Trump trombeteia ameaças tributárias contra o resto do mundo. E daí?
Enio Lins
NO DOMINGO, 9, a revista The Economist publicou reportagem sobre as diatribes do novo velho presidente dos Estados Unidos, numa manchete incontestável: “Donald Trump ainda pode explodir o comércio global”. Nas primeiras linhas do texto, a publicação londrina (diária na Internet e hebdomadária como impresso) já acerta no queixo do espalhafatoso inquilino da Casa Branca: “Se fazer negociação significa ameaçar uma catástrofe para obter pequenos ganhos, então Donald Trump é o mestre dessa arte”.
DONALD VÊ UM PATO em quem negocia com ele. Berra, ameaça, bravateia, mente, buscando intimidar o interlocutor e bater-lhe a carteira sem que a vítima esboce reação. O filho bilionário da imigrante escocesa Mary Anne MacLeod (1912/2000) resumiu o que seria a receita dele para ganhar as paradas no grito, num livro publicado em 1987, onde lista sete mutretas básicas para meter a mão no bolso alheio com sucesso. Urrar e exibir força bruta é o primeiro mandamento trumpista (e o segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto e sétimo) sendo que ele sempre pode atirar. Ou enfiar a arma no coldre e marchar à ré. Para seus alvos, a primeira atitude é não se deixar impressionar. Qualquer assaltante usa como princípio o medo do assaltado, mas se o meliante pressentir perigo, corre.GUERRA COMERCIAL não é coisa simples, especialmente num mundo altamente globalizado e interdependente. No caso das anunciadas ações tributárias estadunidenses, as respostas são múltiplas e viáveis para boa parte das nações com as quais o Tio Sam vende e compra produtos. O revide depende de cada caso, e nem sempre retaliar de volta é o melhor. Para o Canadá e a China, pode ser que sim. Para o México e o Brasil, pode ser que não. Cada país coagido precisa observar política e financeiramente sua realidade econômica. Trump vai sobretaxar o aço e o alumínio brasileiro em 25%? Qual o resultado disso nos mercados de lá e de cá? Teria algum país (alô China, alô Índia...) que queira comprar esses produtos? As mentes capitalistas brasileiras não teriam alguma boa ideia para usar aqui mesmo esse e xcedente não-exportado de aço e alumínio?
LEMBRAM-SE DO CAFÉ que virou cinzas? Relata-nos o site valorcafe.com.br: “Entre 1931 e 1944, o Brasil queimou 78,2 milhões de sacas de café. Isso é uma quantidade impressionante que levaria quase 4 anos para os brasileiros consumirem nos dias de hoje”. Qual o motivo de tão medonho instinto incendiário? Simples: Interferir no mercado internacional cafeeiro para forçar o subimento do preço do produto, aviltado por uma superprodução mundial. Ah... e porque os capitalistas cafeicultores brasileiros não distribuíram, durante quatro ou cinco anos, essa montanha de café para o povo? Ô Pedro Bó, como diria Pantaleão (personagem de Chico Anísio), isso levaria a abaixo de zero o preço do cafezinho, e o lucro é a alma do negócio. E o capitalismo não é bonzinho nem aqui, nem na China, muito menos nos Estados Uni dos. Mas aço, ferro, alumínio, urânio, ouro, nióbio, ninguém vai tocar fogo nem se estragam quando estocados.
INSISTINDO NA PERGUNTA que não quer calar: Vamos retaliar de volta os Estados Unidos, aumentando os impostos aplicados sobre os produtos comprados de lá? Depende do produto importado. Sobretaxar ode ser negócio bom ou ruim para o Brasil. Varia de caso a caso, e cada coisinha trazida pra cá made in usa precisa ser avaliada individualmente. De minha parte, se alguma reação tributária for necessária, torço para decuplicar o tributo cobrado para armas e munições de uso privado, aumentar com gosto os veículos (e reduzir as taxas para similares fabricados na Europa e na Ásia) e coisas do tipo. Mas o mais prudente mesmo talvez seja esperar Trump explodir o comércio global, como avisou The Economist. Quem tem mais a perder - no médio prazo - é ele, o galeguinho dozóio azul.
Leia também: Principais economias intensificam medidas para o plano tarifário de Trump https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/resistencia-politica-tarifaria-de-trump.html
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