Veja o que Bolsonaro já fez
para confrontar medidas de combate ao coronavírus
Presidente faz ofensiva em sequência contra recomendações quase unânimes
de médicos e estudiosos
Daniela Arcanjo,
Folha de S. Paulo
Desde o início da disseminação do novo coronavírus,
o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem falado e
agido em confronto com as medidas de proteção, em especial a política de
isolamento da população.
O
presidente já usou as palavras "histeria" e
"fantasia"
para classificar a reação da população e da mídia à nova doença m,e disse que,
caso a contraísse, sofreria apenas de um "resfriadinho".
Além
dos discursos, o presidente assinou decretos para driblar decisões estaduais e
municipais, fez pronunciamento em que criticou o fechamento de escolas e manteve
contato com pessoas na rua.
Nesta
quinta-feira (14), Bolsonaro editou uma medida provisória que protege agentes
públicos de responsabilização por atos tomados durante a crise do coronavírus. A MP 966 estabelece que
somente poderão ser responsabilizados, nas esferas civil e administrativas, os
agentes públicos que "agirem ou se omitirem com dolo ou erro
grosseiro".
A
proteção vale para responsabilizações referentes a medidas adotadas, direta ou
indiretamente, no âmbito do enfrentamento da emergência sanitária e no combate
aos efeitos econômicos decorrentes da Covid-19.
PROTESTOS DO DIA 15
Contradizendo
o que ele mesmo havia falado em pronunciamento da semana anterior, Bolsonaro participou de
protestos pró-governo no dia 15 de março, quando o Brasil tinha
200 casos confirmados de pessoas com Covid-19 e
1.917 suspeitos.
Naquele
dia, Bolsonaro primeiro incentivou os protestos com postagens em suas redes
sociais. Depois, sem máscara,
participou das manifestações em Brasília, tocando simpatizantes e manuseando o
celular de alguns apoiadores para fazer selfies. "Isso não tem
preço", disse, durante transmissão ao vivo em suas redes sociais.
PRONUNCIAMENTO
Em pronunciamento do
dia 24 de março, Bolsonaro atacou governadores, culpou a imprensa pelo
agravamento da crise de saúde e criticou o fechamento de escolas.
"O
que se passa no mundo mostra que o grupo de risco é de pessoas acima de 60
anos. Então, por que fechar
escolas?", questionou o presidente. "Raros são os casos
fatais, de pessoas sãs, com menos de 40 anos de idade."
Bolsonaro
concluiu dizendo que, se ele fosse infectado, por seu "histórico de
atleta", não deveria temer a doença.
ATIVIDADES RELIGIOSAS
No
dia 26 de março, Bolsonaro atualizou
decreto que lista atividades essenciais que não podem ser
interrompidos durante os esforços de combate ao novo coronavírus. Ele
acrescentou atividades religiosas e casas lotéricas.
"Muita
gente, para dar satisfação ao seu eleitorado, toma providências absurdas.
Fechando shopping, tem gente que quer fechar igreja, [que] é o último refúgio
das pessoas", declarou o
presidente ao apresentador Carlos Roberto Massa, o Ratinho.
Um
dia depois da atualização, a Justiça Federal suspendeu a
validade do decreto e proibiu o governo federal de adotar
medidas contrárias ao isolamento social como forma de prevenção.
SEM NENHUM TIPO DE ESTUDO
Bolsonaro
defende o que chama de "isolamento
vertical", que consistiria em isolar apenas aqueles que
estiverem em grupos de risco, como idosos e portadores de doenças como
hipertensão e diabetes sem controle.
Em
reuniões com secretários, porém, os presentes relataram que a medida foi apresentada como
um princípio e que nenhum estudo técnico embasou a proposta.
CAMPANHA OFICIAL
Um vídeo de
divulgação institucional da Presidência da República, resumiu e
comunicou oficialmente as propostas do governo para a pandemia. O
compartilhamento da peça ficou por conta do filho mais velho do presidente, o
senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), e logo tomou as redes
bolsonaristas.
O
vídeo, divulgado no dia 27 de março, mostra categorias como a dos autônomos e
mesmo a dos profissionais da saúde como desejosas de voltar ao regime normal de
trabalho.
"O
Brasil não pode parar", encerra cada trecho do vídeo, inclusive para os
"brasileiros contaminados pelo coronavírus".
No
dia 28 de março, a Justiça Federal no Rio de Janeiro impediu a
divulgação da campanha por rádio, TV, jornais, revistas, sites
ou qualquer outro meio, físico ou digital.
