No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
Páginas da História
Quando procuramos observar o passado, não devemos fazê-lo através de um sentimento compulsivo, obsessivo, desligado das relações históricas, separado dos fenômenos que intrigam o presente. Seria como nos debruçarmos sobre uma determinada época pairada no alto, inerte. Não leva a nada, diante do clamor da verdade.
É justa a observação do escritor italiano Salviolli quando assegura – “O presente, ainda depois das mais profundas revoluções morais e sociais, liga-se ao passado por vínculos tais que não se poderiam romper sem torná-lo um enigma”.
Por isso, quando um episódio histórico é impedido de vir à tona, há uma lacuna na crônica de uma nação. Enquanto ele não for elucidado, há a sensação do vazio.
Quando, no Brasil, o regime de exceção começou a perder sustentação e a resistência democrática, popular, começou a passar à ofensiva, exigindo o retorno das liberdades políticas, aconteceram episódios escabrosos, alguns jamais esclarecidos.
Em 1975, quero crer, violenta repressão abateu-se contra a direção nacional do Partido Comunista Brasileiro, PCB, assassinando vários de seus dirigentes, inclusive o alagoano Jaime Miranda.
Depois, em 1976, aconteceu a famigerada chacina da Lapa, bairro de São Paulo, onde membros do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil, PCdoB, foram barbaramente trucidados, a exemplo de João Batista Drummond, Pedro Pomar e Ângelo Arroyo. Outros, presos e torturados.
A redemocratização, incontrolável, anunciava-se. Os três políticos de maior representação popular do país, na época, lançaram no exílio a chamada Frente Ampla. Lacerda, Juscelino e João Goulart. Os dois últimos ex-presidentes da República.
Morreram em circunstâncias trágicas, misteriosas. Jornalistas denunciaram assassinatos. Surge, agora, o depoimento de um ex-membro dos órgãos de repressão do Uruguai declarando que participou da operação que envenenou Goulart, sob a direção do tenebroso homicida Fleury.
Disse à Folha de São Paulo que o regime brasileiro queria “limpar a área” diante do inevitável. Começaram a “limpar a área” tentando dizimar os comunistas, como sempre, depois Juscelino, fundador de Brasília, Lacerda, líder da UDN, Jango o reformador. A História, incompleta, como uma página arrancada de um livro, cedo ou tarde reclama o seu continuum.
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