Que coisa, não?
Rafaele
Ribeiro (Rafinha)
Antes de ontem, um amigo me presenteou com o livro de
Matheus, o neto de sete anos, que escreve contos. Achei muito bacana. Fiquei
encantada com a desenvoltura de Matheus e, sobretudo, a criatividade em suas
estórias. Eram coisas do cotidiano, mas o menino descrevia com maestria sobre
sua família, amigos, cachorro, escola...
Foi aí,
que me veio à mente meus tempos na alfabetização. Hoje muita coisa mudou, mas
no início dos anos 90, o aluno começava com a pré-escola e em seguida, a
alfabetização, nessa, só se passava de ano aprendendo a ler. E, graças a Deus,
aprendi.
Assim
como Matheus, também escrevia minhas estórias, a pedido de tia Edna, minha professora
da primeira série.
Ela era
alta (pra mim), magra, cabelos pretos e curtos, olhos negros e sobre eles
repousavam os óculos pequenos que combinavam com todo seu perfil "mignon".
Ah,
chamávamos os professores de "tios e tias". É uma forma carinhosa.
Não sei se acham errado hoje em dia esse método de ensino. Mas eu sempre adorei
todas as minhas “tias".
Saímos
tão pequeninos do conforto de casa. Substituímos parte do dia em que só existia
painho, mainha, vovô e vovó por Professor Fulano, ou, na minha época, tia Edna.
Tia
Edna era o prolongamento da minha casa. Chamá-la de tia me confortava!
Bom,
vez outra, ela nos pedia para desenvolvermos algum tema, claro que não era uma
redação de 50 linhas. Eram poucas linhas, sobre algum esboço falado na aula.
Todas as vezes que terminava minha estória, eu colocava no final a expressão “que
coisa, não?"
Sempre
fui uma criança tímida e nunca gostei de dar trabalho. Morria de medo de ser
chamada atenção, até porque, se isso acontecesse, também, seria chamada em
casa. Minha mãe vivia na minha escola sondando sobre mim e meu irmão.
Uma
vez, tia Edna, enquanto corrigia as redações, me chamou à mesa dela. Fiquei tão
nervosa! Acreditei que ela ia me dar alguma bronca porque nunca tinha sido
chamada para ir ao birô. E me lembro bem dessa sensação, uma angústia tomou
conta de mim. Lembro porque foi a minha primeira Professora. Aquela que foi a
primeira extensão da minha educação, digo “extensão” porque recebia em casa,
lá, minha ”tia”, complementava.
Pois
bem, ela estava curiosa sobre o porquê, nos finais do texto, eu usava a expressão
“que coisa, não?" Eu respondi, quase chorando, que não sabia. Ela me
acalmou, falou que era só uma curiosidade e que não estava me criticando por
isso. Eu compreendi. Me acalmei. Sentei.
Realmente,
até hoje não faço idéia de onde veio essa expressão e o que me levou a
colocá-la nos finais dos textos. Que coisa, não?
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