03 dezembro 2024

Palavra de poeta: Carlos Drummond de Andrade

O Tempo Passa? Não Passa
Carlos Drummond de Andrade   

O tempo passa? Não passa

no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.

 

O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.

 

Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.

 

O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.

 

São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer a toda hora.

 

E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama escutou
o apelo da eternidade.
 

[Ilustração: Paul Gauguin]

Leia sobre Pablo Neruda: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/03/pablo-neruda-sempre.html

Cláudio Carraly opina

Paradigma – para e diga amar
Cláudio Carraly*  

Acreditava que amizades de infância eram para sempre... Errei.

Acreditava que a mulher da minha vida seria àquela da juventude... Errei.

Acreditei ser destinado a fazer a diferença na minha existência... Errei.

creditei que o estudo, trabalho, perseverança e honestidade seriam base de uma vida segura para mim e minha a família... Errei.

Acreditava que no fim os bons vencem e a verdade sempre prevalece... Errei.

Acreditei que os sonhos se realizam se você trabalhar duro para isso... Errei.

Acreditei que ajudar os outros retorna em coisas positivas para você... Errei.

Acreditei que a sociedade humana é inexoravelmente boa e evolui para o melhor... Errei.

Acreditei ser possível construir uma sociedade justa... Errei.

Acreditei que o bom combate valia a pena mesmo que a derrota se impusesse... Errei.

Você pode pensar que estou triste ou pessimista, pelo contrário, agora despertei e vejo as coisas como realmente são.

Falei de todos esses erros para afirmar que esses paradigmas precisavam ser quebrados para o meu crescimento.

É assim mesmo, ninguém deve ter compromisso com erro, as coisas mudam, vão para outro lado, ou simplesmente não dão certo.

O compasso e o esquadro que você recebeu por vezes não medem o mundo real, por isso joguei os meus fora, eles não servem, eram só ilusão de poder controlar o destino.

 A vida é mais simples do que pensamos, ela não se permite cartesiana. Não conseguimos moldar nossa existência, sonhos, desejos, ambições, tudo isso é normal, somos humanos, mas não passa disso.

Esses mesmos desejos, sonhos e ambições, vão tolher o seu espírito, vão se tornar paradigmas, engessar a alma e calcificar o seu futuro. Quebre isso agora! 

Apenas aceite viver, o amanhã que sonhou será apenas um sonho, você define-se é por suas ações e só, não espere reconhecimento, pois este normalmente não virá, faça por você e que isso te baste.

Aprendi que o amor pode acontecer a qualquer tempo, ou nunca.

Amizades verdadeiras nascem a qualquer momento, mas também morrem, se esgotam sem prévio aviso.

Nós trabalhamos demais, sempre buscamos o alto da montanha, quando a felicidade não estava no topo, mas possibilidade de alcançá-lo.

Quebre as correntes, duvide das suas certezas, inclusive das que lê agora.

Percebo que o ser humano avança e evolui na inquietação da dúvida, na tentativa e erro é isso que nos impulsiona para o novo. 

Eu acabei com as certezas e em breve provavelmente duvidarei dessas minhas dúvidas. 

Agora encontro-me sem escudo, ou espada, totalmente nu, talvez tenha dado um passo no caminho da iluminação.

[Ilustração: Edward Hopper] 

*advogado, ex-Secretário Executivo de Direitos Humanos de Pernambuco

Eólicas & saúde coletiva

Como as eólicas devastam a saúde de comunidades
Em comunidade pernambucana, pesquisadores registraram: 54% têm problemas auditivos, 49% desenvolveram alergias, 70% utilizam medicamentos diversos. SUS não está preparado. Novas fontes de energia são essenciais, mas governo precisa ser muito mais rigoroso com as empresas
Wanessa Gomes em entrevista a Gabriel Brito/Outras Palavras  

O que se tratava, inicialmente, de um trabalho de campo de Saúde Coletiva e Agroecologia, acabou por se transformar na descoberta de impactos socioambientais gerados por projetos de energia renovável. Essa é a síntese da pesquisa liderada por Wanessa Gomes, professora da Universidade de Pernambuco no campus de Garanhuns, e André Monteiro, da Fiocruz.

Iniciado em 2020, o projeto de residência em Saúde Coletiva das instituições universitárias visava atender territórios quilombolas e de transição agroecológica. Os pesquisadores acabaram por constatar que tais comunidades têm suas vidas social e produtiva inviabilizadas pelas usinas de energia eólica. O processo de adoecimento é quase generalizado, o Estado e o SUS são ausentes e as empresas descumprem suas promessas de progresso econômico com dividendos sociais. Um enredo bastante conhecido, agora com a roupagem da sustentabilidade. 

“Pensamos em observar questões de saúde mental, mas já descobrimos que existem outras doenças aqui, inclusive catalogadas no CID. É o caso da Síndrome da Turbina Eólica (STE) e a doença vibroacústica (DVA)”, contou Wanessa Gomes, em entrevista ao Outra Saúde.

