Xadrez da maior aposta de Lula
Luis Nassif, Jornal GGN
Peça 1 – entendendo a estratégia
A estratégia
do PT para as eleições consiste dos seguintes passos:
Passo 1 – a
pré-campanha, mantendo a candidatura de Lula até o fim
Objetivo – manter o eleitorado coeso, aumentar a
adesão ao candidato permitindo até aumentar sua força eleitoral e fortalecendo
o ungido, que deverá substituir Lula.
Passo 2 – a
campanha do 1º turno
São feitas
duas apostas na cabeça de Lula.
A
primeira é que a jurisprudência do STF (Supremo Tribunal Federal) permite a
candidatura de candidatos condenados em 2ª instância. Ela será por conta e
risco do candidato. Lula imagina que, se eleito não haverá como despojá-lo da
presidência.
A
segunda convicção é que, quanto mais prorrogar a candidatura, mais a opinião
pública entenderá a perseguição de que está sendo alvo, e maior será a
transferência de votos para o seu candidato.
Passo 3 – o 2º turno
Passando
para o 2º turno, montar o arco de alianças de esquerda para enfrentar o
candidato de direito: Bolsonaro ou Geraldo Alckmin.
Passo 4 – o 3º turno
Vencendo
as eleições, enfrentar as ameaças de impugnação, confiando no clamor popular.
Peça 2 – a correlação de forças
Como
Garrincha já dizia, faltou combinar com os russos.
Eleição
não se confunde com Poder. Em países democráticos, todo poder emana do povo. Em
situações de estado de exceção, como a atual, o povo, ora, o povo! O sentimento
democrático desaparece até de quem deveria defender a Constituição, o STF
(Supremo Tribunal Federal) e a Procuradoria Geral da República (PGR)
Grosso
modo, a estrutura de Poder é representada pelos seguintes grupos.
1.
Mídia, melhor dizendo, Globo, potencializando a
influência do mercado.
2.
Judiciário: a corrente Lava Jato à TRF4 à
STJ/TSE à STF, francamente anti-PT e disposta a punir os recalcitrantes
internos.
3.
Os empresários, subdivididos em três grupos: as
associações empresariais, as grandes corporações e o mercado. As associações
aceitam até Bolsonaro; mais informadas, as grandes corporações não chegam a
tanto. Mas em todos eles consolidou-se o sentimento anti-PT.
4.
O poder armado: Forças Armadas, Política Federal
e Polícia Militar. Estão a reboque do poder central, mas sempre disponíveis
para utilizar o poder da borduna contra os inimigos.
5.
O crime organizado e as milícias.
6.
Finalmente, os setores minoritários:
·
Sindicatos de trabalhadores.
·
Movimentos populares
·
Mídia alternativa
·
Setores da sociedade civil
·
Setores minoritários da Justiça
·
Consciências individuais que participam dos
poderes anteriores.
·
Em
relação à correlação de forças, há uma frente fechada anti-PT, uma aliança tão
intransponível, que tacitamente admite até a alternativa Bolsonaro, se for para
evitar a volta de Lula.
·
Esse
é um dado da realidade, que não será removido com o uso da fé. Historiadores já
descreveram a marcha da insensatez que acomete nações e civilizações. O Brasil
claramente atravessa um desses momentos, sem que uma massa crítica de
racionalidade se interponha no caminho do desastre.
·
Enquanto
essa frente tosca não for rompida, não se deve alimentar nenhuma veleidade de
se impor em nome do estado de direito e da consciência democrática.
·
Restam
as eleições, como tentativa de freada de arrumação.
·
Dentro
de cada Poder existem as pessoas de bom senso percebendo a loucura. Mas não
ousam colocar o pescoço para fora, temendo – com razão – serem alvos de
represália. Daí a importância das eleições e de saídas que, se não forem o
sonho ideal do eleitor, pelo menos represente uma redução de danos do futuro
próximo.
·
Peça
3 – o que os russos irão fazer
·
Entendido
isso, vamos a uma análise da estratégia de Lula, colocando os russos – o Poder
– em campo.
·
Etapa 1 – a pré campanha
·
Já
se tem os resultados aí.
·
Houve
o absurdo da juíza da execução impedir até entrevistas de Lula, e não haver
nenhum poder capaz de revogar o arbítrio.
