Quem paga a conta?
Alessandro Freitas
Anualmente, as empresas
de transporte coletivo pedem 100% de aumento nas passagens para cobrir os
obscuros custos do sistema; os movimentos sociais defendem 0% de reajuste para
não aumentar os custos do trabalhador. Criado o impasse, o Governo se coloca no
papel de tercius, oferecendo como solução um “meio termo” que mantenha o
sistema rodando. Script cumprido fica o bolso mais vazio e a sensação de que
nada mudou.
Por mais que se diga o contrário, no final a disputa se “resume” ao
aumento ou não da passagem. Outras questões pertinentes ao sistema não são
tocadas ou não conseguem furar o cerco da narrativa construída sobre o debate.
Entre tantas omissões ou distorções uma chama atenção: o financiamento
do sistema. Independente de ser estatal ou privado; bom ou ruim; caro ou
barato, o ponto nodal é quem paga pelo seu funcionamento? Hoje o usuário é o
principal financiador embora não seja o único beneficiário.
Os chamados beneficiados indiretos, donos de automóveis, de imóveis e de
empresas em geral, por mais que não sejam usuários do sistema são beneficiados
por ele. A diminuição do número de veículos e a melhora do fluxo, a valorização
de imóveis próximos a grandes corredores viários ou estações de metrô, a
pontualidade do trabalhador, vários são os exemplos do quão amplo são os
benefícios de um sistema de transporte digno.
Se todos ganham, por que apenas ao usuário cabe o ônus de financiar o
sistema? Essa é a característica mais perversa do modelo atual e seu principal
gargalo. É a sociedade quem deve assumir a responsabilidade de financiar as
condições necessárias para que mais pessoas tenham acesso às oportunidades que
as cidades oferecem.
(*) Alessandro Freitas é secretário de Formação do PCdoB/Recife
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