Secos & Molhados ontem e hoje
Luciano Siqueira
A surpresa aconteceu em Caruaru, no fim de 1973, onde eu permaneceria por uns 3 dias hospedado numa pensão simples, enquanto Luci, de maneira semi clandestina, passaria o Natal com a família, no Recife.
Às vésperas do réveillon seguiríamos para a nossa nova morada, em Santana do Ipanema, no sertão alagoano, onde viveríamos com identidade falsa e na condição de vendedores ambulantes de roupa.
Desde 1970 militávamos na dura clandestinidade, inicialmente na Ação Popular e, de 1972 em diante, no Partido Comunista do Brasil.
Naquela noite, sem nada para fazer e dirigindo-me à Festa do Comércio, que teria como grande atração Valdick Soriano, tive a atenção desviada para a vitrine de uma loja de eletrodomésticos onde um televisor exibia "Secos & Molhados", com closes repetidos na figura de Ney Matogrosso.
Embora despido de qualquer preconceito, senti o impacto da surpreendente coreografia, desafiando o ambiente repressivo da ditadura militar (governo Médici). Um misto de música brasileira e portuguesa, rock e androgeinia explícita.
Corajosa rebeldia!
Agora, minha neta de 10 anos, Alice, põe a tocar o primeiro LP do grupo e ouço, nas vozes de Ney, João Ricardo e Gerson Conrad, "Sangue latino" — revivendo com emoção a mesma intrigante cena daquela noite em Caruaru:
"Rompi tratados, traí os ritos
Quebrei a lança, lancei no espaço
Um grito, um desabafo
E o que me importa é não estar vencido."
Tão diferentes quanto o maracatu e a valsa https://bit.ly/3Ye45TD
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