É preciso saber perder
Prata no futebol significa ouro, pois coloca o Brasil em outro nível técnico
Tostão/Folha de S. Paulo
Terminam neste domingo as Olimpíadas. Vou sentir saudades. Parabéns aos vencedores e perdedores. Atletas que não ganharam medalhas, mas que superaram suas melhores marcas são também vitoriosos. Para ser um campeão, é necessário muito talento, força emocional e ambição de ir além, ultrapassar os limites, sem perder o respeito e a dignidade.
Os Jogos Olímpicos ensinam ao futebol brasileiro saber perder. Não dá mais para aguentar nos campeonatos nacionais e sul-americanos tantas reclamações, tumultos, gestos agressivos e até obscenos durante as partidas. É necessário fazer algo com urgência, antes que destruam o nosso futebol.
Muitas coisas que desejamos não conseguimos. Outras, que já temos, corremos o risco de perder. Por muito pouco, pequenos detalhes, acasos, a vida e os resultados mudam.
Após as duas fraquíssimas atuações e derrotas na fase de grupos da seleção, parecia que o nosso futebol feminino continuava muito atrás das principais seleções do mundo. Não é a realidade. O Brasil mostrou, nas vitórias contra a França e Espanha, e na derrota para os EUA em um jogo equilibrado, que está entre os melhores. A medalha de prata significa ouro, pois coloca o Brasil em outro nível técnico. Parabéns à equipe. O Brasil soube perder, sem criar tumultos.
É preciso saber perder. A excelente jogadora da seleção feminina da Espanha Jenni Hermoso foi presunçosa e não soube perder ao dizer após a derrota por 4 a 2 que a seleção brasileira feminina não sabe jogar futebol.
Ela deve achar que só existe uma maneira de atuar, trocando muitos passes, tendo o domínio da bola e do jogo, como fazem muito bem as seleções espanholas feminina e masculina. A Espanha é campeã da Eurocopa e medalha de ouro no futebol masculino das Olimpíadas.
Gosto mais também desse tipo de jogo, porém há outras maneiras eficientes de atuar bem e de vencer, como fez a seleção brasileira feminina na vitória contra a Espanha. A equipe alternou muito bem a pressão para não deixar a Espanha trocar passes com uma marcação mais recuada para contra-atacar com velocidade.
No futebol brasileiro, os árbitros, o VAR e a interpretação das regras precisam ser repensados. Durante as disputas pela bola, não há condições de um atleta ficar com os braços colados ao corpo, como um robô. O suposto pênalti tão reclamado pela diretoria do Flamengo na partida contra o Palmeiras nunca existiu. Os braços se movimentam com o corpo.
Foi absurda a expulsão de um jogador do Botafogo no final do primeiro tempo contra o Bahia, quando a partida estava equilibrada e empatada em 0 a 0. O jogador, quando sobe para disputar uma bola, movimenta os braços e pode atingir o adversário. Isso não é agressão. Com um jogador a mais, o Bahia passou a ter muito mais chances de vitória.
Palmeiras e Flamengo jogaram muito bem em casa e muito mal no campo do adversário. A superioridade do Flamengo em seu campo foi um pouco maior no primeiro jogo do que a do Palmeiras em casa no segundo.
No Brasil, é bastante frequente as equipes serem bem diferentes na qualidade técnica em casa e fora. Mudam bastante a postura dos atletas e a estratégia dos treinadores. Seguem modelo antigo e ultrapassado de que empate no campo do adversário é ótimo resultado, mesmo em um campeonato longo e por pontos corridos como é o Brasileirão, em que a vitória vale três pontos e o empate só um.
É preciso saber perder e saber ganhar.
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