FHC e o conceito de
radicalidade em consignação
Luís Nassif,
no Jornal GGN
O artigo de
Fernando Henrique Cardoso no Estadão, “Sejamos radicais” é bastante revelador.
Especialmente no trecho em que ele brada:
“O medo da
violência reinante e a perda de oportunidades econômicas tornam o eleitorado
suscetível às pregações de “mais ordem”. Empunhemos essa consigna,
mas sem substituir a lei pelo arbítrio”.
“Consigna” vem
do verbo “consignar”, que significa "pegar algo em
consignação, ou seja, "sem compromisso" de que irá comprar, podendo
devolver após tempo determinado”.
O artigo visa
aglutinar o que FHC denomina de candidatura de centro, para combater a
selvageria representada por Bolsonaro.
No Twitter, o
grande campeão branco Geraldo Alckmin atende ao chamado de seu líder, e pega em
consignação propostas de Bolsonaro. Diz que é preciso combater o tráfico de
armas e, ao mesmo tempo, autorizar os fazendeiros a se armarem no campo, em um
caso clássico de excesso de desinformação. Trata-se daquele que é considerado a
alternativa racional da direita.
Voltemos ao
artigo de FHC e ao malabarismo fantástico para pegar as propostas de Bolsonaro
em consignação e revesti-las de terno e gravata,
Abre assim o
artigo:
“O Brasil
exige: sejamos radicais. Mas dentro da lei: que a Justiça puna os corruptos
(N.do A.: deles), sem que o linchamento midiático (N. do A.:dos nossos) destrua
reputações antes das provas serem avaliadas. Não sejamos indiferentes ao grito
de “ordem!”
Ele não vem só
da “direita” política, nem é coisa da classe média assustada: vem do povo e de
todo mundo (sic!). Queremos punição dos corruptos e ordem para todos,
entretanto, dentro da lei e da democracia.”.
Vai além:
“O País foi
longe demais ao não coibir o que está fora da lei, o contrabando, o
narcotráfico, a violência urbana e rural, a corrupção público-privada. Devemos
refrear isso mantendo a democracia e as liberdades antes que algum demagogo,
fardado ou disfarçado de civil, venha a fazê-lo com ímpetos autoritários”.
O artigo
contem uma sucessão de lugares-comuns que não ficam devendo em nada ao soberano
máximo Luís Roberto Barroso.
Qualquer
análise de estilo constatará que não foi FHC que o escreveu. FHC é fraco de
propostas,
mas tem um estilo escorreito, incapaz de empunhar uma consigna, seja
lá o que isso signifique.
A marca dos
grandes estadistas sempre foi a facilidade em identificar as propostas básicas
e saber explica-las. Vale para Roosevelt e para Reagan, para Felipe Gonzales e
para Margareth Thatcher. Valia para Mário Covas e Franco Montoro, nos tempos em
que o PSDB tinha um mínimo de consistência programática.
FHC inaugurou
a era do lero-lero. É um ping-pong fenomenal entre o consignado e o politicamente
correto, uma balbúrdia que, se fosse uma bússola, deixaria o seguidor perdido
no meio do Sahara atrás de água:
PING -
Só com soldados armados se enfrentam os bandidos, eles também com fuzis na
mão.
PONG -
Se não há mais espaço para a pregação e a condescendência, tampouco queremos,
entretanto, que a arbitrariedade policial prevaleça.
Em qualquer
país civilizado, o crime organizado é combatido pela Polícia. FHC jamais
ousaria uma afirmação dessas em um dos seminários do Instituto Fernando Henrique
Cardoso, Para fora, vale qualquer demagogia.
PING: A
Constituição preserva, e isso deve ser mantido, tanto a intangibilidade e os
limites sociais da propriedade privada como os direitos humanos
fundamentais.
PONG -
Mas ela não abriga atos de violência nem de desordem continuada.
PING -
Entende-se a motivação dos sem-teto, como também a dos sem-terra.
PONG -
Há que dar um basta a tanta desordem. Façamo-lo com a Constituição nas mãos,
antes que outros o façam, em nome da ordem, mas sem lei.
O que dá gás
às invasões é a falta de políticas públicas que assegurem o cumprimento da
Constituição, desapropriando propriedades improdutivas, com passivos fiscais e
ambientais.
***
PING -
Que os governos se unam à iniciativa privada se for necessário e lhe cedam o passo
quando for mais racional para assegurar o atendimento às necessidades do povo.
PONG -
Um programa simples como esse requer autoridade moral dos que vierem a nos
comandar. (...) Só assim levaremos adiante as reformas, incluída a da
Constituição, sem que os poderosos se tornem suspeitos de estar a serviço das
oligarquias políticas, econômicas e corporativas.
Em qualquer
nação civilizada, a maneira de fiscalizar a prestação de serviços públicos,
seja pelo Estado ou pelo privado, é através de conselhos de cidadãos. Para FHC,
basta a autoridade moral.
Quem é o demiurgo capaz de privatizar ou terceirizar
serviços públicos sem despertar suspeitas de jogadas? FHC?
***
PING -
O medo da violência reinante e a perda de oportunidades econômicas tornam o
eleitorado suscetível às pregações de “mais ordem”.
PONG -
Empunhemos essa consigna, mas sem substituir a lei pelo arbítrio. Ordem na lei
e com bases morais sólidas.
Enquanto o grupo
que FHC teima em chamar de centro se afoga na ausência de um discurso
consistente de seu guru máximo, a política se move no Instagram. E o político
que o PT colocou como vice-presidente decorativo e que FHC entronizou como
presidente de fato, mostra o nível da política atual.
No perfil
oficial do Planalto, os gênios da comunicação do governo Temer colocam uma montagem do Palácio do Planalto, atrás,
uma bola imensa e um texto estranho:
“CÉU ESTRELADO
Não é conversa de outro planeta, os números mostram a melhora do País nos últimos anos. Consertamos uma economia e, de quebra (PS: e de quebra!) liberamos os FGTS, prestamos muitas das suas prestações às suas despesas. Estamos buscando alternativas para o povo brasileiro crescer e viver melhor”.
Não é conversa de outro planeta, os números mostram a melhora do País nos últimos anos. Consertamos uma economia e, de quebra (PS: e de quebra!) liberamos os FGTS, prestamos muitas das suas prestações às suas despesas. Estamos buscando alternativas para o povo brasileiro crescer e viver melhor”.
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