21 setembro 2024

Palavra de poeta: Ariano Suassuna

A infância

Ariano Suassuna 



Sem lei nem Rei, me vi arremessado

bem menino a um Planalto pedregoso.

Cambaleando, cego, ao Sol do Acaso,

vi o mundo rugir. Tigre maldoso.

 

O cantar do Sertão, Rifle apontado,

vinha malhar seu Corpo furioso.

Era o Canto demente, sufocado,

rugido nos Caminhos sem repouso.

 

E veio o Sonho: e foi despedaçado!

E veio o Sangue: o marco iluminado,

a luta extraviada e a minha grei!

 

Tudo apontava o Sol! Fiquei embaixo,

na Cadeia que estive e em que me acho,

a Sonhar e a cantar, sem lei nem Rei!


[Ilustração: Balogh Balázs András] 

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