Como relata, os índices de adoecimento são assombrosos. “Observamos que mais 54% das pessoas relataram alteração na acuidade auditiva, 31% incômodo visual por causa das sombras da torre (o efeito estroboscópico), e 49% apresentaram alergias, pois havia alteração da água. Segundo as pessoas entrevistadas, os moradores desenvolvem tais alergias em razão do que chamam ‘fogo branco’ que sai das torres de turbinas, a fuligem cai no teto das casas e vai para a cisterna com a água da chuva”, relatou.

Ao longo do trabalho de campo, os pesquisadores se depararam com os efeitos diretos da chamada “autorregulação dos mercados”, notoriamente apoiada pela direção do Estado brasileiro nos últimos anos, que tornou os Estudos de Impacto Ambiental um trâmite burocrático alheio às evidências científicas. Na prática, não há estudos reais de impactos.  

“É preciso ter diálogo, porque essas empresas chegam trazendo promessas de que as comunidades vão contribuir para o desenvolvimento do país, não tem impacto nenhum etc. Tal discurso é aceito, até pela falta de falta de conhecimento dos impactos dessas torres. Isso está acontecendo agora em vários outros municípios, a exemplo de Serra Talhada (PE), onde as torres impactam comunidades”.

Apesar de já se reconhecerem problemas derivados do ruído das turbinas, os efeitos em saúde vão muito além. Há variadas doenças desenvolvidas em razão do estresse e da piora da qualidade de vida. E o SUS local, como relata Wanessa Gomes, ainda não responde à altura das necessidades das pessoas afetadas.

“Todos os mutirões de atendimento em saúde aconteceram com ajuda de profissionais das universidades, parceiros, Médicos e Médicas Sem Fronteiras, Médicas(os) do MST, mas os profissionais da unidade de saúde que cobre esse território não participaram em nenhum momento, mesmo sendo convidados. A comunidade reclama muito da falta de assistência, inclusive a falta de medicações, a exemplo da alergia à agua. Elas têm de pagar consultas em dermatologistas e comprar medicação por conta própria”, lamentou.

Do lado das empresas, apenas reuniões e pouca ação de reparação. Além da necessidade de reassentamento a pelo menos 2 quilômetros de distância dos parques eólicos, Wanessa Gomes critica a falta de compartilhamento da riqueza econômica ali gerada. Por sinal, algumas donas de empreendimentos são as mesmas multinacionais que comandam fontes de energia “suja” das matrizes mais tradicionais, como a AES.

“Precisamos desmistificar a ideia de que fontes renováveis de energia não têm impacto ambiental. Quando o poder público tiver essa consciência começará a exigir estudos antes da implantação dos empreendimentos, que hoje funcionam ao bel prazer das empresas, que negociam e impõem seus interesses com uma discrepância enorme de conhecimento entre as partes”, resumiu.

Confira a entrevista completa com Wanessa Gomes.

Primeiramente, como funciona sua linha de pesquisa em saúde coletiva em Garanhuns, nas áreas que contam com projetos de exploração de energia eólica?

Começou em 2020, depois de um chamado da própria comunidade e de movimentos sociais que atuam nas áreas vulnerabilizadas por usinas eólicas, em especial a Comissão Pastoral da Terra. Fomos convidados a conhecer os territórios atingidos pelos empreendimentos eólicos. Antes, atuávamos em Lagoinha e Pau Ferro, que são alguns sítios do município de Caetés. Fizemos o diagnóstico territorial, começamos a entrevistar pessoas e ouvir seus relatos.

Em 2022, fomos a uma reunião na comunidade de Sobradinho, outro sítio também em Caetés, onde ficamos chocados com as situações relacionadas ao meio ambiente e ao território, os animais locais, o sumiço das abelhas e dos sapos, e o incômodo do ruído das turbinas. Em Sobradinho, foram umas 15 famílias conversar conosco e todas tinham sacolas com várias medicações, principalmente medicações para dormir, benzodiazepínicos, ansiolíticos….

Quais os efeitos principais gerados na saúde da população? Já podemos dizer que relacionar seus efeitos apenas à saúde mental é uma noção obsoleta?

Ficamos chocados, víamos as pessoas chorarem, mostrarem muita tristeza… Foi um marco pra entendermos que havia algo a mais a afetar aquela comunidade. Percebemos que as pessoas tinham muitas questões relacionadas à saúde. Por meio de um edital do Inova Fiocruz, conseguimos aprovar um projeto de pesquisa na região, com duração de três anos, até o fim de 2025. Depois, esperamos iniciar outros projetos porque esta pesquisa abriu um leque de questões desconhecidas. Pensamos em observar questões de saúde mental, mas já descobrimos que existem outras doenças aqui, inclusive catalogadas no CID (Cadastro Internacional de Doenças). É o caso da Síndrome da Turbina Eólica (STE) e a Doença Vibroacústica (DVA).

Quando começamos a estudá-las e escutar os moradores da região, vemos que os sintomas coincidem com a descrição de tais síndromes. Escolhemos a comunidade de Sobradinho para iniciar a pesquisa. Passamos em todas as casas, fizemos um diagnóstico em saúde e observamos que mais 54% das pessoas relataram alteração na acuidade auditiva, 31% incômodo visual por causa das sombras da torre (o efeito estroboscópico), e 49% apresentaram alergias, pois havia alteração da água. 

