08 dezembro 2022

COPOM e o próximo governo

Bolsonaro, o Copom e a Selic

Atuando como uma espécie de regimento de quinta-coluna a serviço do financismo dentro do próprio aparelho de Estado, os membros do COPOM podem ser tentados a operar como sabotadores militantes dos movimentos tão necessários pela recuperação da atividade econômica e pela implementação de um projeto nacional de desenvolvimento.
Paulo Kliass, www.vermelho.org.br

 

A última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) sob o governo Bolsonaro será realizada entre os dias 6 e 7 de dezembro. Como é de costume acontecer, ao final do encontro de número 251, no início da noite da quarta-feira, o Banco Central deverá divulgar a decisão relativa ao patamar da taxa oficial de juros, a SELIC. De acordo com as chamadas “expectativas de mercado”, o colegiado não deverá alterar o nível atual, definido em 13,75% ao ano.

No entanto, a realidade é que o Presidente do Banco Central tem sido o principal responsável por uma das mais desastrosas trajetórias de elevação sistemática desta importante ferramenta da política econômica. A retração do nível das atividades econômicas a partir de 2019 permitiu que o órgão abandonasse sua tradicional preferência pelo arrocho monetário e arriscasse um ensaio de diminuição da taxa. Assim, ela chegou a atingir a marca de 2% em agosto de 2020 e assim permaneceu até março do ano seguinte. No entanto, a pressão pela elevação da SELIC nunca deixou de existir e logrou êxito logo depois, quando o COPOM dirigido por Roberto Campos Neto retomou rapidamente a trajetória altista da mesma.

Afinal, é sempre bom recordar que uma das principais fontes de formação de opinião dentre os conselheiros é a pesquisa semanal Focus, realizada pelo próprio BC. O questionário é enviado a um seleto grupo de dirigentes de instituições financeiras e o seu resultado é apresentado para o resto da sociedade pelos grandes meios de comunicação como sendo a opinião deste ente meio fantasmagórico chamado “mercado”. É com base nesse tipo de opinião e desejo que o BC incorpora suas estimativas de SELIC, PIB, inflação, taxa de câmbio e demais variáveis relevantes do cenário macroeconômico futuro.

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A explosão na SELIC: de 2% a 13,75%

Entre março de 2021 e agosto de 2022 foram realizados 12 encontros do Comitê e em todas eles a taxa foi aumentada. Assim, a SELIC foi multiplicada por quase 7 e chegou a atingir 13,75% na reunião de nº 248. Tratava-se de uma ascensão irresponsável e que não encontrava nenhum respaldo em qualquer modelo minimamente sério de análise macroeconômica, mesmo os do campo conservador. O argumento de plantão, à época, era a necessidade “urgente” de combater o risco da retomada de uma suposta espiral inflacionária. Porém, o fato é que os preços que apresentavam crescimento não seriam atenuados apenas por meio de elevação da taxa de juros. Afinal, não se tratava de inflação de demanda. Lembremos que era o momento de alta dos alimentos, da tarifa de energia elétrica e dos derivados de petróleo.

São casos em que o combate aos preços caberia principalmente a iniciativas a serem adotados pelo próprio governo. Mas Paulo Guedes, o todo poderoso super Ministro da Economia, professava e implementava uma orientação no sentido contrário. Rezando pela cartilha da liberalização generalizada e do Estado mínimo, o banqueiro se encarregou de destruir a política de estoques reguladores na área agrícola e de alimentos. Assim, a capacidade de a administração pública federal intervir por meio dos estoques da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) foi reduzida zero. Em nome da supremacia liberaloide de conceder todo poder ao sacrossanto equilíbrio das livres forças de oferta e demanda, Guedes eliminou a possibilidade de diminuir o efeito da inflação de alimentos sobre o IPCA.

Alta de juros e inflação: um erro atrás do outro.

