O som democrático que emana das ruas contra o
golpismo
Enio Lins
DOMINGO FOI MAIS UM DIA DE LUTA e de festa pela Democracia no Brasil. Manifestações maravilhosas puxadas pela dita Cidade Maravilhosa, com Caetano Veloso, Djavan, Fafá de Belém, Fernanda Abreu, Gilberto Gil, Fernanda Torres, Chico Buarque e tantas outras vozes notáveis em sintonia com a multidão; ruas cheias igualmente em São Paulo, Salvador, Recife, Fortaleza (só para citar as mais comentadas concentrações). Maceió também se fez presente, embora com uma aglutinação menor que o potencial, fez bonito. No apurado do dia, a confirmação da importância vital do povo nas ruas em defesa do Estado Democrático de Direito, e contra todas as formas de golpes políticos – inclusive os perpetrados pelo parlamento, poder que deve representar a população.
NESTA QUESTÃO DA
REPRESENTAÇÃO, deve-se insistir no óbvio ululante: o quão
estratégico é o voto proporcional, até porque os posicionamentos do Congresso
Nacional foram o centro da motivação no domingo em tela. As multidões nas ruas
em protesto precisam ter capacidade de transformarem-se em massas muito maiores
termos de votos nas urnas, ou nada feito. Vejamos o exemplo alagoano das
eleições de 2022. Em termos majoritários, resultados coerentes: Lula ganhou em
Alagoas com 59% dos votos válidos e Renan Filho foi eleito para o senado com
57% do eleitorado. Rimou. E indicou a necessidade de ser ampliado o percentual
de votos contra a direita.
PARA A CÂMARA DOS
DEPUTADOS, em 2022, entretanto, esse cálculo envolvendo os
mandatos – para além da esquerda oficial – fica mais confuso, pois nem todo MDB
votou em Lula, assim como nem todas as candidaturas dos partidos em apoio ao
candidato do PL votaram em Jair. Deve-se levar em consideração que outras
candidaturas, além dos nomes da Federação Brasil Esperança (PT, PV e PCdoB),
fizeram campanha para Lula, especialmente, mas não apenas, no MDB liderado por
Renan Calheiros. Na base de apoio formal, a Federação, foram eleitos apenas
dois deputados federais– Luciano Amaral, com 101.528 votos, e Paulão, com
65.814 sufrágios; e não é um detalhe a constatação de que a votação do primeiro
garantiu a vaga do segundo. Luciano, no exercício do mandato, trocou o PV pelo
PSD. O que significa dizer que ficou extremamente difícil para a Federação
conquistar uma vaga em 2026 para a Câmara Federal, caso não consiga trazer para
o grupo uma candidatura com capacidade de obter 100 mil votos ou mais.
POLITIZAR O VOTO
PROPORCIONAL é vital para o equilíbrio das forças no
Congresso, e as forças antibolsonaristas precisam ter isso como lição de casa.
As ruas precisam ir até as urnas. As vias precisam se converter em avenidas,
evitando rotas e becos vicinais que desviem votos para outros destinos. Não se
conseguirá isso sem romper as bolhas e, infelizmente, as recentes manifestações
alagoanas têm ficado restritas às siglas que apoiam Lula, sem aglutinar
lideranças outras dispostas a votar contra a extrema-direita bolsonarista. A
estreiteza fica evidente quando se presta atenção na lista de quem usa a
palavra. Inclusive, ao contrário do modelo – de grande sucesso – utilizado no
Rio, São Paulo, e outras cidades que conseguem reunir as maiores multidões, em
Maceió, a participação de artistas nos microfones tem sido bem menor que o
potencial local, como se pode ver pelo grande número de cantores, cantoras,
atrizes, atores caminhando no asfalto, longe do palanque, como manifestantes
comuns.
POLITIZAR SIGNIFICA
AMPLIAR nomes e centralizar propostas. Significa ir além
das siglas. Alagoas precisa copiar o exemplo carioca, seguir o ótimo exemplo
dado por Caetano Veloso, Djavan, Fafá de Belém, Fernanda Abreu, Gilberto Gil,
Fernanda Torres, Chico Buarque... basta estender a mão e passar o
microfone para uma quantidade maior de artistas locais, sendo coerente com a
generosa e ampla alma artística-cidadã alagoana.
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Leia: A mentira como essência de uma estratégia https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/enio-lins-opina.html

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