Autoritarismo
servil ao grande capital
Maksandro
Souza*
Muito se comenta,
inclusive na mídia monopolista, que o governo Bolsonaro é chegado a um arroubo
antidemocrático. Dia sim, no outro dia também, o presidente faz questão de
externar seu espírito autoritário através de gestos, palavras e atos. O que
poucos mencionam é que os ataques ao regime democrático caminham lado a lado a
uma enorme regressão social e econômica. O autoritarismo bolsonarista é servil
ao grande capital. Senão vejamos:
Levantamento realizado
pelo Estadão informa que no segundo semestre o lucro de dez empresas dentre as
maiores da bolsa brasileira foi mais que o dobro em relação ao primeiro
trimestre de 2021, passando de R$ 52 bilhões para R$110 bilhões. O mesmo
levantamento indica que o Itaú apurou um lucro de R$ 6,5 bilhões no mesmo
período, enquanto a maior cervejeira do país, a Ambev, obteve lucro de R$ 3
bilhões, representando um aumento de 123% em 12 meses. As exportações do
agronegócio seguem em alta e, puxados pela demanda chinesa (principalmente por
soja), alcançaram US$12,11 bilhões em junho deste ano. Não é à toa, portanto,
que segundo a revista Forbes, o total de bilionários no Brasil foi de 44 para
65 em 2021. Juntos, esses ricaços acumulam uma fortuna superior a R$1,2
trilhão.
Setores intermediários,
contudo, sofrem com a orientação neoliberal da política econômica de Guedes e
companhia. O Índice de Situação Financeira das pequenas indústrias sofreu uma
redução no primeiro trimestre de 2021. De acordo com a Confederação Nacional da
Industria (CNI), isso se deveu à dificuldade de acesso ao crédito, queda da
produção e do faturamento e à alta do preço dos insumos.
Os pequenos
produtores rurais de alimentos, excluídos do circuito comercial mais amplo, não
encontram amparo governamental. Os agricultores familiares que produzem itens
da cesta básica foram responsáveis por meros 18,6% do Pronaf (2020/2021). O
crédito agrícola é escasso e concentrado territorialmente nas regiões Sul e
Sudeste.
Enquanto a economia
patina com crescimento meramente estatístico, assistimos ao aprofundamento da
crise social. O país convive com mais de 14 milhões de pessoas na pobreza
extrema. Pesquisa realizada pela Rede Brasileira Sobre Pesquisa Alimentar no
final do ano passado indica que 19 milhões de brasileiros encaram o flagelo da
fome. Em julho deste ano o custo da cesta básica calculada pelo Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) aumentou em 15
capitais. Dessa forma, em uma cidade como Porto Alegre, por exemplo, a cesta
básica consume 64,56% do salário mínimo. Quando o assunto é o mercado de
trabalho, mesmo o insuspeito jornal Valor Econômico vaticina que o crescimento
da economia não será suficiente para reduzir o desemprego no período pós
pandemia.
E o que faz Bolsonaro
e sua base diante da calamidade social e econômica do Brasil? Poucos momentos
antes do enterro da esdrúxula proposta de voto impresso, a maioria governista
da câmara aprovou o texto base de uma minirreforma trabalhista. Nela, além da
redução de salários e jornadas de trabalho em meio à pandemia, foram
acrescentadas emendas que, dentre outras barbaridades, reduzem proteções ao
trabalho e a renda dos trabalhadores e dificultam a fiscalização de trabalhos
análogos à escravidão.
O autoritarismo
bolsonarista é um método e está a serviço dos poderosos. O presidente investe contra
o Estado democrático de direito ao tempo em que atenta contra os direitos dos
trabalhadores e faz de tudo para manter e ampliar os privilégios e os
interesses das elites econômicas.
*Economista, mestre em Economia pela Universidade Federal de Sergipe
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