Segundo as pessoas entrevistadas, os moradores desenvolvem tais alergias em razão do que chamam “fogo branco” que sai das torres de turbinas, a fuligem cai no teto das casas e vai para a cisterna com a água da chuva. Muitas pessoas não usam mais a água das cisternas.

Fizemos dois mutirões de saúde, uma equipe multiprofissional, médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos, psicólogos, uma grande diversidade de profissionais e seguimos acompanhando. Alguns dados são gritantes, como o fato de 70% da população usar algum medicamento de forma contínua oito anos depois das chegadas das torres; 64% utilizam a medicação para conseguir dormir, isso é muito alto para uma comunidade rural, mais ainda quando se trata desde crianças a idosos. Existe um conjunto de efeitos em saúde física e mental. Se as pessoas não estão conseguindo dormir, desenvolvem transtornos como ansiedade e depressão, além do próprio cansaço e estresse. Também pode se levar à hipertensão e doenças associadas.

Além de tudo isso, que são doenças provocadas pelo ruído audível, tem o ruído inaudível, que são os infrassons, sons abaixo de 20 Hz que também provocam problemas no corpo e na saúde, tanto humana quanto animal e vegetal. É uma espécie de vibração que as torres provocam, muito comum em aeroportos, e que também têm efeitos como hipertensão arterial. Causam ainda problemas endócrinos, porque aumentam produção de colágeno e elastina, coisas já comprovadas. São essas as condições que criam a doença vibroacústica.

Já a síndrome da turbina eólica é causada tanto por infrassons quanto pelos sons audíveis. Fizemos um estudo em parceria com a Uncisal, de Alagoas, no qual se fez uma audiometria e um diagnóstico da situação local. Enviamos o diagnóstico para as empresas que exploram essa matriz energética na área e elas tratam como se ainda não fosse algo cientificamente certo. Mas são pesquisas qualitativas que relatam sinais e sintomas e sua correlação com as usinas eólicas.

Neste ano, começamos nova etapa da pesquisa, com exames para avaliar perda auditiva, já relatada por muitas pessoas nos 31 exames que já fizemos até hoje. Dessas 31 pessoas que participaram, 82% dos participantes relataram dificuldade na compreensão auditiva, e aí com os testes vimos que quase 80% apresentam a diminuição da acuidade auditiva em pelo menos um dos ouvidos.

Também iniciaremos testes relacionados à saúde bucal, porque aqui temos outro aspecto gerado pelo estresse e a perda do sono devido ao ruído, que é o bruxismo, uma disfunção da articulação temporomandibular, causa ranger e travar de dentes, com consequentes lesões cariosas e até quebra de alguns dentes. Por fim, as equipes de saúde mental estão iniciando um trabalho de pesquisa e mapeamento de condições relacionadas às turbinas eólicas.

O SUS se preparou para lidar com isso? Como é a absorção destas pessoas pelo sistema de saúde?

É complicado. Ao menos em Caetés tivemos apoio da secretaria de saúde para atuar no território, porém, em termos estruturais precisamos de mutirões para ter uma estrutura de atendimento, pois tivemos até de levar macas e montar consultórios na casa das pessoas. Mas falta um apoio efetivo de profissionais.

Todos esses mutirões aconteceram com ajuda de profissionais das universidades, parceiros, Médicos e Médicas Sem Fronteiras, Médicas(os) do MST, mas os profissionais da unidade de saúde que cobre esse território não participaram em nenhum momento, mesmo sendo convidados. A comunidade reclama muito da falta de assistência, inclusive a falta de medicações, a exemplo da alergia à agua que vêm relatando. Elas têm de pagar consultas em dermatologistas e comprar medicação por conta própria.

Vimos o caso de uma senhora que precisou fazer empréstimo no banco para poder se tratar dessa alergia, além da compra de ansiolíticos e remédios para dormir, que muitas vezes não tem na unidade de saúde. O SUS local não vem conseguindo olhar para a especificidade das comunidades.

E o que fazem as empresas que exploram o negócio da energia eólica? Tem alguma relação de assistência com as pessoas afetadas?

Elas têm estado presentes fazendo pesquisas. Já houve algumas reuniões em grupo e as pessoas relatam que não suportam mais a presença da empresa só para fazer levantamento, sem nenhuma atitude realmente relacionada ao que estão passando. As empresas até aparecem nos territórios, mas ainda não fizeram nenhuma ação concreta de mitigação dos efeitos das usinas eólicas.

Quais as soluções mais recomendáveis, de acordo com a percepção que vocês desenvolveram nos trabalhos de campo?

Uma das coisas importantes a ressalvar é que não somos contra a energia renovável nem eólica. Questionamos a forma como o Brasil implementa esse tipo de fonte de energia, prejudicial a uma parcela da população.

Uma das coisas que observamos a partir da pesquisa e do relato das pessoas é a distância de uma torre para uma residência e a comunidade, porque essas pessoas são camponesas, não vivem dentro de casa e saem para trabalhar; há todo um modo de vida delas naquele território. Portanto, deve se olhar a distância dos próprios roçados para as torres, é fundamental.

