Luciano Siqueira, no Blog da Folha
O processo de impeachment da
presidenta Dilma segue em mais um passo, hoje, no Senado, sem que jamais se
tenha comprovado crime de responsabilidade cometido pela presidenta, conforme
estabelece a Constituição.
É pela política e não pela
justiça que se dá o impeachment.
A ameaça de interrupção do
mandato da presidenta se anunciou desde que apurados os votos do último pleito.
O PSDB, reeditando a velha UDN, passou
incontinenti a frequentar os tribunais com todo tipo de alegação na tentativa
de validar os 54 milhões de votos que deram a vitória a Dilma.
Concomitantemente, na Câmara dos
Deputados se desenhou de pronto uma correlação de forças extremamente adversa
ao governo. Não apenas a maioria elegeu Eduardo Cunha presidente, como boicotou
sistematicamente as iniciativas do governo no sentido de equilibrar as contas
públicas e retomar o crescimento.
Em tais circunstâncias, a então
coalizão governista liderada pelo PT teria que praticar a política no sentido
mais elevado, combinando firmeza de propósitos com largueza e flexibilidade no
intuito de deter o deslocamento progressivo de setores de centro para direita.
Tal não aconteceu, morrendo
precocemente inúmeras tentativas taticamente consistentes propostas pelo PCdoB
e outros aliados.
Mais do que a conhecida
dificuldade de Dilma transitar no ambiente político, pesou e continua pesando
até hoje uma mescla de exclusivismo e dispersão interna do partido então
hegemônico.
O fato é que a ruptura da ordem
democrática através do impeachment corre o risco de se consolidar de hoje até a
votação definitiva da matéria pelo Senado.
As consequências na vida
política do país são dramáticas. Direitos e conquistas de larga dimensão,
alcançados pelo povo dos últimos 12 anos desde o primeiro governo Lula, estão
sendo desmontados em ritmo intenso pelo provisório governo Temer.
A cada dia o noticiário dá conta
das "orientações" do sistema financeiro a serem seguidas
rigorosamente por Michel Temer e seu grupo.
Os próprios ministros, em
sucessivas entrevistas coletivas, não têm pejo ao repetirem o argumento: “para
tranqüilizar o mercado”.
Tal como acontece nos Estados Unidos
e na Europa, é o sistema financeiro que tem as rédeas do governo e da condução
da economia no presente momento. Plenamente.
A maioria da população, ainda atônita
e confusa, adiante se rebelará de diferentes formas — seja através dos
movimentos organizados, seja pela explosão de protestos espontâneos.
Assim, enquanto as forças
políticas dos mais diferentes matizes se ocuparão até outubro das eleições
municipais, engendra-se uma nova ordem política e institucional, fragmentada,
sob pressão do chamado “mercado” e da base majoritariamente fisiológica do
governo no Congresso, que poderá dar em tudo - menos na solução consistente da
crise que o país atravessa.
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