14 maio 2020

Amigo íntimo do coronavírus


Veja o que Bolsonaro já fez para confrontar medidas de combate ao coronavírus
Presidente faz ofensiva em sequência contra recomendações quase unânimes de médicos e estudiosos
Daniela Arcanjo, Folha de S. Paulo

Desde o início da disseminação do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem falado e agido em confronto com as medidas de proteção, em especial a política de isolamento da população.
O presidente já usou as palavras "histeria" e "fantasia" para classificar a reação da população e da mídia à nova doença m,e disse que, caso a contraísse, sofreria apenas de um "resfriadinho".
Além dos discursos, o presidente assinou decretos para driblar decisões estaduais e municipais, fez pronunciamento em que criticou o fechamento de escolas e manteve contato com pessoas na rua.
Nesta quinta-feira (14), Bolsonaro editou uma medida provisória que protege agentes públicos de responsabilização por atos tomados durante a crise do coronavírus. A MP 966 estabelece que somente poderão ser responsabilizados, nas esferas civil e administrativas, os agentes públicos que "agirem ou se omitirem com dolo ou erro grosseiro".
A proteção vale para responsabilizações referentes a medidas adotadas, direta ou indiretamente, no âmbito do enfrentamento da emergência sanitária e no combate aos efeitos econômicos decorrentes da Covid-19.

PROTESTOS DO DIA 15

Contradizendo o que ele mesmo havia falado em pronunciamento da semana anterior, Bolsonaro participou de protestos pró-governo no dia 15 de março, quando o Brasil tinha 200 casos confirmados de pessoas com Covid-19 e 1.917 suspeitos.
Naquele dia, Bolsonaro primeiro incentivou os protestos com postagens em suas redes sociais. Depois, sem máscara, participou das manifestações em Brasília, tocando simpatizantes e manuseando o celular de alguns apoiadores para fazer selfies. "Isso não tem preço", disse, durante transmissão ao vivo em suas redes sociais.

PRONUNCIAMENTO

Em pronunciamento do dia 24 de março, Bolsonaro atacou governadores, culpou a imprensa pelo agravamento da crise de saúde e criticou o fechamento de escolas.
"O que se passa no mundo mostra que o grupo de risco é de pessoas acima de 60 anos. Então, por que fechar escolas?", questionou o presidente. "Raros são os casos fatais, de pessoas sãs, com menos de 40 anos de idade."
Bolsonaro concluiu dizendo que, se ele fosse infectado, por seu "histórico de atleta", não deveria temer a doença.

ATIVIDADES RELIGIOSAS

No dia 26 de março, Bolsonaro atualizou decreto que lista atividades essenciais que não podem ser interrompidos durante os esforços de combate ao novo coronavírus. Ele acrescentou atividades religiosas e casas lotéricas.
"Muita gente, para dar satisfação ao seu eleitorado, toma providências absurdas. Fechando shopping, tem gente que quer fechar igreja, [que] é o último refúgio das pessoas", declarou o presidente ao apresentador Carlos Roberto Massa, o Ratinho.
Um dia depois da atualização, a Justiça Federal suspendeu a validade do decreto e proibiu o governo federal de adotar medidas contrárias ao isolamento social como forma de prevenção.

SEM NENHUM TIPO DE ESTUDO

Bolsonaro defende o que chama de "isolamento vertical", que consistiria em isolar apenas aqueles que estiverem em grupos de risco, como idosos e portadores de doenças como hipertensão e diabetes sem controle.
Em reuniões com secretários, porém, os presentes relataram que a medida foi apresentada como um princípio e que nenhum estudo técnico embasou a proposta.

CAMPANHA OFICIAL

Um vídeo de divulgação institucional da Presidência da República, resumiu e comunicou oficialmente as propostas do governo para a pandemia. O compartilhamento da peça ficou por conta do filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), e logo tomou as redes bolsonaristas.
O vídeo, divulgado no dia 27 de março, mostra categorias como a dos autônomos e mesmo a dos profissionais da saúde como desejosas de voltar ao regime normal de trabalho.
"O Brasil não pode parar", encerra cada trecho do vídeo, inclusive para os "brasileiros contaminados pelo coronavírus".
No dia 28 de março, a Justiça Federal no Rio de Janeiro impediu a divulgação da campanha por rádio, TV, jornais, revistas, sites ou qualquer outro meio, físico ou digital.