Conseguiu-se, com isso, afastar Lula de qualquer articulação política. E, pior ainda, nenhuma liderança petista se habilitou a essas negociações.
Conseguiu-se, com isso, afastar Lula de qualquer articulação política. E, pior ainda, nenhuma liderança petista se habilitou a essas negociações.
·
Por
outro lado, fortaleceu a imagem de Lula e a percepção da perseguição política a
que está exposto. Além disso, manteve a união do PT, evitando a implosão do
partido, que poderia se converter em um arquipélago de tendências e regiões,
perdendo a noção de projeto nacional.
·
Etapa 2 – o 1º turno
·
Agora
se entra na parte mais delicada, de definição da estratégia para o 1º turno.
O que se tem
de objetivo:
·
Jair
Bolsonaro mantendo seu índice de votação.
·
Geraldo
Alckmin fazendo a liga entre o governo Temer, o mercado e a mídia, montando um
arco de alianças que o deixará sozinho no campo da direita.
Aí entra o
fator transferência de votos de Lula. Não se sabe quem será o ungido, mas em
apenas 20 dias o eleitor terá que saber que ele é o indicado de Lula.
Haverá o
seguinte desenho no período:
·
A PGR e a
Lava Jato, em parceria com a mídia, soltando denúncias a torto e a direito
contra o ungido.
·
A mídia
tratando-o como corrupto e recorrendo a toda sorte de factoides, que não serão
eternos, posto que factoides, mas infinitos enquanto durar o 1º turno.
·
O PT com 90
segundos por dia para informar o eleitor quem é o candidato de Lula. E ainda
dividindo votos especialmente com Ciro Gomes.
·
Blogs e
portais independentes falando para o público de militantes e para os democratas
dispersos.
Etapa 3– o
2º turno
Na hipótese do
ungido passar para o 2º turno, haverá uma guerra mundial. A jurisprudência do
Supremo, TSE, TRE e o escambau serão confrontadas com o estado de exceção
em vigor.
Etapa 4 – a pós-eleição
E,
afianço, nem o algoritmo do Supremo ou do TSE terá muito trabalho, porque a
maioria dos Ministros e juízes já faz parte da frente anti-Lula e votará com o
que o Poder determinará.
Peça
4 – a revisão da estratégia
Com
o auxílio do tapetão, as possibilidades de um 2º turno com Alckmin e Bolsonaro
é real. Há que se analisar, então, o segundo tempo da estratégia. Esse é o
busílis da questão.
Na
luta contra a droga, adota-se a política de redução de danos.
Lula
está fazendo a maior aposta da sua vida.
Não
se poder dizer que Judiciário, Ministério Público, a própria Polícia Federal,
sejam organizações homogêneas. Os abusos antidemocráticos cometidos contra Lula,
as negociatas com o serviço público, a incapacidade de recuperação da economia,
a volta do país ao mapa da fome, decorrem de uma aliança pontual cimentada pelo
antipetismo, com um poder de represália capaz de demover as reações individuais
internas em cada setor. Repito: o único fator de coesão desse banquete bárbaro
é o anti-petismo.
Só
se recuperará o caminho democrático se se romper essa aliança. E, aí, exigirá
uma articulação que vá além do PT, que seja multipartidária, e, mais que
isso, suprapartidária.
Mais
quatro anos do estilo Temer, aprofundado com a eleição de Alckmin, significará
jogar definitivamente as forças democráticas no gueto, os movimentos populares
na clandestinidade e os direitos sociais no lixo.
Prosseguirá
a demolição de qualquer ponto de resistência, o próprio PT, sindicatos,
governadores de oposição, imprensa independente, juízes independentes,
procuradores que defendam direitos humanos e, especialmente, uma certa
convicção democrática que começa a florescer internamente nesses poderes, fruto
dos abusos reiterados de Temer e companhia.
O
que está em jogo é o legado de Lula e seu próprio futuro político e seu papel
na história. Se falhar nessa aposta de tudo-ou-nada, esquerda, centro-esquerda,
forças democráticas estarão definitivamente fora do jogo. E Lula se tornará
apenas um retrato na parede, lembrando os tempos em que o país parecia ter
encontrado o seu destino.
Daí
a importância de se analisar a política de redução de danos e compor a frente
democrática antes que seja tarde. Mesmo que signifique o PT abdicar de um
protagonismo que, por direito, deveria ser seu.
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