15 julho 2020

Redes e símbolos


A naja que vai derrubar Bolsonaro
Pedro Caldas*

Me impressiono com o quanto a semana do brasileiro é recheada de desastres e fatos aleatórios. Semana passada, uma cobra naja picou um estudante de veterinária (não vou chamar de traficante de animais por puro medo do processo) o levando para o hospital em estado gravíssimo.

Muitas questões ao redor do caso. Por que o menino tinha uma das cobras mais peçonhentas do mundo em casa? Que redes de tráfico de animais o moço teve que usar para comprar a naja? Nem vou entrar no debate sobre o uso do soro do Instituto Butantã para (tentar) salvar a vida do rapaz...

Quase uma semana depois o que está claro é que a naja vai derrotar Bolsonaro. Pelo menos esse é o consenso no Twitter. Em pouco tempo, como tudo, a imagem do animal foi ressignificada nas redes sociais.

Não é mais uma naja, é uma revolucionária que conseguiu romper o ciclo de opressões se levantando contra o “burguês traficante” que a aprisionava, revelando uma rede de tráfico de animais e causando a liberdade de 15 outras cobras (leia-se companheiras) e um tubarão.

Para mim, o caso reflete a nossa capacidade de construir símbolos, cada dia mais rápida e popular. Há imagens da naja revolucionária rodando pelas redes, um fotógrafo rapidamente foi no lugar onde ela está para fazer um “ensaio” e dias depois as fotos ainda circulam.

É bom dar destaque para o “ainda”. Em pouco tempo ninguém vai lembrar da cobra, o debate sobre tráfico de animais vai voltar ao segundo plano e outros acontecimentos aleatórios vão tomar o nosso tempo livre, gerando novas projeções das nossas lutas e debates nas redes sociais.

Até onde se sabe Bolsonaro não cria serpentes (apesar de tá cercado de gente venenosa) e o risco dele cair por uma naja revolucionária é baixíssimo (apesar de que nenhuma possibilidade pode ser descartada no Brasil). A receita para a queda dele é mais complexa e aí me pergunto: as cobras corais, as jararacas, as jibóias e as sucuris conseguem fazer uma grande frente para tirar o homem do poder?

*Pedro Caldas é estudante de Rádio, TV e Internet na UFPE, integrante do Coletivo Nacional de Comunicação da UJS e colaborador dos Jornalistas Livres

Enfrentando a tragédia nacional https://bit.ly/2CwMpND

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