Nessa comunidade de Sobradinho, conseguimos mapear uma distância máxima de 900 metros, a mínima era de 100, só que aí, com muita luta, já conseguimos realocar as pessoas que estavam abaixo de 200 metros, a partir de denúncias ao Ministério Público. Um relatório da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) de Pernambuco afirma que as empresas deveriam resolver os problemas das pessoas que vivem a menos de um quilômetro das turbinas, porque todas estão sofrendo as consequências.

Sugerimos uma distância mínima de dois quilômetros, até porque já vimos na literatura que até 1,5 km há afetação por infrassons. Um outro ponto é a questão do Estudo de Impacto Ambiental – Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA), pois hoje não existe legislação no Brasil a obrigar um EIA-RIMA antes da implantação de um parque de usina eólica.

Por fim, é preciso ter diálogo, porque essas empresas chegam trazendo promessas de que as comunidades vão contribuir para o desenvolvimento do país, não tem impacto nenhum etc. Tal discurso é aceito, até pela falta de falta de conhecimento dos impactos dessas torres. Isso está acontecendo agora em vários outros municípios, a exemplo de Serra Talhada, onde as torres impactam comunidades.

O discurso da empresa é muito bonito, só fala em benefícios, mas ignora as dificuldades, o incômodo que essas torres vão causar. E os afetados reais não são ouvidos, e sim moradores de vizinhanças menos atingidas ou que recebem um dinheiro e saem do território, enquanto quem fica não chega a assinar acordo algum e não é ouvido. É necessário pensar estratégias para implantação de torres social e ambientalmente responsáveis.

E ainda assim, para além do debate de saúde, entrando até no debate socioeconômico, esses projetos de energia renovável estão reproduzindo os velhos projetos das tradicionais fontes de energia elétrica, porque geram grandes impactos no território, extraem uma grande riqueza econômica e financeira e no final tal riqueza passa muito longe daquela comunidade. A contrapartida é muito baixa.

São duas facetas de prejuízo econômico, portanto, uma vez que as atividades locais também são prejudicadas, além de vermos lucros totalmente privatizados que não se evidenciam em melhorias dos serviços públicos.

Como dito no início, todo esse trabalho começou em função do acompanhamento de empreendimentos locais de agroecologia. As torres acabam mudando todo o ecossistema da região, os agricultores relatam perdas de produtividade, a criação de animais também é prejudicada, porque os animais sofrem com o estresse do ruído… Eles dizem, por exemplo, que as galinhas colocam metade dos ovos de anteriormente e dificilmente um deles se torna um pintinho, é quase um milagre. Já existem repercussões evidentes no modo de vida e na renda das famílias que produzem perto de usinas eólicas.

Em suma, precisamos desmistificar a ideia de que fontes renováveis de energia não têm impacto ambiental. Quando o poder público tiver essa consciência começará a exigir estudos antes da implantação de tais empreendimento. Hoje, funcionam ao bel prazer das empresas, que negociam e impõem seus interesses em cima de desinformação dos afetados, com uma discrepância enorme de conhecimento entre as partes. O Estado precisa estar no meio e proteger seus habitantes.

Uma coisa que nos impressionou neste trabalho de campo é que no final de nossa pesquisa com os moradores, fazíamos a seguinte pergunta: “Qual o seu sonho?” A principal resposta era: “sair do território. Antes essa terra era meu sonho, mas não quero mais morar aqui, não consigo viver”.  

Foto: Arnaldo Sete / Marco Zero Conteúdo

Leia também: comunidades pobres sem energia elétrica https://lucianosiqueira.blogspot.com/search?q=e%C3%B3licas

Postei no X

Economista Samuel Pessoa escreve que "não existe complô da Faria Lima contra Lula". Ou seja — traduzo cá com meus botões —, o complô do sistema financeiro, na verdade é contra a nação e o povo! 

Leia: "Mergulhar fundo para avançar na superfície" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/meu-artigo-no-portal-da-fundacao.html  

Arte é vida: Henri Matisse

 

Henri Matisse




Postei no X

Donald Trump entrará para a História como o presidente dos Estados Unidos que mais ameaçou "Deus e o mundo" antes da posse para o segundo mandato. Espírito de superpotência decadente. 

Leia: O mundo cabe numa organização de base https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/minha-opiniao_18.html 

Minha opinião

Pressão permanente 
Luciano Siqueira 

Nos estertores do mandato do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — fidelíssimo agente do sistema financeiro privado—, o complexo midiático dominante não abre a guarda e já antecipa a pressão sobre o futuro presidente do banco, Gabriel Galípolo.

Hoje, em editorial, a Folha de S. Paulo afirma que sob nova guarda o banco central terá que carregar a política econômica. 

Diz que a autoridade monetária deve se manter a salvo de pressão política para conter o que chama de “descrédito da gestão petista do Orçamento”.

Ou seja, deve seguir a orientação do capital financeiro, que com o grande agronegócio exportador forma os pilares do poder real, via funcionamento da economia, que a classe dominante exerce, tentando impedir a todo custo que vingue o projeto de reconstrução nacional do governo Lula.

Adverte o jornal paulista que com três novos indicados pelo presidente da República para a diretoria do banco, muda a correlação de forças no Comitê de Política Monetária (Copom), que arbitra a taxa básica de juros. 

Nesse contexto, agem corretamente os que criticam partes substanciais do recente pacote econômico adotado pelo governo, nos aspectos que refletem claramente os interesses rentistas. 

E o pronunciamento oficial do PCdoB é politicamente justo ao elencar as críticas, porém sem ataques ao ministro Fernando Haddad. 

Haddad obviamente não deve ser o alvo da crítica popular e progressista, digamos assim. O alvo é o capital financeiro encalacrado na Faria Lima, este sim inimigo da nação e do povo. 

Leia sobre o pacote de medidas econômicas do governo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/palavra-do-pcdob_29.html 

02 dezembro 2024

Palavra de poeta: Chico de Assis

APAGÃO
Chico de Assis*


Viste o transe da criança
na guerra em preto-e-branco
que sabes também tua.

Sentes o renascer da esperança
mas a morte em tua mente
reclama direitos de antiguidade.

E no combate interno
a que te entregas
a luz soçobra
não sobra
nem salta no verso.

[Ilustração: Jacob Lawrense]

*Advogado, poeta

Leia: "Todo mundo vai ao circo" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/uma-cronica-de-abraham-sicsu.html 

"Periferia viva"

Lula anuncia maior pacote de políticas para periferias com seus 6,5 milhões de brasileiros
Com um investimento de mais de R$ 7 bilhões, o pacote integra ações de urbanização, prevenção de desastres, melhorias habitacionais e regularização fundiária.
Cezar Xavier/Vermelho 

Em um momento marcante para as políticas urbanas brasileiras, o Governo Federal, por meio do Ministério das Cidades, apresentou nesta quinta-feira (28) o Programa Periferia Viva, a maior iniciativa de inclusão e desenvolvimento voltada para as comunidades periféricas do país. Com um investimento de mais de R$ 7 bilhões, o pacote integra ações de urbanização, prevenção de desastres, melhorias habitacionais e regularização fundiária.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o programa, reafirmando o compromisso do governo com as áreas mais vulneráveis do país. Em discurso emocionado durante a cerimônia de lançamento, Lula chamou o evento de “o encontro dos invisíveis”, simbolizando o reconhecimento oficial das periferias brasileiras como protagonistas nas políticas públicas.

“Hoje, a periferia deste país se torna visível para o governo e para a sociedade”, afirmou o presidente, destacando a desigualdade histórica que impede muitos brasileiros de escolherem onde viver ou suas profissões. “Enquanto alguns podem decidir ser jornalistas, engenheiros, outros ficam com o que resta. A mesma lógica vale para as moradias: uns escolhem bairros e condomínios; outros são empurrados para as áreas mais precárias”, disse.

Um marco na gestão das periferias

A criação da inédita Secretaria Nacional de Periferias estabelece um novo paradigma na relação do Estado com as comunidades. “As periferias não são apenas áreas vulneráveis, mas territórios repletos de potência, inovação e resiliência,” afirmou o ministro das Cidades, Jader Filho, durante a cerimônia de lançamento no Palácio do Planalto.

O programa é uma articulação entre o Ministério das Cidades e outros 16 ministérios, com o objetivo de promover políticas públicas coordenadas para atender às necessidades das favelas e comunidades urbanas em todas as regiões do Brasil

Principais ações do Periferia Viva

  1. Urbanização de favelas: R$ 5,3 bilhões serão destinados à infraestrutura urbana, impactando 59 territórios periféricos em 48 municípios.
  2. Prevenção de desastres: Com um investimento de R$ 1,7 bilhão, 84 projetos para contenção de encostas e redução de riscos serão implementados em áreas vulneráveis.
  3. Regularização fundiária: Mais de 285 mil famílias serão beneficiadas com títulos de propriedade, proporcionando segurança jurídica e acesso a políticas públicas.
  4. Melhorias habitacionais: Milhares de residências receberão reformas estruturais, incluindo a construção de banheiros, promovendo condições dignas de moradia.

Mapeando e potencializando as periferias

Para garantir a eficácia das ações, o Ministério das Cidades lançou o Mapa das Periferias, uma plataforma que reúne dados oficiais sobre vulnerabilidades e potências dos territórios periféricos. Essa ferramenta inédita subsidiará políticas públicas mais assertivas e inclusivas.

Além disso, uma parceria com a ONU permitirá a criação de 120 planos municipais de redução de riscos, abordando problemas específicos de cada território.

Inclusão postal e digital

O programa também inclui o projeto CEP para Todos, que expandirá o endereçamento tradicional e implementará o CEP Digital, beneficiando comunidades periféricas e áreas remotas. Segundo o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, o CEP é mais que um código postal: “É uma chave para inclusão social e econômica, conectando brasileiros ao mercado digital e a serviços essenciais.”

Reconhecimento às iniciativas populares

Durante o evento, o Prêmio Periferia Viva reconheceu 178 iniciativas comunitárias que transformam as periferias brasileiras. Joyce Paixão, de Recife, destacou a importância do programa: “Este é um investimento público que reconhece nossa força e luta histórica. As periferias não precisam de assistencialismo, mas de oportunidades.”

