Contradições do futebolHá o conceito equivocado de que quem decide os jogos são os treinadores
Tostão/Folha de S. Paulo
Entre as principais equipes brasileiras, há quatro treinadores argentinos e quatro portugueses, se for confirmada a contratação de Arthur Jorge pelo Botafogo.
Além da desconfiança técnica sobre a qualidade atual de vários técnicos brasileiros, existe no inconsciente coletivo, desde os anos 60, o conceito de que o Brasil se destacou e ganhou muitos títulos somente porque teve grandes craques.
Após a vitória por 4 x 1 sobre a Itália na final da Copa de 70, o cineasta e poeta Pasolini escreveu que a poesia brasileira tinha derrotado a prosa italiana. Não é bem assim. A seleção brasileira unia a poesia com a prosa, o talento individual com o coletivo.
Outro antigo conceito equivocado, frequente no Brasil, é o de que as partidas são decididas muito mais pelas ações dos treinadores do que pelos jogadores. Nas análises dos jogos comenta-se muito mais sobre os esquemas táticos e as estatísticas do que sobre as condutas e escolhas dos atletas. Os técnicos se tornam heróis ou vilões.
No empate por 2 x 2 entre Atlético-MG e Cruzeiro, os dois treinadores argentinos, um estreante, Milito, no Galo, foram criticados pelos esquemas táticos com três zagueiros. Falou-se pouco dos detalhes individuais do jogo, de alguns belos lances e gols. O Cruzeiro teria atuado com três zagueiros, o que não é habitual, para espelhar o mesmo esquema tático do Atlético-MG. Mais importante do que fazer igual é tentar ser diferente, surpreender.
Após a partida, os depois treinadores argentinos deram entrevistas pouco compreendidas, pois ainda não aprenderam o portunhol. Leva tempo.
Na primeira partida da decisão paulista do estadual, o Santos, em casa, incentivado pela torcida, ganhou por 1 x 0, merecidamente, por ter sido mais vibrante, ter Pituca no meio campo e Guilherme no ataque e pelos erros técnicos individuais do Palmeiras. O esquema tático do Palmeiras com três zagueiros, tão elogiado nas vitórias, foi bastante criticado na derrota.
Deu empate por 0 x 0 na primeira partida da decisão do Gauchão entre Juventude e Grêmio. Como é bom ver o técnico Roger Machado na final do estadual e no comando de uma equipe da primeira divisão do Brasileirão. Além do conhecimento técnico, tático, Roger Machado é um treinador humanista, ético, com ideias inteligentes sobre o futebol e a vida.
Os clubes e os treinadores das equipes brasileiras, que criticam com razão o calendário e os longos estaduais, poupam jogadores importantes na primeira rodada da Libertadores e da Copa Sul-americana, com a finalidade de terem todos os titulares nas decisões dos estaduais. É, no mínimo, contraditório.
Parafraseando Antônio Carlos Jobim, gênio da musica, o nosso futebol e o Brasil não são para amadores nem para profissionais que desejam as coisas certas. No Brasil, os discursos são lindos, mas as ações são vagas e inúteis.
É pantanoso, impreciso, relacionar as atuações e resultados das equipes nos estaduais com o desempenho no Brasileirão, já que nos estaduais há uma enorme variação de qualidade dos adversários. Os longos estaduais, que atrapalham bastante o calendário, não servem nem para fazer uma ótima preparação para outras competições.
Os longos estaduais são boas ocasiões para politicagem, troca de favores e para se ganhar dinheiro, ainda mais com a avalanche de propagandas das empresas de apostas esportivas, regulamentadas, que estão presentes em todo o mundo. Isso é uma coisa. Outra são as acusações de manipulação de resultados, caso de polícia, que necessita ser investigado.
[Ilustração: Rubens Gerchman]
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