TUÍTE DA CARREATA

No mesmo dia em que Flávio Bolsonaro divulgou a peça de campanha #BrasilNaoPodeParar, do Palácio do Planalto, o próprio presidente postou em sua conta em rede social o vídeo de uma carreata realizada em Balneário Camboriú (SC).
A manifestação pedia a volta do comércio e era contrária ao isolamento social recomendado pela OMS e pela maioria dos governos que lidam com a pandemia.
Naquele momento, as carreatas ainda estavam começando. Desde então, manifestações e buzinaços foram feitos em diversas cidades do país.

SAIDINHA PELAS RUAS

Em 29 de março, o presidente saiu pelas ruas de Brasília defendendo a volta da população ao trabalho. O giro incluiu pontos de comércio na Asa Norte e no Sudoeste, além de Ceilândia e Taguatinga, cidades-satélites de Brasília.
Durante a saída, Bolsonaro ouviu palavras de apoio e também críticas. “Isolamento para nós, hein? Isolamento. Sem isolamento a gente não se cuida”, falou uma mulher quando o presidente se preparava para entrar no carro e ir embora.
O giro ocorreu um dia depois de o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmar que o chamado "isolamento vertical" (restrito a grupos de risco) estava descartado como forma de enfrentar o novo coronavírus.
No dia 9 de abril, Bolsonaro voltou a circular, dessa vez para ir a uma padaria. Acompanhado do ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas e de um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o presidente comeu um sonho e cumprimentou clientes do local.
No dia seguinte, o presidente visitou o Hospital das Forças Armadas, e, em seguida, foi a uma farmácia no Sudoeste.

DECRETO

Em 30 de março, Bolsonaro disse que estava pensando em fazer um decreto para população poder trabalhar.
A fala ocorreu após semana em que oscilaram embates e aparentes entendimentos em reuniões com governadores. Aliados afirmaram que Bolsonaro ficou irritado por ter saído da conversa como se tivesse sido "domado" pelos ministros.
No dia 2 de abril, Bolsonaro voltou a dizer que poderia tomar a decisão em uma “canetada”. “Se tiver que chegar a esse momento [de determinar a volta], eu vou assinar essa medida provisória (...)”. Seis dias depois, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, decidiu que estados e municípios têm autonomia para impor o isolamento social.
No último sábado (11), a AGU (Advocacia-Geral da União) divulgou nota afirmando que, diante das medidas restritivas “de direitos fundamentais” adotadas pelas outras esferas de governo, pretende ajuizar ações contra elas para “garantir a ordem democrática e a uniformidade das medidas de prevenção à Covid-19”.

AGLOMERAÇÃO

Em 11 de abril, ao visitar obra de um hospital de campanha em Águas Lindas de Goiás, Bolsonaro voltou a provocar aglomerações.
Assim que desceu do helicóptero, subiu em um barranco e foi até um grupo próximo a um cordão de isolamento. Em seguida, aproximou-se do governador de Goiás Ronaldo Caiado (DEM) e brincou com o político, que estendeu um pote de álcool em gel ao presidente.
Depois da visita, à qual a imprensa não teve acesso, Bolsonaro foi até outros focos de aglomeração e retirou a máscara enquanto cumprimentava os simpatizantes.​

MOTO AQUÁTICA

Em 9 de maio, um sábado, horas após afirmar em redes sociais que era falso o convite para um churrasco no Palácio da Alvorada que ele mesmo havia anunciado, Bolsonaro gastou parte da tarde em um passeio de moto aquática no Lago Paranoá, um dos cartões postais de Brasília.
O passeio de Bolsonaro ocorreu no dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 10 mil mortos pela Covid-19, o que motivou decretação de luto pelas cúpulas do Legislativo e do Judiciário.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil atingiu naquele 10.627 mortes em decorrência do coronavírus, com 730 mortes confirmadas nas últimas 24 horas.
Em meio ao passeio de Bolsonaro, Judiciário e Legislativo decretaram luto. Câmara e Senado hastearam a bandeira a meio-mastro e declararam ficarem "proibidas quaisquer celebrações, comemorações ou festividades, no âmbito do Congresso Nacional, enquanto durar o luto".
Já o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, divulgou nota afirmando que "os números, por si só, não dão conta do tamanho da tragédia" e que "cada vítima tinha um nome e projetos de vida que foram interrompidos, bem como familiares e amigos que agora sofrem com essa grande perda".

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