No caso das tarifas de energia elétrica, a sazonalidade da chegada da seca e a diminuição antecipada dos níveis das barragens exigia igualmente uma ação mais incisiva do governo para impedir que os consumidores se tornassem os principais atingidos e que a elevação das contas industriais, comerciais e residenciais de luz também sofressem o impacto e transmitissem o fenômeno para dentro dos índices inflacionários. Portanto, não tinha nada a ver com nenhum tipo de bem cujo consumo pudesse ser evitado por meio de alguma alta nos juros. Mas o governo fez cara de paisagem para os reajustes autorizados pela ANEEL.

Leia também: Transição estuda ampliar refino do petróleo e alterar política de preços

No setor petrolífero houve também crescimento de preços por conta de responsabilidade exclusiva de Temer e Bolsonaro. Ao adotar em 2016 a política “preço de paridade internacional” (PPI), o governo transformou em política pública o discurso falacioso dos liberais de quinta categoria, que criticavam a política de preços administrados da Petrobrás. Recuperando novamente a narrativa da liberdade de oferta e demanda, passaram a colocar em prática a retirada do governo da definição dos preços de insumos tão fundamentais e estratégicos para o conjunto da economia e sociedade, a exemplo de diesel, gasolina e gás de cozinha. A ideia “jenial” era atrelar os preços internos no Brasil às oscilações das cotações do barril de óleo bruto no mercado internacional. Uma loucura! Processos de desvalorização cambial do real frente ao dólar norte-americano e retomadas especulativas de alta nas cotações de petróleo coordenadas pela OPEP fizeram com que os preços dos derivados no Brasil explodissem.

São casos em que o combate aos preços caberia principalmente a iniciativas a serem adotados pelo próprio governo. Mas Paulo Guedes, o todo poderoso super Ministro da Economia, professava e implementava uma orientação no sentido contrário. Rezando pela cartilha da liberalização generalizada e do Estado mínimo, o banqueiro se encarregou de destruir a política de estoques reguladores na área agrícola e de alimentos. Assim, a capacidade de a administração pública federal intervir por meio dos estoques da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) foi reduzida zero. Em nome da supremacia liberaloide de conceder todo poder ao sacrossanto equilíbrio das livres forças de oferta e demanda, Guedes eliminou a possibilidade de diminuir o efeito da inflação de alimentos sobre o IPCA.

Alta de juros e inflação: um erro atrás do outro.

No caso das tarifas de energia elétrica, a sazonalidade da chegada da seca e a diminuição antecipada dos níveis das barragens exigia igualmente uma ação mais incisiva do governo para impedir que os consumidores se tornassem os principais atingidos e que a elevação das contas industriais, comerciais e residenciais de luz também sofressem o impacto e transmitissem o fenômeno para dentro dos índices inflacionários. Portanto, não tinha nada a ver com nenhum tipo de bem cujo consumo pudesse ser evitado por meio de alguma alta nos juros. Mas o governo fez cara de paisagem para os reajustes autorizados pela ANEEL.

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No setor petrolífero houve também crescimento de preços por conta de responsabilidade exclusiva de Temer e Bolsonaro. Ao adotar em 2016 a política “preço de paridade internacional” (PPI), o governo transformou em política pública o discurso falacioso dos liberais de quinta categoria, que criticavam a política de preços administrados da Petrobrás. Recuperando novamente a narrativa da liberdade de oferta e demanda, passaram a colocar em prática a retirada do governo da definição dos preços de insumos tão fundamentais e estratégicos para o conjunto da economia e sociedade, a exemplo de diesel, gasolina e gás de cozinha. A ideia “jenial” era atrelar os preços internos no Brasil às oscilações das cotações do barril de óleo bruto no mercado internacional. Uma loucura! Processos de desvalorização cambial do real frente ao dólar norte-americano e retomadas especulativas de alta nas cotações de petróleo coordenadas pela OPEP fizeram com que os preços dos derivados no Brasil explodissem.

Não pode haver no Brasil um teto fiscal que leve à fome https://bit.ly/3UtVnOS

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