No Brasil há técnicos
bons e ruins, assim como em todo o mundo
Um excepcional treinador sabe observar os detalhes
objetivos e subjetivos, além de ter lucidez
Tostão, Folha de S. Paulo
Parabéns à
torcida do Cruzeiro, pela belíssima festa no Mineirão, na despedida de Rafael
Sóbis e de Ariel Cabral, mesmo com mais um empate e com o time na Série B pelo
terceiro ano.
A maioria dos
jogadores, craques ou não, quando encerram a carreira, sonham em ter uma
atividade ligada ao futebol, como a de técnico, de comentarista, de dirigente
ou de empresário. Ter sido atleta ajuda bastante, mas não é o suficiente para
ser um ótimo profissional. É necessário também fazer uma
preparação científica, pessoal, e se dedicar integralmente à nova
atividade.
Existe, desde os
anos 1960, uma crítica exagerada de que o futebol brasileiro é muito bom
somente pelos atletas e que não depende dos treinadores. Há técnicos bons e
ruins, no Brasil e em todo o mundo. Essa impressão negativa é uma das razões de raros
treinadores brasileiros trabalharem em equipes da Europa e
mesmo em outros países da América do Sul.
Na Copa de 1970,
Zagallo, diferentemente dos habituais técnicos intuitivos da época, dava,
diariamente, detalhados treinos táticos para a defesa e para o ataque, além de
usar times de botão para mostrar a movimentação dos jogadores em campo. A
seleção de 1970 brilhou no individual e no coletivo. A de 1982, dirigida por
Telê Santana, não venceu, mas encantou o mundo.
Muitos grandes
craques, em todos os países, se tornaram excelentes treinadores. Cruyff, além
de ter sido um dos dez maiores jogadores da história, foi um técnico
revolucionário, mestre de Guardiola, também ex-atleta, que provocou
grandes avanços no futebol nos últimos 15 anos.
Guardiola é o
treinador atual mais original e fascinante. O Manchester City voltou a dominar
o jogo contra o PSG, mas, dessa vez, venceu por 2 a 1. O time inglês se destaca
pela pressão para recuperar a bola, pela constante troca de passes, até alguém
se infiltrar na área, e pelo posicionamento diferente de vários jogadores, em
relação ao que é habitual.
A equipe avança
com dois zagueiros, três médios armadores (um volante e dois laterais). Com
isso, os dois meias jogam perto tanto do centroavante quanto dos pontas abertos
e do gol adversário. São cinco atacantes, algo parecido com o que ocorreu no
início do futebol (2-3-5), há quase 150 anos. É o moderno com
pitadas do passado.
Muitos
ex-jogadores se destacam atualmente no Brasil no comando das principais
equipes. Cada um tem suas características e perfis psicológicos. Renato Gaúcho,
independentemente do resultado deste sábado (27) pela Libertadores, evoluiu na
parte científica. É um treinador autossuficiente, às vezes, prepotente.
Já Cuca,
excelente treinador, está sempre se lamentando, mesmo quando a equipe joga bem
e vence. "Oh vida, oh céus, oh azar! Isso não vai dar certo"! Rogério
Ceni pode se tornar um grande treinador, por ser estudioso, obsessivo, mas
costuma ser criticado por posturas arrogantes.
Para ser um excepcional
treinador, não basta ter muito conhecimento, saber comandar um grupo e possuir
um ótimo elenco. É necessário também ser um observador de detalhes objetivos e
subjetivos, além de possuir lucidez e inteligência coletiva nas decisões.
Existe um saber que antecede ao pensamento.
Repito, há mais
de 20 anos, que os treinadores são muito importantes, porém, supervalorizados
nas vitórias e nas derrotas. Existe uma ilusão, uma prepotência científica, de
que tudo o que acontece em uma partida pode ser programado, mesmo no futebol,
um esporte de tantos imprevistos.
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Veja: Quem semeia o caos colhe o quê? https://youtu.be/yLfPBPiRBik
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