Nada substitui o
trabalho político na base
Luciano Siqueira,
no portal Vermelho e no Blog do Renato
Resultados
de pesquisa recente realizada pela Fundação Perseu Abramo com foco em
populações periféricas de São Paulo causam estranheza e inquietude.
Mas não
deviam surpreender, pois apenas revelam conhecido dado da realidade: a
discrepância entre o discurso político dos segmentos mais avançados da
sociedade e o nível de percepção da maioria da população.
Essa discrepância
é maior ou menor, dependendo em boa parte das circunstâncias políticas; e é mediada
por vários fatores – entre os quais a natureza e a qualidade dos vínculos de
partidos e agrupamentos políticos com a base da sociedade.
Pesa, sobretudo,
a qualidade do diálogo entre militantes e ativistas e o cidadão comum.
Quando
do último pleito presidencial, uma expressão esteve presente no discurso de todos
os candidatos: "Você chegou até aqui por esforço próprio".
Isto
porque as pesquisas de então já revelavam que os quase 40 milhões de brasileiros
que haviam ascendido socialmente em doze anos de Lula e Dilma não percebiam sua
melhoria de vida como fruto de políticas públicas adotadas pelo governo. Atribuíam
o êxito ao próprio esforço.
É que o
processo de formação de uma consciência social avançada é algo complexo, nem é
instantâneo nem se dá em linha reta.
Espontaneamente
o indivíduo tende a ver quase que somente a realidade local e pessoal. Não faz
a relação de suas vivências individuais ou coletivas com a realidade do país e
com a necessidade de se mudar a natureza do poder político como condição indispensável
a transformações sociais e políticas que permitam solucionar os problemas
fundamentais do povo e destravar o desenvolvimento nacional.
Por
mais eficiente que seja a propaganda dos feitos e benefícios atribuídos a determinado
governo, jamais dispensará um trabalho cotidiano que proporcione ao cidadão seu
aprendizado político.
É o que
é Lenin em sua obra clássica "Que fazer?" chamou de introdução do
elemento consciente no movimento espontâneo.
A realidade
atual é bem diversa daquela em que o grande líder russo atuou, final do século
XIX e início do século XX.
Hoje o
trabalho político militante envolve um conjunto de variáveis, da sofisticação
dos meios de comunicação à multiplicidade de estímulos com os quais o indivíduo
convive no seu dia a dia.
Mas o
desafio é o mesmo. E não foi enfrentado devidamente pelas forças governantes no
ciclo transformador recém-interrompido.
O
limitado descortino estratégico da força política hegemônica e a presença
saliente, na coalizão governista, de segmentos conservadores pesaram nesse sentido.
Neste instante da vida do país em que está instaurada a
crise e a instabilidade em todas as esferas da sociedade, sob correlação de
forças favorável ao agrupamento que deu o golpe e promove o retrocesso
neoliberal, a luta no terreno das ideias e a atividade militante, pedagogicamente
eficiente, têm enorme relevância.
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