Dez argumentos falsos contra o isolamento
Luis Nassif, Jornal GGN
O foco
da discussão sobre a curva do Covid-19 é claro:
Ponto central da análise
O
ponto central de análise é a capacidade de atendimento da rede hospitalar.
Doentes com acesso a UTIs e respiradores têm possibilidade de sobreviver; a
maioria dos doentes sem acesso morre. Daí que toda a lógica consiste em atrasar
a contaminação, para dar tempo da montagem da estrutura hospitalar.
Argumento
1 – A comparação com outras pandemias
A
argumentação única de Osmar Terra é sobre a lógica da curva das pandemias
conhecidas: 15 semanas de contaminação, depois começam a cair. Logo, não
haveria necessidade de isolamento pois, com ou sem isolamento, as 15 semanas
resolveriam o caso. Menciona várias pandemias anteriores.
É comparação totalmente
indevida porque nenhuma das pandemias anteriores lotou a capacidade de
atendimento da rede hospitalar. E o índice de mortes pela pandemia está
diretamente relacionado com o índice de ocupação dos hospitais.
Aliás,
essas comparações levaram Terra a prever uma quantidade de mortes do Covid-19
inferior ao do próprio H1V1, um erro de projeção clamoroso. Nem isso calou-o.
Argumento 2 – A comparação com outras causas de morte
Do
mesmo modo, o Ministro-Chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos,
compara as mortes por Covid-19 com outros tipos de morte – por acidente de
trânsito, por acidente vascular.
Trata-se de outro argumento primário.
Primeiro, por não se conhecer nenhuma espécie de contágio em acidentes de
trânsito ou vasculares. Depois, porque nenhuma dessas causas lotou os leitos de
UTI e os respiradores.
Argumento
3 – A falsa causalidade na contaminação nas casas
Um
dos argumentos mais esdrúxulos de Terra é de que, na maioria das casas de
periferia, há muitas pessoas convivendo nos mesmos cômodos. Logo o risco de
contágio é maior do que na rua.
É
argumento absolutamente non-sense. O vírus chega nas casas trazido por alguém
foi à rua, justamente por não obedecer às regras de isolamento.
Argumento
4 – tem que abrir a economia porque há o risco do pobre morrer de fome
Caso
clássico de transferência de responsabilidade. É evidente a necessidade de
manter a subsistência mínima das pessoas sem renda. E a responsabilidade
objetiva é do governo federal, através dos recursos do Tesouro para
financiamento da renda básica. Se existem pessoas correndo o risco de morrer de
fome, é porque a distribuição falhou.
Argumento 5 – nos estados que adotaram o isolamento houve aumento das
mortes. Logo, o isolamento não funciona.
Típico
argumento negacionista, muito empregado em discussões econômicas, porque não se
pode fazer a contraprova: quantas mortes a mais haveria sem o isolamento?
Quanto o isolamento foi prejudicado pelo discurso negacionista do Presidente da
República? A contraprova são as relações de causalidade em outros países, entre
isolamento e achatamento da curva.
Argumento 6 – queda da curva ocorreu devido à maior contaminação, não
ao isolamento
Joga-se
aqui com o fator temporal. Em geral o isolamento é adotado quando há um aumento
da contaminação. Os resultados aparecem algum tempo depois. O argumento dos
negacionistas é de que a redução se deve à queda da curva, devido à maior
contaminação, que, no segundo tempo, funciona como vacina para os sobreviventes
e os assintomáticos. Usa-se esse argumento em favor do fim do isolamento.
Argumento
7 – quanto mais rápida a curva da contaminação, mais rápida será a recuperação
da economia
Esse
argumento foi levantado por técnicos do Banco Central. Partiram do pressuposto
que quanto mais intenso o pico da curva, enterram-se os mortos e a economia
volta ao normal. Em outros países, esse pico provocou congestionamento dos
hospitais, aumento das mortes e pânico de tal ordem que a própria população
passou a exigir normas de isolamento muito mais rígidas pelo poder central. Ou
seja, a ausência inicial de isolamento estendeu o prazo de volta à normalidade.
Argumento
8 – o fim do isolamento é inevitável. Logo, a verdade está com os que defendem
a abertura.
A
discussão não é sobre a inevitabilidade ou não do isolamento, mas sobre quando
e como sair do isolamento.
Argumento
9 – alguns países que não adotaram o isolamento horizontal foram bem-sucedidos
Escondem-se
as razões básicas do sucesso, nenhuma disponível no Brasil:
·
Mapeamento das contaminações com testes em massa.
·
Oferta abundante de leitos de UTI.
·
Controle estrito da movimentação.
·
Disciplina da população.
·
Planejamento centralizado e comunicação clara do governo.
Argumento 10 – a hidrocloroquina tem efeitos positivos. Logo deve-se
acabar com o isolamento. Ou, a hidrocloqouina não resolve o problema. Logo não
deve ser usada
Trata-se
da chamada discussão bizantina. Vários hospitais adotaram protocolos para uso
da hidrocloquina nos dias iniciais da doença. Vale para hospitais e sob
prescrição médica, porque a dosagem tem que ser bem calculada, e depende da
situação de cada paciente, devido aos impactos em doenças coronarianas e
outras.
Como
se dá a discussão?
Bolsonaro se vale dessas
conclusões para defender o uso maciço e aberto da hidrocloroquina.
Os
adversários do uso maciço passam a condenar até o uso controlado do
medicamento.
Fique sabendo https://bit.ly/2Yt4W6l
Leia mais https://bit.ly/2Jl5xwF
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