TUÍTE DA CARREATA
No
mesmo dia em que Flávio Bolsonaro divulgou a peça de campanha
#BrasilNaoPodeParar, do Palácio do Planalto, o próprio presidente postou em sua
conta em rede social o vídeo de uma carreata realizada em Balneário Camboriú
(SC).
A
manifestação pedia a volta do comércio e era contrária ao isolamento social
recomendado pela OMS e pela maioria dos governos que lidam com a pandemia.
Naquele
momento, as carreatas ainda
estavam começando. Desde então, manifestações e buzinaços foram feitos em
diversas cidades do país.
SAIDINHA PELAS RUAS
Em
29 de março, o presidente saiu pelas ruas
de Brasília defendendo a volta da população ao trabalho. O giro
incluiu pontos de comércio na Asa Norte e no Sudoeste, além de Ceilândia e
Taguatinga, cidades-satélites de Brasília.
Durante
a saída, Bolsonaro ouviu palavras de apoio e também críticas. “Isolamento para
nós, hein? Isolamento. Sem isolamento a gente não se cuida”, falou uma mulher
quando o presidente se preparava para entrar no carro e ir embora.
O
giro ocorreu um dia depois de o ministro da Saúde Luiz Henrique
Mandetta afirmar que o chamado "isolamento vertical"
(restrito a grupos de risco) estava descartado como forma de enfrentar o novo
coronavírus.
No
dia 9 de abril, Bolsonaro voltou a circular, dessa vez para ir a uma padaria.
Acompanhado do ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas e de um de
seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o presidente comeu um sonho
e cumprimentou clientes do local.
No
dia seguinte, o presidente visitou o Hospital das Forças Armadas, e, em
seguida, foi a uma farmácia no
Sudoeste.
DECRETO
Em
30 de março, Bolsonaro disse que estava pensando em
fazer um decreto para população poder trabalhar.
A
fala ocorreu após semana em que oscilaram embates e aparentes entendimentos em
reuniões com governadores.
Aliados afirmaram que Bolsonaro ficou irritado por ter saído da conversa como
se tivesse sido "domado" pelos ministros.
No
dia 2 de abril, Bolsonaro voltou a dizer que poderia tomar a decisão em uma
“canetada”. “Se tiver que chegar a esse momento [de determinar a volta], eu vou
assinar essa medida provisória (...)”. Seis dias depois, o ministro do Supremo
Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, decidiu que estados e municípios têm
autonomia para impor o isolamento social.
No
último sábado (11), a AGU (Advocacia-Geral da União) divulgou nota afirmando
que, diante das medidas restritivas “de direitos fundamentais” adotadas pelas
outras esferas de governo, pretende ajuizar ações contra elas para “garantir a
ordem democrática e a uniformidade das medidas de prevenção à Covid-19”.
AGLOMERAÇÃO
Em
11 de abril, ao visitar obra de
um hospital de campanha em Águas Lindas de Goiás, Bolsonaro voltou a provocar
aglomerações.
Assim
que desceu do helicóptero, subiu em um barranco e foi até um grupo próximo a um
cordão de isolamento. Em seguida, aproximou-se do governador de Goiás Ronaldo
Caiado (DEM) e brincou com o político, que estendeu um pote de álcool em gel ao
presidente.
Depois
da visita, à qual a imprensa não teve acesso, Bolsonaro foi até outros
focos de aglomeração e retirou a máscara enquanto cumprimentava
os simpatizantes.
MOTO AQUÁTICA
Em 9 de maio, um
sábado, horas após afirmar em redes sociais que era falso o convite
para um churrasco no
Palácio da Alvorada que ele mesmo havia anunciado, Bolsonaro gastou parte da
tarde em um passeio de moto
aquática no Lago Paranoá, um dos cartões postais de Brasília.
O
passeio de Bolsonaro ocorreu no dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 10 mil
mortos pela Covid-19, o que motivou decretação de luto pelas cúpulas
do Legislativo e do Judiciário.
Segundo
o Ministério da Saúde, o Brasil atingiu naquele 10.627 mortes em decorrência do
coronavírus, com 730 mortes confirmadas nas últimas 24 horas.
Em
meio ao passeio de Bolsonaro, Judiciário e Legislativo decretaram luto. Câmara
e Senado hastearam a bandeira a meio-mastro e declararam ficarem
"proibidas quaisquer celebrações, comemorações ou festividades, no âmbito
do Congresso Nacional, enquanto durar o luto".
Já
o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, divulgou nota afirmando
que "os números, por si só, não dão conta do tamanho da tragédia" e
que "cada vítima tinha um nome e projetos de vida que foram interrompidos,
bem como familiares e amigos que agora sofrem com essa grande perda".
Fique
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