Trump, a quem a extrema-direita brasileira é servil, é o rosto do declínio dos Estados Unidos
Trump é, efetivamente, uma grave ameaça à soberania dos países e à paz mundial.
Editorial do 'Vermelho'
Entre as chantagens e ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a que mais causou impacto mundial foi a defesa da entrega por Israel da Faixa Gaza ao seu governo para a construção de “empreendimentos” após retirada total dos palestinos do local, uma proposta colonial e genocida. Com essa atitude, ele conseguiu a proeza de isolar seu país, provocando uma reação global. Rússia, China, Austrália e a maioria dos 27 Estados-membros da União Europeia e países do Oriente Médio, como Arábia Saudita, protestaram com veemência.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse que a proposta de Trump, com apoio do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afronta o direito internacional. Equivale a uma “limpeza étnica”. O presidente palestino, Mahmoud Abbas, apelou às Nações Unidas para que “proteja o povo palestino e seus direitos inalienáveis” contra uma “grave violação do direito internacional”.
Outras propostas de Trump também expõem a essência da política e da ideologia da extrema-direita, como os ataques à ONU e a outros organismos multilaterais, atitude que pode ser classificada como gangsterismo de Estado, a face colonial e imperialista da política trumpista de fazer ameaças e chantagens, utilizando o poderio econômico e bélico dos Estados Unidos para pisotear soberanias de outros países e impor saques e arrancar vantagens. Entra nessa conta o envio, pelos governos do México e do Canadá, de dez mil soldados para a fronteira com os Estados Unidos como parte do acordo para a suspensão, por um mês, da imposição de tarifas de 25% sobre produtos importados daqueles países. Deu um ultimato ao Panamá que resultou na saída deste país da Iniciativa Cinturão e Rota liderada pela China.
A política externa de Trump tem efeitos internos, contribuindo para elevar as tensões nos próprios Estados Unidos. Durante a campanha, ele falou de “inimigos internos” e ameaçou ordenar que o Departamento de Justiça instaurasse processos contra o ex-presidente democrata Joe Biden e outras pessoas que, segundo ele, são contra a sua agenda. Também afirmou que usaria a Lei de Sedição, criada em 1918 contra “inimigos internos”, para acionar as forças armadas e a guarda nacional em caso de protestos.
Outras medidas autoritárias, como redução de funcionários públicos federais, perseguição aos imigrantes e, sobretudo, o decreto que acaba com a emissão da cidadania por nascimento de filhos de imigrantes, são fatores que fazem ferver o caldeirão de contradições com potencial para conflitos internos. Há ainda a elevação do custo da força de trabalho, pela perseguição aos imigrantes, e taxação de produtos importados, com impacto na produção, com consequências à política de juros do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, para controlar a inflação.
São ações que se inserem na dinâmica de declínio do imperialismo estadunidense. Com Trump, essa tendência, em vez de ser revertida, tende a se acentuar. Sua política leva os Estados Unidos a perderem autoridade no mundo. Com seu vozerio de extrema-direita, esbofeteia aliados, humilha pequenos países, confronta potências, comportando-se como imperador da Terra, gerando desgastes e conflitos, uma escalada que pode evoluir para antagonismo geopolítico. Principalmente com a ofensiva contra a China, que eleva a sua autoridade, adquirindo notoriedade e respeito com sua política de respeitar a autodeterminação dos povos e empreender acordos que resultem em benefícios mútuos.
Trump é o rosto do declínio dos Estados Unidos. Ele chegou ao poder exatamente pela exacerbação da crise do capitalismo, que tem naquele país o seu coração. É uma tentativa de reversão do declínio pelo extremismo de direita. Enquanto a China, mesmo para parcela da grande imprensa, diante da violência e da anarquia trumpista, passa a ser denominada “o adulto na sala.”
No Brasil, a repercussão das ações de Trump demarcaram bem os campos. O presidente Luiz Inacio Lula da Silva fez críticas enfáticas à proposta sobre a Faixa de Gaza e às falas do Trump, que “faz questão de dizer uma anomalia todo dia”. “Um dia ele quer ocupar o canal do Panamá, outro dia quer anexar a Groenlândia ou o Canadá. Depois, trata o povo palestino como se não fosse ninguém”, afirmou. “Ele tem meu respeito para governar os Estados Unidos. Mas ele não foi eleito para governar o mundo.”
No campo da extrema-direita e seus aliados não faltaram elogios aos arroubos trumpistas. O próprio Jair Bolsonaro afirmou que, se voltar a governar o Brasil, seguirá os passos de Trump e retirará o país de diversos organismos internacionais. Foi além. Afirmou que daria permissão para os Estados Unidos instalarem uma base militar da Tríplice Fronteira e que sairia dos BRICS. Fica bem demonstrado, mais uma vez, que o verde amarelo da extrema direita brasileira é uma grande farsa, posto que são servis aos Estados Unidos.
Trump utiliza a retórica tresloucada como arma, a bravata como método, e tem o estratagema de impor os interesses dos Estados Unidos pelo medo. Todavia, reduzi-lo a isso seria um grande erro. É, efetivamente, uma grave ameaça à soberania dos países e à paz mundial. Por isso, a reação de dezenas de lideranças de países, a exemplo do presidente Lula, para repelir o imperialismo estadunidense sob o comando de Trump se realça de grande importância. Se ergueu a primeira barreira. Mas será preciso mais.
Leia: Trump e a arrogância fora de hora https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/minha-opiniao_6.html
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