Incêndios
na Amazônia atingem maior volume para junho em 15 anos
Foram 2.562 focos de
queimadas na região, segundo Inpe; no cerrado, fogo tem pior marca desde 2010
para o mês
Ana Carolina Amaral, Folha de S.
Paulo
As queimadas na Amazônia chegaram a um novo recorde
histórico em junho. O Programa Queimadas do Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais) contabilizou 2.562 focos de incêndio no bioma ao longo do
mês.
É o maior
número de queimadas em junho dos últimos 15 anos —em 2007, o Inpe contabilizou
3.519 focos de queimada. De lá para cá, os valores ficaram abaixo de 2.000
focos nos meses de junho, até 2019.
Com
a temporada seca, iniciada em maio, os números das queimadas passam a subir. O
mês de junho teve 11% mais focos de incêndio do que o mês anterior.
Todos
os meses de junho sob o governo Bolsonaro apresentaram aumento de
queimadas na Amazônia. Em junho de 2019, foram 1.880 focos. No
mesmo mês de 2020, foram 2.248 focos e, em 2021, o número chegou a 2.305. O
recorde para o mês é de 9.179 focos, em 2004.
No
último dia 23, o presidente Jair Bolsonaro (PL) proibiu por decreto o uso do
fogo em todo o país pelos próximos 120 dias. A determinação suspende as
autorizações para práticas agrícolas. No entanto, as queimadas também são
usadas para consolidar a ocupação ilegal de terras, abrindo terrenos desmatados
para fins de grilagem.
Por
essa razão, os registros de incêndio são consistentes com os alertas de desmatamento, que já subiam no mês anterior. Em maio, o desmatamento da Amazônia bateu um recorde parecido,
com o pior número dos últimos 15 anos, segundo o Imazon. O desmatamento foi de
1.476 km², o que representa 44% do acumulado do ano, com uma devastação 31%
superior ao do mesmo período do ano passado.
O
ano eleitoral também afeta o ciclo de derrubada de florestas. Historicamente,
campanhas eleitorais incentivam os desmatadores, sob a promessa de alívio da
fiscalização, em troca de votos e financiamento —especialmente em regiões de
alto desmate onde há candidatos à reeleição.
Neste
ano, no entanto, a motivação é inversa ao ciclo histórico: em vez da promessa
eleitoral, há um aproveitamento do incentivo concedido no governo atual e
que pode ser perdido se houver mudança de gestão, como mostrou a Folha.
Com o
incentivo constante ao desmatamento e às queimadas, somado aos efeitos das
mudanças climáticas, a Amazônia tem perdido a capacidade de regeneração após
períodos de seca.
Um estudo
publicado no último março no periódico científico Nature Climate Change
concluiu, através da análise de imagens de satélite, que mais de 75% da
floresta tem perdido estabilidade nos últimos 20 anos. O fenômeno é mais
intenso na região Sul, onde há secas mais intensas.
O
prolongamento das secas e o aumento das queimadas também aprofundam, por sua
vez, os problemas de saúde, elevando os atendimentos hospitalares.
"Durante
a ‘estação das queimadas’ na Amazônia brasileira, entre julho e outubro,
aproximadamente 120 mil pessoas são hospitalizadas anualmente devido a problemas de asma, bronquite e pneumonia",
afirma uma nota técnica da ONG WWF publicada nesta quinta-feira (30).
O
levantamento da WWF, feito a partir de relatório da Universidade Federal de
Viçosa, mostra que o ar da floresta amazônica é limpo durante a estação chuvosa,
mas fica poluído na estação seca.
"A
fumaça decorrente dos incêndios na Amazônia é altamente tóxica, causando falta
de ar, tosse e danos pulmonares à população, e respondem por 80% do aumento
regional da poluição por partículas finas, afetando 24 milhões de pessoas que
vivem na região", afirma a nota.
CERRADO E PANTANAL
O cerrado também bateu um recorde de queimadas em
junho. Com 4.239 focos de incêndio, o bioma tem o número mais alto da série
desde 2010, quando houve 6.443 focos. A média histórica na região é de 3.760
focos nos meses de junho.
Assim como
na Amazônia, o cerrado teve o pior mês de junho desde o início do governo
Bolsonaro, com 58 focos a mais que no mesmo mês do ano passado. O recorde para
o mês é de 7.079 focos, em 2003. A média histórica para junho é de 3.760 focos.
O pantanal também teve aumento de 17% das
queimadas neste junho em relação ao mesmo mês do ano passado. O número de focos
de incêndio no bioma passou de 85 para 115.
Nos
seis primeiros meses de 2022, o número de queimadas aumentou 13% no cerrado e
17% na Amazônia, em comparação ao mesmo período no ano passado. O cerrado
acumulou 10.869 focos de fogo entre janeiro e junho deste ano. Na Amazônia, o
mesmo período somou 7.533 focos.
Os
alertas de desmatamento do Deter, o sistema do Inpe, sobre o cerrado também já
apontam um recorde histórico, mesmo antes de fechar os dados do mês. Os valores
apresentados até o dia 24 de junho já são os maiores números registrados desde
o início do monitoramento do bioma, tanto no acumulado do semestre, com 3.364
km², quanto no valor para junho, que até aqui soma 752 km².
"O
fogo tem origem essencialmente em fatores antrópicos nesta época do ano,
principalmente no manejo de pastagem, que ao encontrar um cenário propício,
alastra-se sem controle", afirma Mariana Napolitano, gerente de ciências
da WWF Brasil.
"Também
é importante considerar que há um cenário de controle ambiental debilitado por
parte dos governos, com enfraquecimento dos órgãos ambientais e da
fiscalização. O melhor caminho é investir em prevenção e respostas rápidas,
evitando que a situação atinja a escala que temos registrado nos últimos
anos", avalia Napolitano.
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Atenção
aos fatos e tendências https://bit.ly/3n47CDe
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