Memórias e desafios sociais

Lula relembrou suas próprias experiências de vida, marcadas pela pobreza extrema, para contextualizar os desafios enfrentados pelas comunidades periféricas. O presidente contou que viveu, na infância, sem acesso a saneamento básico ou água encanada. “A nossa casa tinha 27 pessoas, sem banheiro, sem geladeira. A miséria era tanta que a gente resfriava cerveja num poço”, relatou, emocionando o público ao falar sobre a indignidade que ainda afeta milhões de brasileiros.

Dados citados pelo presidente reforçam a gravidade da situação: “Quatro milhões e meio de brasileiros não têm um banheiro. É inacreditável, algo que deveria ser básico para garantir a cidadania”.

Habitação digna e infraestrutura como prioridades

Entre os eixos do programa, Lula destacou a necessidade de evitar erros históricos na construção de habitações populares. Ele foi categórico ao afirmar que não apoiará projetos que careçam de infraestrutura básica, como escolas, creches e áreas de lazer. “Se a gente entregar conjuntos habitacionais sem essas condições, estaremos criando um espaço para o narcotráfico, e não para a cidadania”, afirmou.

O presidente também mencionou sua luta para transformar um terreno na Vila Carioca, em São Paulo, em um centro de lazer para a comunidade local. “Há 10 anos tento resolver isso, mas está parado na Justiça. Enquanto isso, onde poderíamos ter crianças brincando, temos apenas papéis sendo guardados”, lamentou.

Reformas e inclusão econômica

Outro ponto central do discurso foi a política econômica do governo, que busca equilibrar a responsabilidade fiscal com a inclusão social. Lula destacou o aumento da faixa de isenção do imposto de renda para pessoas que ganham até R$ 5 mil e reafirmou o compromisso de taxar grandes fortunas de forma justa.

“Ninguém tem direito de receber o que não lhe cabe, mas também ninguém deve ser esquecido. Estamos moralizando o sistema para que o dinheiro público chegue a quem mais precisa”, explicou.

Democracia e convivência pacífica

Ao encerrar sua fala, o presidente destacou que as transformações sociais dependem da democracia e da participação popular. “A democracia é como uma família: exige concessões diárias, diálogo e respeito. Sem isso, nada funciona. Queremos um país onde torcer para times diferentes ou professar religiões distintas não seja motivo de divisão, mas de convivência pacífica.”

O programa “Periferias Vivas” representa, segundo Lula, um marco na construção de uma sociedade mais justa e fraterna. “Vocês não serão mais invisíveis. O governo está enxergando vocês, e as mudanças estão apenas começando”, concluiu o presidente, sendo aplaudido de pé pelos presentes.

Leia sobre o pacote de medidas econômicas do governo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/palavra-do-pcdob_29.html 

Humor de resistência: Aroeira

 

Aroeira

Leia sobre contradições do bolsonarismo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/02/palavra-de-walter-sorrentino.html

Emprego cresce

Desemprego cai para 6,2% no trimestre, menor nível da série histórica
País tinha 6,8 milhões de desempregados no período, retração de 8% na comparação trimestral, revelam dados da Pnad Contínua; renda média dos trabalhadores subiu 0,8%
Lucas Toth/Vermelho    

A taxa de desemprego no Brasil caiu para 6,2% no trimestre terminado em outubro, aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada nesta sexta (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

É a menor taxa de desocupação de toda a série histórica da PNAD Contínua, iniciada em 2012. Antes disso, o percentual mais baixo de desempregados no país havia sido registrado em dezembro de 2013 (6,3%).

O dado é publicado em meio a grita do mercado financeiro contra o pacote fiscal apresentado pela equipe econômica do governo Lula. Especulação dos agentes da Faria Lima fizeram o dólar disparar a R$6.

No trimestre encerrado em outubro, o país tinha 6,8 milhões de desempregados — pessoas de 14 anos ou mais que buscaram emprego, mas não conseguiram encontrar. O número aponta retração de 8% frente ao trimestre anterior, encerrado em julho (menos 591 mil pessoas) e queda de 17,2% frente a igual período de 2023 (menos 1,4 milhão de pessoas).

Entre agosto e outubro, a população ocupada (empregados, empregadores, funcionários públicos) era de 103,6 milhões de pessoas, novo recorde da série histórica e avanço de 1,5% em relação ao trimestre anterior (mais 1,6 milhão de pessoas ocupadas). Frente a igual trimestre de 2023, subiu 3,4% (mais 3,4 milhões de pessoas).

Caiu também o número de pessoas desalentadas (aquelas que desistem de procurar um emprego por razões como falta de experiência ou qualificação, por ser muito jovem ou por ser muito idoso): são 3 milhões.

Em mais um índice positivo para o governo do presidente Lula, a renda média dos trabalhadores subiu 0,8% no trimestre encerrado em outubro, para R$ 3.255, segundo a Pnad Contínua. A diferença é de R$25 a mais. O rendimento médio real habitual dos trabalhadores considera a soma de todos os trabalhos.

Leia sobre a degradação do trabalho no Brasil https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/08/degradacao-do-trabalho.html

Minha opinião

Salve-se quem puder! 
Luciano Siqueira   

Parece ser essa a palavra de ordem nas hostes bolsonaristas desde que veio a público a peça da Polícia Federal que inicia o ex-presidente e mais 33 auxiliares seus, quase todos militares de altas patentes. 

