As angústias do Messias
Luciano Siqueira
Outro dia, na entrada do Palácio
Alvorada, Bolsonaro respondeu a pergunta de uma repórter a propósito da rápida
progressão da Covid-19 no Brasil: “Eu me chamo Messias, mas não faço milagres”.
Para além da indiferença sarcástica
do presidente para com o drama do povo, ele próprio se debate com problemas
praticamente insolúveis em seu cotidiano de presidente da República sem noção
da dimensão do cargo que ocupa.
Dentre estes, o crescimento
exponencial dos óbitos, produzindo números aterrorizadores; o esgotamento
próximo do auxilio emergencial e o incontornável isolamento político — já
captado nas últimas pesquisas — perturbam o sono do presidente.
A catástrofe sanitária e a rápida
explosão de famintos e desassistidos tende a ser muito mais forte do que a
surrada cantilena de Jair Messias contra o isolamento social e de “alerta”
sobre suas consequências sobre as atividades econômicas, o emprego e o trabalho
informal.
A dura realidade coloca em causa
a sua própria capacidade. O que se espera de um governante é que governe. E que
se não resolva plenamente os problemas, pelo menos os atenue.
Demais, carente de coesão na
própria equipe ministerial e de uma base parlamentar confiável e apoiado em
circunscrito segmento social minoritário, radicalizado e turbinado pelas
milícias digitais, será capaz o ex-capitão de manter até o final do mandato?
Depende muito menos dele do que
da resposta da sociedade.
Por enquanto o jogo está travado
no meio campo. Entre jogadas de defesa e ataque, o presidente combina a
agressividade desmedida de sempre, agora salpicada com repetidas ironias e
piadas sem graça, com a tentativa de atrair o “centrão” parlamentar com cargos
e outras benesses.
Na oposição, claudicam líderes e
correntes políticas ainda excessivamente voltadas para o próprio umbigo.
Se progredir uma convergência
ampla e plural na resistência ao governo, conformada numa frente de salvação
nacional, o desequilíbrio se acentuará e a interrupção do mandato do presidente
será questão de tempo.
Fique
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