28 fevereiro 2025

Enio Lins opina

Mortos muito vivos que teimam em sair das suas catacumbas
Enio Lins  

E A ALEMANHA, HEIN, GENTE? Lá a democracia engatou uma marcha-à-ré daquelas barulhentas, embora ainda não tenha retrocedido de forma irreversível (para o bem do mundo). O crescimento da extrema-direita alemã, lança sombras da cruz gamada sobre a nação-epicentro de duas grandes guerras mundiais.

SOBRE AS ELEIÇÕES ALEMÃS 2025, o site NexoJornal.com.br cravou no dia 23: “A maior vitória da extrema direita alemã desde o nazismo”, complementando: “A AfD (Alternativa para Alemanha) fez história ao conquistar 20,8% dos votos nas eleições legislativas (..). A legenda é, agora, a segunda maior força do Bundestag, o Parlamento alemão. Ela ficou atrás apenas da aliança democrata-cristã de centro-direita CDU/CSU, liderada por Friedrich Merz, que obteve 28,5% dos votos. O partido de centro-esquerda SPD, de Olaf Scholz, atual chanceler, ficou em terceiro, com 16,4%”. E faz uma ressalva importante: “Apesar de ter dobrado seu apoio e aumentado sua força no Parlamento, é pouco provável, a princípio, qu e o partido de extrema direita integre a coalizão do novo governo alemão”.

ENSINA A HISTÓRIA GERMÂNICA que, na década de 30, a extrema-direita chegou ao poder aos pulos, em eleições sucessivas a partir de uma posição eleitoral aparentemente insignificante. Em 1928, o Partido Nazista saiu das urnas com míseros 2,6% dos votos, ficando com 12 cadeiras no Reichstag. Dois anos depois, saltou para 18,3%, ocupando 107 vagas. Em 1932, os nazis lamberam 37,3% do eleitorado e se aboletaram em 230 poltronas. Em 1933 Adolf Hitler foi nomeado Chanceler do Reich, e o resto dessa tragédia todo mundo sabe, ou deveria saber.

FRENTE AMPLA SEGUE como tática legítima e eficiente no mundo onde exista a disputa eleitoral aberta, aí inclusa a Alemanha velha de guerra. Até nos Estados Unidos e seu obtuso bipartidarismo (deformação própria dos ianques), uma composição de forças mais ampliada poderia, talvez, ter derrotado a extrema-estupidez representada por Trump nas recentes eleições. Identificar a força mais perigosa, mais deletéria, e unir correntes de pensamento divergentes para eliminar esse perigo é o bê-á-bá da política. Nas eleições germânicas deste ano, além das três siglas mais votadas, os resultados indicaram: Verdes (Aliança 90/Os Verdes), com 14%; FDP (Partido Democrático Liberal), com 11,2%; Esquerda (Die Linke), com 5,6%; outros partidos, 3,5%. É possível, tranquilamente, peitar os neo nazistas do AfD. Basta ter firmeza na formação de frentes, mas...

MAS O PROBLEMA É MAIS PROFUNDO e, no longo prazo, não poderá ser equacionado sem respostas eficientes (dadas pelas forças democráticas e de esquerda na condução do país). Uma composição de partidos que isole a extrema-direita neonazista não é coisa difícil de construir na atual conjuntura, sim. Porém o nó é a formulação de propostas capazes de atender às demandas da maioria do povo (da Alemanha e de qualquer país) quando a crise econômica bate à porta e o perfil social dessa população é de racismo e conflitos explosivos. No atual cenário alemão, o refluxo econômico atordoa com lembranças penosas do desastre pós-Primeira Guerra, enquanto os migrantes voltam a ser vistos como estorvos raciais a serem removidos, assim como foram enxergados os judeus naquele per íodo. Nesse mar revolto, a extrema-direita nada como um cação – e precisa ser retirada da água antes de se transformar num tubarão.

ALICE WEIDEL É A FÜHRERIN da AfD (Alternativa para Alemanha). Destaca a BBC que “Nos seus comícios, a líder é recebida com cartazes que dizem ‘Alice für Deutschland’ — que é muito semelhante ao slogan da Alemanha nazista ‘Alles für Deutschland’ (Todos Pela Alemanha)”. Slogan esclarecedor. Não precisa dizer mais nada sobre essa turma.

Leia: Cantilena neofascista sub judice https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/minha-opiniao_23.html 

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