Trumpismo sob cerco
Disputa interna agrava crise no Partido Republicano dos EUA
O que explica essa falta de
unidade do partido Republicano é a crise de identidade pela qual a sigla passa
desde a eleição de Donald Trump, em 2016.
Luis Antônio Paulino/Vermelho www.vermelho.org.br
Os republicanos conquistaram o controle da Câmara dos Deputados
nos Estados Unidos nas eleições de meio-mandato em novembro último. Foi uma
vitória com gosto de derrota, pois a maioria alcançada por uma margem de apenas
dez cadeiras foi bem mais apertada do que se imaginava. Além disso, os
democratas mantiveram o controle do Senado. No início da legislatura, em
janeiro, os deputados se reuniram para eleger o novo presidente da Casa que,
graças à maioria conquistada, seria, naturalmente, um republicano. Mas o que
chamou a atenção no processo de escolha do novo presidente foi um fato que não
ocorria há 164 anos nos Estados Unidos.
Foram
necessárias nada menos do que 15 votações para que o candidato republicano
Kevin McCarthy conseguisse o número mínimo de votos para se eleger presidente
da Câmara dos Deputados. Na 15ª e última rodada, McCarthy recebeu 216 votos.
Seu principal adversário, o democrata Hakeem Jeffries, que substituiu Nancy
Pelosi na liderança do Partido Democrata, ficou com 212. Foram seis abstenções,
todas de republicanos. A dificuldade para se obter o número mínimo de votos –
no caso 218 se não houvesse abstenções – deveu-se à resistência de cerca de 21
republicanos, de uma ala mais radical do partido, contrários à sua eleição.
O
que explica essa falta de unidade do partido Republicano é a crise de
identidade pela qual a sigla passa desde a eleição de Donald Trump, em 2016.
Afinal de contas, o que é o Partido Republicano hoje? Continua a ser o partido
de Ronald Reagan, fiel ao evangelho conservador de livre mercado, que tem sido
a espinha dorsal da legenda por mais de meio século, ou o partido de Trump, que
defende o abandono do livre comércio em favor de uma rede de tarifas para
proteger bens e empregos americanos e a repressão da migração com mais força? É
o partido da elite conservadora com interesses globais ou o partido da baixa
classe média branca americana, que perdeu seus empregos na indústria
manufatureira? Há como conciliar essas duas agendas ou estaria o partido
Republicano condenado a se dividir no futuro próximo?
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