O comportamento do ex-presidente sinaliza nessa direção, na medida em que troca a negação da trama golpista pela tentativa de colocá-la exclusivamente na mão dos que foram surpreendidos por registros de suas tresloucadas ações, até às ridicularizando. 

Aconteceram articulações golpistas sim, mas o então presidente não teria tido participação ativa — segundo a versão que tentou passar nas últimas entrevistas.

Para quem está no fundo do poço, ameaçado de inanição, difícil encontrar o caminho por onde possa escapar. Bolsonaro tenta achá-lo cuidando de si mesmo e deixando a sua turma à própria sorte.

Manobra arriscada. Tal como aconteceu com o ex-ajudante de ordens tenente coronel Mauro Cid, outros personagens poderão recorrer à delação premiada. 
A situação do ex-presidente pode piorar mais ainda. 

Nem sempre o fracasso combina com o bom senso. Muito menos com a dignidade, quando se trata do intuito de ferir de morte a ordem democrática. 

Certamente ao se olhar ao espelho, Jair Bolsonaro já não vê aquele semblante arrogante e provocador de antes. Hoje se depara com as marcas do desespero.

[Ilustração: Aroeira]

Leia: Bolsonaro fora das quatro linhas https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/12/minha-opiniao.html 

Arte é vida: Aldo Bonadei

 

Aldo Bonadei

Palavra de poeta: Cida Pedrosa

retalhos
Cida Pedrosa    

vi escapar pela língua 
a felicidade que falava 
atrás da porta. 
é hora de rever
este amor e
buscar no baú minhas histórias.
reunir carícias
reduzir desejos.
é melhor guardar o amor 
na colcha 
na concha 
no colchão 
para que permaneça 
sem cheiro de solidão.

[Ilustração: Marc Chagall]

01 dezembro 2024

Uma crônica de Ruy Castro

Isso Tudo Que Aí Está
É o nome verdadeiro do político sob os pseudônimos 'Jânio Quadros', 'Fernando Collor' e 'Bolsonaro'
Ruy Castro/Folha de S. Paulo   

Não é de hoje. Rara a eleição nos últimos 70 anos, no Brasil, em que o vencedor à Presidência não foi um candidato que, sob qualquer nome, interpreta uma figura chamada Isso Tudo Que Aí Está. O padrão é invariável. Isso Tudo Que Aí Está é um sujeito desconhecido, carismático, que surge de repente. Concorre por um partido nanico, mas este é acoplado por outro maior, notório perdedor, que não se envergonha de virar rabo de cometa. Não se sabe o que Isso Tudo Que Aí Está defende ou qual é sua plataforma. Só se sabe que ele é contra "isso tudo que aí está".

No começo, ninguém o leva a sério. Mas Isso Tudo Que Aí Está parece falar aos baixos instintos de grande parte do povo, porque, de surpresa, atropela na reta final e é eleito. Votar em Isso Tudo Que Aí Está é um voto de protesto cego e surdo. Seus eleitores só se esquecem de que um ato infantil de revolta, que leva quatro segundos na urna, pode custar quatro anos ao país.

O primeiro Isso Tudo Que Aí Está, vitorioso em 1960, usou o pseudônimo "Jânio Quadros". A caspa na lapela, o bigode à Groucho Marx e o discurso ébrio e contundente embriagaram o país. Venceu de goleada, mas, incapaz de governar na democracia, apostou tudo numa renúncia que não era para valer e que, para surpresa dele, ficou sendo. O segundo Isso Tudo Que Aí Está, em 1989, foi "Fernando Collor", um manequim de vitrine dado a governar a bordo de um jet-ski. Também não queria saber de conversa e, para acabar com a inflação, bateu a carteira do país ao sequestrar a poupança. E, finalmente, em 2018, Isso Tudo Que Aí Está apresentou-se como "Jair Bolsonaro", com seu golpismo matuto, patranha religiosa e amor ao ódio.

Em comum entre eles, o discurso antipolítica, antissistema e anticorrupção —que funciona até o eleitor descobrir que eles também são políticos, pertencem ao mesmo sistema e exercem seu tipo próprio de corrupção. Isso Tudo Que Aí Está pode renunciar, ser impichado e até ser preso, mas nunca nos livraremos dele.

Ele está dentro de cada eleitor indiferente à democracia e aprisionado em suas perigosas mesquinharias pessoais.

[Foto: Pedro Ladeira/Folhapress]

Leia: outro golpe militar? https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/golpe-frustrado.html 

Humor de resistência: Céllus

 

Céllus

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Rede Carrefour multada pelo Ibama em R$ 12,5 milhões por vazamento de diesel no mar de Santos. Tempo ruim para o poderoso grupo francês.

Leia: O mundo cabe numa organização de base https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/minha-opiniao_18.html 

Minha opinião

Absolutamente fora das linhas
Luciano Siqueira  

O ex-presidente Jair Bolsonaro criou um bordão para justificar (sic) seus repetidos ataques ao sistema democrático — "dentro das quatro linhas da Constituição" —, que agora, mergulhado até o pescoço no imenso poço de lama por ele mesmo criado, segue repetindo. 

