Correntes, algemas, eugenia, supremacismo: a velha
cara da nova América
Enio Lins
NÃO É NOVO O DRAMA da imigração nos Estados Unidos, afinal aquele país foi criado e tornou-se uma potência graças a sua capacidade permanente de atrair (e trair) migrantes de todas as partes do mundo. O próprio Donald Trump é filho e neto de estrangeiros cujos processos de assentamento em território americano são inferiores a duas gerações. A mãe, Mary Anne MacLeod, era escocesa, e o pai, Frederick Christ Trump, nascido em Nova York, era filho de um casal de alemães, Elizabeth Christ e Frederick Trump. A questão da legalidade do migrante é um agravante, sim, mas está longe de ser o centro do problema. O grave é que a atual cruzada contra imigrantes radicaliza motivações racistas, econômicas, diversionistas e demagógicas.
SE ESTIMA QUE 11 MILHÕES de imigrantes ilegais vivam atualmente em território
dos EUA, e destes, cerca de 230 seriam brasileiros, segundo o Pew Research
Center, citado em reportagem de Luiza Palermo, publicada pelo Valor Econômico,
em 29 de janeiro. A matéria destaca: “Trump critica frequentemente o governo de
Joe Biden por ter sido ‘fraco na fronteira’ e por ter reduzido o ritmo das
deportações. No entanto, Biden realizou aproximadamente 4,7 milhões de
repatriações — um número superior ao registrado tanto nos mandatos de Trump quanto
de Obama”. Ressalta ainda: “De acordo com dados da Polícia Federal, os EUA
deportaram mais de 7 mil brasileiros desde o ano de 2020. O maior número foi
registrado em 2021, no primeiro ano do governo Biden, quando cerca de 2,1 mil
brasileiros foram deportados”. Ou seja, mesmo que ao fim e ao cabo deste seu
mandato Trump tenha expulsado mais gente que seus antecessores do Partido
Democrata, a política americana é a mesma em relação aos imigrantes; o que muda
e a retórica demagógica, espalhafatosa – e diversionista, chamando a atenção do
público para desviar o olhar de outros malfeitos – do atual presidente.
MAS É UM PERIGO REAL a retórica de ódio e desumanidade adotada por Trump e
seus áulicos. A tônica dos discursos dos líderes do atual governo ianque trilha
os descaminhos do supremacismo, do autoritarismo, do desrespeito aos direitos
humanos. Propagam o culto do “lucro máximo acima de tudo e os ricos americanos
acima de todos” somando isso ao velho mito da “raça superior”. Sobra uma pesada
conta para milhões de viventes (migrantes ou não) considerados pela eugenismo
americano como etnicamente inferiores. Paga essa massa trabalhadora
discriminada pelo rancor dos que veem os Estados Unidos “poluídos” por tons de
pele “colored”. Pagam por ocuparem postos de trabalho antes considerados
impróprios para “gente branca”. Ocupações essas, há anos, alvo do interesse dos
WASP (White Anglo-Saxon Protestant) que, desempregados, almejam as vagas dos cucarachos na
limpeza de pratos e banheiros.
É CENA TÍPICA AMERICANA gente acorrentada e algemada nos pés e mãos. Não foi Donald
quem inventou isso, mas é ele quem usa essa cena como peça publicitária de um
marketing de guerra, voltado para chocar e disseminar teorias e práticas da
supremacia e da opressão. É o circo dos horrores de Trump, cujo espetáculo
apenas principia. No fundo, a velha hipocrisia americana está detonando alguns
de seus mais preciosos mitos – patéticos, mas muito populares no mundo da
ignorância – como “a maior democracia do mundo”, “a terra das oportunidades”,
“o lugar mais feliz da terra”, “o país da liberdade” e bazófias do tipo. Em
qualquer país do mundo são preocupantes as cenas de um governante fanfarrão,
provocador, atrabiliário; e, em este país sendo os Estados Unidos da América, a
maior potência militar e econômica do planeta, tais bufonarias precisam ser
denunciadas e combatidas sem vacilação, pois o mundo todo corre perigo.
Leia também: Trump tira EUA da OMS e atinge saúde pública mundial https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/trump-contra-oms.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário