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Mudar a agenda conservadora
Com uma avaliação criteriosa da crise econômica em curso no centro do sistema capitalista, Renato Rabelo (foto), presidente nacional do Partido Comunista do Brasil abriu na manhã de hoje, em São Paulo, a 9º Reunião Ordinária do Comitê Central do PCdoB, que ocorre neste final de semana.
É preciso sair da especulação e fazer um esforço para compreender as causas da crise e suas tendências, ressaltou o dirigente comunista. Fazendo um retrospecto, ele lembrou que a origem da crise está ligada aos chamados ''subprime'', créditos imobiliários concedidos a emprestadores com capacidade de pagamento duvidosa e que, exatamente por isso, renderam altos juros para os especuladores. Quando a previsível incapacidade de pagamento daqueles devedores se manifestou, a crise contaminou, como uma onda, as finanças de todos os países ricos, passando dos EUA para a Europa e Japão.
Os sinais apontam para a persistência da crise, que levou à recessão nos EUA e ameaça a economia dos demais países ricos. Analistas prevêem que o crescimento do PIB nos EUA, este ano, ficará entre 1,3% e 2%, e que a crise já gerou, desde outubro de 2007, prejuízos de 7,7 trilhões de dólares no mercado financeiro mundial. Nos EUA, a inflação de 2007 é alta para os padrões locais (4,2%) e há sinais de que ela poderá crescer este ano, e muitos especialistas falam em estagflação - uma combinação entre estagnação da economia e inflação.
Renato Rabelo ressaltou a ironia da situação atual. O FED, banco central dos EUA, tem insistido no corte de juros que, hoje, estão na casa dos 3% ao ano; o presidente George Bush anunciou um pacote fiscal para aquecer a economia. Tudo isso no sentido de estimular a atividade econômica, na contramão da pregação monetarista patrocinada pelos EUA e imposta pelo Fundo Monetário Mundial e por organismos econômicos internacionais aos países em desenvolvimento quando enfrentam crises semelhantes à dos EUA. Lá, a orientação monetarista é apoiar a atividade econômica, baixando juros, mesmo com risco de inflação. Nos países em desenvolvimento, ao contrário, a orientação ortodoxa patrocinada pelos EUA é elevar os juros e pisar no freio do desenvolvimento. Política que os pregoeiros do neoliberalismo e do sistema financeiros começaram a apregoar por aqui após a eclosão da crise, quando passaram a defender a retomada da alta dos juros e a contenção do ritmo de desenvolvimento do país.
A crise revela também uma mudança significativa no plano internacional: ela, até agora, não afetou o crescimento previsto para este ano, que poderá chegar a 4% do PIB mundial, mesmo com a tormenta nos países ricos. Isto indica um novo quadro na economia mundial, disse o presidente do PCdoB, com transferência da dinâmica da economia para parte da chamada periferia. Aliás, disse, à luz dessa situação nova é preciso rever a dinâmica centro-periferia. Os países ricos estão muito endividados - não só os EUA, mas também países europeus, particularmente a Grã-Bretanha. E, ao lado disso, muitos países do chamado Terceiro Mundo - particularmente os grandes: China, Índia, Brasil e Rússia - hoje são credores internacionais. O crescimento dos países em desenvolvimento, particularmente China e Índia, tem sido intenso, e o conjunto destes países responde hoje por cerca de metade do PIB mundial.
O presidente do PCdoB chamou atenção também para outros aspectos da situação mundial, particularmente os políticos, como a disputa para a indicação de candidatos para a eleição estadunidense deste ano, a Carta de Fidel Castro onde o veterano dirigente afirmou que não vai concorrer à presidência de Cuba, e a declaração unilateral de independência de Kossovo.
Renato Rabelo considera que a disputa nos EUA reflete o forte anseio por mudança, principalmente entre a juventude, sinalizado pelo ascenso da candidatura de Barak Osama (cujo lema de campanha é justamente ''Mudança'') e que pode indicar também a desaprovação pelos eleitores da política belicista do presidente George Bush. A Carta de Fidel Castro, por sua vez, foi compreendida pelo imperialismo e pela mídia conservadora como uma derrota da revolução. Mas é o contrário, esta interpretação é uma distorção dos fatos, diz Rabelo. A transição em Cuba já dura cerca de dois anos, iniciada com o afastamento de Fidel de seus cargos para tratamento de saúde, e ela prossegue nos marcos do processo revolucionário. Quanto à independência de Kossovo, o dirigente comunista considera que ela abre um foco de graves tensões internacionais, opondo as grandes potências, com Rússia e China (juntamente com outros países) sendo contrárias àquela decisão e, por isso, em oposição aos EUA e a um importante grupo de nações européias, que a apóiam e fomentam. É uma tentativa de enfraquecer a Rússia num momento em que ela reassume um importante protagonismo no cenário mundial e vai se firmando como um decidido oponente do hegemonismo dos EUA.
Retomar a iniciativa política - A oposição neoliberal, juntamente com a mídia conservadora, tentam, novamente, definir a pauta política, aumentando sua pressão contra o governo com um festival de denúncias semelhante ao de 2005. É preciso mudar a agenda conservadora e revanchista, enfatiza Renato Rabelo. É preciso retomar a iniciativa política, diz ele, neste cenário em que, de um lado, a direita e sua mídia vociferam contra o governo, enquanto Lula e seu governo tem índices de aprovação muito altos, superiores aos de 2003. Dados do levantamento feito pela CNT/Sensus mostram que o governo é aprovado por 52,7% dos consultados (mais do que em outubro de 2007, quando a aprovação era de 46,5%); a avaliação pessoal do presidente também cresceu, passando de 61,2% para 66,8% no mesmo período.
Mas, mesmo assim, a direita continua no mesmo esforço para acuar o governo. As denúncias em relação aos cartões corporativos atingem, pela primeira vez, o ministério do Esporte, cujo titular - Orlando Silva - tem todo apoio do Partido Comunista do Brasil, para quem é preciso dar resposta imediata às acusações infundadas contra o ministro, e também tirar lições do episódio.
A mídia conservadora também não repercutiu o balanço de um ano do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC); aliás, a grande imprensa procura desmoralizar o plano, desconhecendo os avanços alcançados. Aliás, a mídia desempenha este papel mesmo em relação a propostas anunciadas mas ainda não apresentadas, como a reforma tributária, cujo anúncio será feito no próximo mês, mas que já é enxovalhada pela mídia. Eles vão, com estas tergiversações, tentando construir uma agenda, que procuram impor ao país, sem levar em conta as mudanças significativas, embora ainda limitadas, que já ocorrem. O cenário previsto para 2008 é de crescimento da economia, sem maior impacto da crise internacional; a estimativa de criação de novos empregos formais é de 1,8 milhões, mais do que em 2007; há previsão de crescimento industrial (principalmente no setor de bens de capital), de ampliação do crédito, do consumo de bens duráveis (como automóveis), atração de investimentos estrangeiros, etc. A taxa de investimento poderá chegar a 19% do PIB, e o nível de reservas internacionais do país superou a marca de 188 bilhões de dólares, levando o Brasil, pela primeira vez desde o final da Segunda Guerra Mundial, à condição de credor internacional, e não devedor, como normalmente tem sido.
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