Porém para onde se olha no relatório das investigações apresentado pela Polícia Federal o indiciando e a mais de 30 asseclas, vê-se que a ilegalidade ou a intenção de rompê-la sempre esteve na base da conspiração golpista.

Uma peça chave seria a justificativa de que o sistema eleitoral de urnas eletrônicas não era confiável e até se poderia indicar os mecanismos de hipotéticas fraudes. 

Agora ficou claro, segundo ligações telefônicas interceptadas cujo conteúdo a Polícia Federal registrou devidamente, que o tal Instituto Voto Legal, contratado pelo PL (partido do então presidente da República) para uma auditoria rigorosa no sistema, constatara exatamente o contrário do que pretendia: sem risco de fraude! 

Entretanto no relatório que produziu afirmou que havia sim risco, conforme a encomenda. 

Criminoso e absurdamente ridículo!

[Ilustração: Charge de Leandro Assis e Triscila Oliveira/FSP]

Leia sobre uma face da trama golpista: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/uma-face-da-trama-golpista.html

Sylvio: quem governa?

O Mercado, ser invisível e muito atuante, é um ferrenho defensor dos interesses dos mais ricos e dos especuladores. Assim, sempre reage negativamente quando o governo tenta diminuir a enorme concentração de renda no País, adotando medidas que favorecem as camadas de população mais pobres, em detrimento de seus componentes. Mas é preciso lembrar que não é ele, Mercado, que governa o Brasil, mas um presidente eleito democraticamente pela vontade da maioria.

Sylvio Belém  

Aconteceu com o Botafogo

Botafogo foi heroico e brilhante
Equipe alvinegra une força física e velocidade com talento individual
Tostão/Folha de S. Paulo   

Botafogo é campeão pela primeira vez da Libertadores. Mesmo com 10 jogadores desde o primeiro minuto de jogo, conseguiu fazer dois gols. Artur Jorge foi brilhante, o craque da partida.

Como o Atlético-MG só ataca pelos lados, cruzando bolas na área, o técnico reforçou a marcação pelos lados e o Galo, sem nenhuma criatividade no meio-campo, só criou chances de gols com bolas altas na área. Assim fez o gol no segundo tempo, porém foi insuficiente. 

Muitos vão dizer que o técnico Artur Jorge fez o óbvio. Poucos fazem o óbvio.

John Textor, dono da SAF do Botafogo, disse antes do jogo que o time chegou a uma final da Libertadores antes do previsto. É o campeão com grandes chances de vencer também o Brasileirão. A equipe venceu também a desconfiança de que não suportaria a pressão psicológica por ter perdido o campeonato no ano passado quando tinha uma grande vantagem. Essas coisas só acontecem com o Botafogo.

No futebol e em todos os esportes de alta competitividade estão sempre presentes o medo dos atletas de não serem capazes e de perderem o jogo, ainda mais uma decisão. Os grandes times e atletas campeões são os que conseguem vencer essas dificuldades. Não são os que dizem estar tranquilos e que não sentem a pressão emocional. 

O Botafogo parece com o Liverpool na maneira de jogar. Sem comparar a qualidade, os dois times são compactos, intensos, marcam e defendem em bloco, recuperam rapidamente a bola e unem a força física e a velocidade com o talento individual.

O Manchester City e o Real Madrid, que dominaram o futebol mundial nos últimos anos, passam por maus momentos. Diferentemente do Liverpool e do Botafogo, os dois times priorizam a posse de bola e a troca de passes até chegarem ao gol. Há vários jogadores contundidos nas duas equipes. Faltam os dois grandes meio-campistas: Rodri, que há muito tempo não joga, e Kross, que parou de jogar.

Os ótimos times atacam e defendem bem. Cruzeiro, Bahia e Grêmio trocam muitos passes, avançam com muitos jogadores, mas deixam muitos espaços na defesa. O Bahia, quase sempre, cria inúmeras chances de gols e com frequência perde, por causa dos erros de finalização e da fragilidade defensiva.

O futebol possui também lógica. Em um campeonato longo e por pontos corridos, como o Brasileirão, no final prevalecem os times com melhores elencos, com raras surpresas.

O Fortaleza, que não tem jogadores com o mesmo prestígio dos de outras grandes equipes, está entre os primeiros colocados porque se prepara há tempos para isso. O Fluminense, que luta para não ser rebaixado, não suportou a glória e a pressão do título da Libertadores.

Nesta reta final de decisões, espero que os vencedores e os perdedores não criem tumultos. É preciso saber ganhar e perder.

O Atlético-MG lutou bravamente. Após a eliminação da seleção brasileira na primeira fase da Copa de 1966, depois de ser bicampeão em 1958 e 1962, o poeta maior Carlos Drummond de Andrade, escreveu uma poesia para os atletas brasileiros: "Depois da hora radiosa/ a hora dura do esporte,/ sem a qual não há prêmio que conforte,/ pois perder é tocar alguma coisa/ mais além da vitória, é encontrar-se/ naquele ponto onde começa tudo/ a nascer do perdido, lentamente".

Leia sobre as fragilidades do futebol brasileiro https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/02/futebol-brasileiro-impasses.html