Com Lula, PIB
chega a crescer 4 vezes acima das previsões do mercado
Por incompetência ou
má-fé, o mercado paga para ver a própria desmoralização
André Cintra/Vermelho
O Brasil pode não ser para iniciantes, mas as previsões do mercado sobre
a nossa economia parecem, sim, exercícios a cargo de novatos. Com um histórico
de erros a granel, os “especialistas” da área se assemelham ao personagem da
música de Raul Seixas que dizia ser “os olhos do cego e a cegueira da visão”.
Em janeiro, uma reportagem da jornalista Lílian Cunha para o UOL confrontou
tais projeções aos dados oficiais no período de 2021 a 2024. O levantamento
levou em conta cinco indicadores: Bolsa de Valores (Ibovespa), taxa básica de
juros (Selic), crescimento econômico (PIB), dólar e inflação (IPCA).
Para saber o que o mercado agourava ano a ano, Lílian consultou edições
do Boletim Focus – o informe do Banco Central (BC) baseado nos
prognósticos semanais de mais de cem economistas ligados a instituições
financeiras. O resultado: nada menos que 95% dos palpites dos analistas se
revelaram equivocados.
O mercado errou ao longo do governo Jair Bolsonaro (PL) e continua a
errar durante a gestão Lula (PT). A chuva de enganos foi universal e ilimitada,
mas, a fim de contemporizar o vexame, Claudia Moreno, do C6 Bank, disse que o
importante não é acertar o número, mas, sim, a “direção”. Ao UOL, a
especialista declarou: “Quanto antes você conseguir prever essa direção, mais o
investidor tem tempo de se preparar e ganhar dinheiro”.
É como se Claudia aplicasse o conceito de “margem de erro” aos
vaticínios do mercado. Mas que margem! A tese faria sentido se o conceito de
“direção” fosse mais preciso – e se alguns erros pudessem ser relativizados à
luz de tamanha flexibilidade estatística.
Não é o que ocorre, porém, com as adivinhações do mercado em relação ao
PIB (Produto Interno Bruto) sob o governo Lula. A discrepância é tão grande que
carece de explicações menos simplórias do que as de Claudia Moreno.
Quando Lula assumiu seu terceiro mandato presidencial, homens e mulheres
do mercado eram só pessimismo. No primeiro Boletim Focus após
a posse, publicado em 6 de janeiro de 2023, os analistas prenunciavam uma nação
estagnada – a projeção média era de um “pibinho” de 0,78%. Alguns agentes
citavam até o risco de recessão.
Doze meses depois, a economia não havia estagnado, nem tampouco
decrescido. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a
expansão do PIB em 2023 foi de 3,2% – quatro vezes acima da estimativa do
mercado.
Sobreveio o segundo ano de Lula 3 – e o bota-abaixo do mercado
persistiu. De acordo com o BC, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br),
considerado a “prévia do PIB”, foi de 3,8% em 2024. A taxa oficial será
divulgada no próximo dia 7 de março.
Já é certo, porém, que a “bola de cristal” do mercado voltou a quebrar.
O Boletim Focus de 5 de janeiro de 2024 antevia um crescimento
de apenas 1,52%. A “direção” estava um pouco mais alinhada, mas, desta vez, a
realidade ficou 2,5 vezes superior à profecia.
Por incompetência ou má-fé, o mercado paga para ver a própria
desmoralização. Não há razoabilidade nenhuma em minimizar o disparate e dizer
que analistas ao menos acertaram a “direção”. Ao contrário: uma visão turva
dessas proporções prejudica não apenas os investidores – mas toda a população.
É fato que, para azar do Brasil e dos brasileiros, os investimentos
externos ficam em xeque se o catastrofismo prevalece no discurso, com ou sem
fatos que o sustentem. Mas o alcance das vozes do mercado impacta de várias
outras maneiras os rumos de uma economia.
Autoridade monetária do País, o Banco Central se afiança sobretudo na
“percepção” do mercado para impor sua política ultraliberal, mantendo o Brasil
há anos entre as economias de maior taxa real de juros. Com um BC
“independente” e com analistas doentiamente hostis a governos progressistas, a
fórmula é explosiva.
Uma instituição pública e um conglomerado privado se unem em torno de
interesses nada louváveis. Ainda que erros de projeções tenham virado a regra
desse jogo sinistro, as pressões por ajustes fiscais e corte de gastos sociais,
reverberadas integralmente pela grande mídia, ganham ares de verdade absoluta.
Está dada a senha para todo tipo de chantagem contra Lula e seu governo.
A boa notícia é que, em 2025, a aposta inicial do mercado para o salto
do PIB brasileiro está menos conservadora. No Boletim Focus que
abriu este ano, em 3 de janeiro, analistas desenhavam um crescimento de 2,02%.
A prosseguir o histórico de erros desses experts, dá para cravar
que dias melhores virão.
Ouça e veja: Governo
Lula, crescimento sem popularidade https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/governo-lula-crescimento-sem.html
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