17 maio 2020

Ousadia sem público


Os alemães estão de volta

Líder da Bundesliga, Bayern de Munique tem destaques da seleção e excepcionais estrangeiros

Tostão, Folha de S. Paulo

Quando eu era professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais atendia no ambulatório, junto com os alunos e médicos residentes. Percebia que havia um grande número de jovens, sadios, excessivamente preocupados com o corpo, com o medo de adoecerem e de serem impedidos de trabalhar.
O corpo era tudo. O “eu” era o corpo.
Esse medo, as necessidades financeiras e a falta de moradias decentes dificultam bastante para os mais pobres seguirem a ciência e o isolamento social, mas isso não deveria ser motivo para irem atrás dos negativistas, onipotentes, que acham que sabem mais que a ciência.
Neste sábado (16) começou o Campeonato Alemão, sem público. A maioria dos outros países europeus deve iniciar as competições até julho. Já passaram pelo pico da doença e, agora, estão em constante queda, bem diferente do Brasil. França, Holanda e Bélgica encerraram os atuais campeonatos.
Estou com saudade do futebol ao vivo e curioso para ver o protocolo de distanciamento físico adotado pelos alemães. O futebol possui uma antiga máxima de que é um esporte de contato. Como serão as comemorações dos gols, o posicionamento dos jogadores na barreira, nas cobranças de falta e dentro da área, nos escanteios?
Haverá uma trombada com dois jogadores caídos no chão, abraçados, compartilhando suores e secreções? Certamente será um modelo para outros países.
Quando parou o futebol, o Bayern era líder do Campeonato Alemão e estava muito bem na Liga dos Campeões. Vários jogadores são destaques também na seleção atual, como Neuer, Kimmich, Gnabry e ainda o experiente Müller. Há vários excepcionais estrangeiros, como Lewandowski, Thiago Alcântara, Alaba e o brasileiro Philippe Coutinho, muitas vezes, na reserva.
A Alemanha sempre se destacou pelo jogo coletivo, pela troca de passes, pela presença de ótimos meio-campistas e pelos poucos dribles (somente os necessários), enquanto o Brasil se caracteriza, especialmente nas últimas décadas, pelos lances individuais, pelos dribles, pelas estocadas isoladas e por ter muitos hábeis e velozes meias e atacantes.
O passe e o drible são importantes e se completam. As grandes equipes da história são as que possuíam craques no meio-campo e no ataque.
O individualismo do futebol brasileiro é também reflexo do individualismo da sociedade.
Escuto, com frequência, dos mal informados e dos pachecões, que a seleção alemã dos 7 a 1 se destacava somente pelo jogo coletivo. Naquela época, a equipe tinha seis jogadores entre os melhores do mundo em suas posições (Neuer, Lahm, Humells, Kroos, Schweinsteiger e Müller).
Com exceção do lateral esquerdo, os outros eram excelentes, como o centroavante Klose, o maior artilheiro de todas as copas.
Individualmente, a seleção alemã era bastante superior à do Brasil, ainda mais sem Neymar e Thiago Silva, que não jogaram no 7 a 1.
Se a Alemanha, campeã do mundo em 2014, tivesse um Neymar, seria uma das grandes seleções da história. Se o atual time brasileiro tivesse Schweinsteiger, Kroos ou o belga De Bruyne, seria muito melhor.
O Brasil é o maior formador e exportador de jogadores do mundo, mas falta um grande meio-campista, do nível dos melhores do planeta. Bons, há muitos.
A referência para a seleção não pode ser a do futebol que se joga no Brasil e na América do Sul. Existem exceções. Não olhe para o pé nem para o lado. Olhe para frente.

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