defesa do regime democrático. O alvo é, exatamente, o ministro-relator, Alexandre de Moraes, cujo trabalho resultou na inédita condenação por tentativa de golpe de Estado do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, generais e outros militares de alta patente.

Se valendo do expediente do sigilo da fonte, tal como na época da Lava Jato, jornalões empreendem corrosivo ataque à reputação do ministro. Acusam-no, sem provas, de ter atuado junto ao Banco Central para defender os interesses do Banco Master. Tanto o presidente do Banco Central, quanto o ministro, em notas oficiais, repeliram as acusações. Mas, a campanha difamatória prossegue. Simultaneamente, o bolsonarismo e seus aliados prometem apresentar um novo pedido de impeachment de Moraes.

Fatos semelhantes vão se repetir em 2026. O objetivo é criar instabilidade nas instituições, agravar o conflito entre poderes, afetar a governabilidade do país, turvar as águas, com a finalidade de tentar barrar a reeleição do presidente Lula.

Se antevê, pois, um enfretamento político- eleitoral acirrado pela correlação de forças. O governo Trump também seguirá afrontando a soberania nacional, interferindo ilegalmente nas eleições brasileiras, fazendo uso das big techs e de outros expedientes, com o objetivo de eleger um governo que lhe seja servil.

O consórcio da extrema-direita e da direita, depois dos degastes da prisão dos golpistas, do crime de traição nacional por ter respaldado o tarifaço de Trump contra o Brasil, adentra-se em 2026 sob tensão e rachaduras.

Num lance de dramaturgia tosca, em pleno Natal, antes de se internar para realizar uma cirurgia eletiva, Bolsonaro fez divulgar uma carta, entronizando o senador Flávio Bolsonaro como candidato da extrema-direita à presidência República.

A pré-candidatura de Flávio buscará atenuar as tensões e divisões no próprio clã Bolsonaro e em suas bases estaduais. Tentará preservar o cacife do clã no âmbito do consórcio direitista, barganhando-a ou mantendo-a. Com isto, o candidato predileto do capital financeiro, o governador Tarcísio de Freitas, é forçado a marcar passo. As demais candidaturas da direita, momentaneamente, navegam em círculos.

De todo modo, a direita e a extrema-direita poderão se unificar já no primeiro turno, ou, com certeza, no segundo turno. Por isso, não se pode subestimar sua força e competividade.

Por sua vez, a liderança do presidente Lula segue em posição competitiva, de acordo com as pesquisas. A seu favor está um conjunto de realizações e conquistas, a exemplo do Imposto de Renda Zero para quem ganha até R$ 5 mil reais, redução para quem ganha até R$ 7.350, além da taxação de rendas elevadas.

Há ainda a queda da inflação, o recorde do índice de emprego e o crescimento da economia, apesar da criminosa política de juros elevados do Banco Central. Questão que exige redobrada pressão política e social para que a Selic comece baixar imediatamente.

O presidente Lula conta também com uma série de exitosas políticas sociais, assim como o seu prestígio no cenário internacional, destacado pelos êxitos da COP30 em Belém, Pará, e sua protagonista participação na 20ª Cúpula de Líderes do G20 em Joanesburgo, na África do Sul.

E, também com grande importância, há a sua postura altiva, não se curvando à agressão do governo Trump, que resultou em redução considerável do tarifaço, bem como à defesa pública que faz da América do Sul como uma região de paz, se postando contra as agressões, na prática uma política de guerra contra a Colômbia e, em especial, à Venezuela

Na mensagem de Natal, o presidente Lula indicou que irá batalhar por mais conquistas ao povo, entre elas o fim da escala 6X1, a jornada pela segurança pública e combate ao crime organizado. Destacou também que vai liderar um esforço nacional de enfrentamento ao feminicídio, de combate à violência contra as mulheres.

Diante desse cenário de intensa luta de classes e de pressões do imperialismo estadunidense, o PCdoB, na reunião de sua direção nacional, realizada neste mês de dezembro, apontou que o objetivo tático é conquistar, em 2026, a reeleição do presidente Lula, impondo derrota ao consórcio da direita e da extrema-direita, e descortinando a perspectiva de um novo governo que avance na direção do desenvolvimento soberano, da ampliação e fortalecimento da democracia, de forte progresso social para desencadear a jornada pelas reformas estruturais democráticas.

Para o PCdoB, a tática correta é a construção, desde já, de uma larga aliança que tenha o protagonismo da esquerda e que agregue, necessariamente, o máximo do centro e centro-direita, e busque dividir e isolar o consórcio da direita e da extrema-direita, explorando suas contradições. Efetivar essa tática demanda a construção de um programa de campanha que reflita as grandes potencialidades e os grandes desafios capazes de abrir caminho à agenda dos interesses da soberania nacional, da democracia, do desenvolvimento e valorização do trabalho. Um programa que mobilize o povo e contribua para reunir o máximo de força.

Apesar da disputa presidencial se apresentar acirrada, com relativo equilíbrio de forças, o presidente Lula ganha crescente autoridade, o que eleva a possibilidade de vitória. O PCdoB, ainda conforme o documento de sua direção nacioanl, está convicto de que uma nova vitória está ao alcance da nação e da classe trabalhadora, com a reeleição do presidente Lula, livrando o país da grave ameaça de retorno da direita e do neofascismo, mas não sem muita luta, amplitude e sagacidade.

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Leia: Palavra do PCdoB: defesa da democracia com Lula https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/a-orientacao-do-pcdob.html

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