Jornal GGN
Para dois depoimentos de igual
peso no âmbito da Operação Lava Jato - o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e o do ex-diretor da OAS Paulo Gordilho - a Polícia Federal além de
conceder veracidade apenas ao último, o usou para afirmar que Lula mentiu.
A Polícia Federal da
força-tarefa de Sérgio Moro não acreditou que Lula desconheça o tal executivo,
então diretor de Empreendimento da empreiteira investigada. Durante a condução
coercitiva, no dia 4 de março, em que o ex-presidente foi obrigado a prestar
depoimento no Aeroporto de Congonhas, os investigadores questionaram:
- O senhor conhece o senhor Paulo Gordilho, ex-diretor da OAS
Empreendimento?
- Por nome não, mas...
- Não? O Paulo Gordilho, não?
E Lula fez sinal negativo com a cabeça.
Esse trecho em que o
ex-presidente não afirma que desconhece o investigado, mas que não se lembra
"por nome" foi suficiente para os investigadores sustentarem que Lula
mentiu, o que seria uma "contradição" e que para a Polícia é "possível
notar que havia alguma relação de proximidade entre Paulo Gordilho e o
ex-presidente Lula".
O mencionado executivo seria um
dos interlocutores da OAS para as reformas no sítio de Atibaia, segundo a tese
da Lava Jato. Ele teria se reunido com Lula e dona Marisa, além do próprio
ex-presidente da empreiteira, Léo Pinheiro, "para tratarem de assuntos de
arquitetura relacionados a casa e na lagoa que está vazando".
As aspas são de mensagens
apreendidas pelos investigadores no telefone de Gordilho, com sua filha Isnaia.
Nelas, o empresário informava que iria à Atibaia em um churrasco que seria
"na fazenda de Lula" e que estariam presentes Léo Pinheiro e o
ex-presidente.
Também faz referência a um
encontro futuro com dona Marisa "para tratarem dos mesmos assuntos".
E foi um suposto desentendimento entre o ex-presidente e a ex-primeira dama que
faz a PF chegar a uma conclusão:
"Dessa forma, as mensagens
demonstram a atuação de Paulo Gordilho, e consequentemente da Construtora OAS,
em obras realizadas no sítio em Atibaia/SP, indicando ainda a ciência por parte
do ex-presidente Lula acerca do assunto, pois em certo trecho da conversa Paulo
Gordilho escreve 'Ele quer uma coisa e Marisa quer outra e lá vai eu e o Léo
dar opinião', além de citar o encontro entre os mesmos", disse a PF.
Os trechos não comprovam que o
ex-presidente seja dono do imóvel em Atibaia, mas as ilações e sustentações são
garantidas em todas as 22 páginas da PF em relatório de análise, dentro dos
autos que tramitam contra Lula a respeito do sítio e também do apartamento
triplex no Guarujá.
A narrativa desenhada pelos
investigadores nesse documento se justifica porque Paulo Gordilho seria uma das
únicas pontes que poderiam conectar as obras realizadas no sítio e o
apartamento da OAS no Guarujá com o ex-presidente, na tentativa de
criminalizá-lo.
Após todo o emaranhado de teses
com poucas provas materiais, a PF conclui que as mensagens capturadas apontam
"a participação de Paulo Gordilho, Léo Pinheiro – e consequentemente da
Construtora OAS – em projetos de cozinha instalados em imóveis localizados nas
cidades do Guarujá e de Atibaia, ambos no estado de São Paulo, fazendo
referência, possivelmente, ao sítio em Atibaia e ao apartamento 164-A
localizado no Condomínio Solaris no Guarujá".
Para a defesa do ex-presidente,
a tentativa da Lava Jato de criminalizar Lula se tornou uma
"obsessão".
Leia a íntegra da nota enviada pelo advogado Cristiano Zanin
Martins:
"O
ex-Presidente Lula e seus familiares não são proprietários de qualquer imóvel
no Edifício Solaris, no Guarujá, ou em Atibaia. Os imóveis pertencentes a Lula
estão devidamente declarados à Receita Federal.
A
obsessão da Lava Jato em tentar incriminar o ex-presidente e atacar sua
reputação e de seus familiares faz com que os investigadores se valham de
procedimentos ocultos e de seguidos vazamentos de questões absolutamente
irrelevantes, gastando tempo e recursos públicos do Estado.
No dia 4
de março de 2016 Lula foi conduzido coercitivamente sem ter sido intimado,
medida sem previsão na legislação brasileira, para depor no aeroporto de
Congonhas. Perguntado sobre o nome de Paulo Gordilho, entre muitos outros
nomes, respondeu “por nome, não”. O ex-presidente não é obrigado a recordar o
nome de todas as pessoas que já tiraram foto com ele.
Depois de
concluir uma investigação pública sobre o Edifício Solaris sem identificar um
apartamento pertencente a Lula naquele empreendimento, a Lava Jato se vale de
procedimentos ocultos e vazamentos em série para continuar o ataque à reputação
do ex-Presidente e seus familiares. Os advogados de Lula aguardam decisão do
Supremo Tribunal Federal para combater mais essa arbitrariedade da
Operação".
Leia a íntegra do relatório da PF sobre as mensagens do
ex-executivo:
Arquivo
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