Manifestos de associações nos jornais
omitem 'a solução' dos empresários
Janio de
Freitas, na Folha de S. Paulo
Do tumulto em Brasília para cá, a crise
pareceu acalmar-se um pouco. Mas piorou. Inclusive nas alegadas ações por uma
saída.
Os manifestos que as associações
empresariais estão publicando, em páginas inteiras dos jornais, correspondem à
pressão combinada que o empresariado forte faz sobre o Congresso e parte do
Judiciário. Mas as publicidades omitem "a solução" exposta por
empresários nos diálogos políticos. Tasso Jereissati e Fernando Henrique,
embora muito citados em imprensa/TV, são alternativas, não preferências. A
prioridade é a permanência de Michel Temer com Henrique Meirelles. O vínculo
partidário muito rígido de Jereissati e Fernando Henrique representa, para os
empresários entregues à ação política, o risco de que cedam à perspectiva das
eleições em 2018. Seriam ambos propensos a buscar atenuantes à insatisfação do
eleitorado trabalhador, mais do que a fazer as reformas trabalhista e da
Previdência nos termos desejados pelo empresariado.
Os manifestos ocupam-se da má situação
do país e da necessidade de superá-la. Apesar disso, o que os textos exalam é o
propósito de obter aquelas reformas. Tudo é dito em função delas. E, na
prática, a permanência de Michel Temer e seu grupo é o oposto do
"entendimento necessário" que falam os textos. O que é crise para
dezenas de milhões é visto por outros como oportunidade. Sumiram as citações à
exigência, para candidaturas a presidente, de filiação partidária seis meses
antes da eleição. Com isso, Nelson Jobim torna-se presença constante no
noticiário, em justa retribuição às suas relações jornalísticas. Mas as
manobras que burlaram a concorrência para construção da base naval e produtora
de submarinos no Rio, entregando-a à Odebrecht como se fora empresa
estrangeira, podem sair do silêncio a qualquer hora. Por envolver a Marinha, a
Lava Jato finge que o assunto não existe -como fazia com a corrupção de gente
do PSDB. Mas nem tudo pode ser sempre controlado por lá- como se viu com a
corrupção de gente do PSDB.
Quando ministro da Defesa, Jobim
esteve, com Roberto Mangabeira Unger, no centro das negociações de
investimentos militares altíssimos (e, em grande parte, duvidosos como
estratégia). Dado como proponente dos caças franceses e, depois, dos
americanos, Jobim não os fez vencedores. A FAB conseguiu impor sua preferência
pelo acordo com os suecos. Mas a contratação e suas piruetas para a base e os
submarinos, inclusive o nuclear, efetivaram-se. Com ausência de explicações
muito além da necessária ao aspecto militar. Jobim já teve a honra de ao menos
uma citação na Lava Jato. Se candidato, à indireta ou à direta, pode esperar
mais, com intenções decisivas.
Mais político do que empresário, e
empresário mais rico do que a grande maioria dos empresários brasileiros,
Jereissati não está imune a cobranças variadas. Lá pelos anos 1990, assinei
textos na Folha sobre um sistema de sonegação de impostos no Ceará. Numerosas
empresas usavam uma espécie de central contábil, na qual notas fiscais, frias
ou não, e outros documentos entrelaçavam-se para a mágica de reduzir ou
evaporar impostos. Empresas de Tasso Jereissati eram parte importante do
sistema. Como nem o seu prestígio de governador conseguia parar as
investigações da Superintendência da Polícia Federal no Estado, Jereissati
obteve de Romeu Tuma, então diretor da PF, a substituição do
delegado-superintendente. Pronto. Mas o caso pode voltar à superfície. Apesar
de pouco citados, e de só contarem com trabalho de apoiadores discretos, dois
nomes desfrutam de muito mais prestígio público do que os políticos mais
citados para substituir Temer: Ayres Britto, ex-ministro do Supremo, com ampla
aceitação entre os menos desinformados, e alto conceito ético e cultural; e o
também ex-ministro Joaquim Barbosa, com ampla aceitação pública, mas temido
pelos políticos. Nessa linhagem, Cármen Lúcia é o óbvio desde o primeiro
momento -exceto na Câmara e no Senado.
Brasileirinhas:
1) Aécio Neves gastou horas de
explicações, mas sem explicar por que os R$ 2 milhões tomados de Joesley
Batista, "para pagar advogado", foram parar com o filho do senador
Zezé Perrella, e não com sua defesa. 2) Raul Jungmann deu como mal-entendido
sua afirmação de que o Exército foi chamado pelo deputado Rodrigo Maia, e não
por Temer. Bem entendido, o Exército vai para as ruas sem que o ministro da
Defesa precise saber sequer quem o pediu. 3) Mais um massacre, dez mortos,
feito pela PM do Pará. A polícia do Pará precisa ser presa.
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