A luta atual pede um indispensável reencontro
Luciano Siqueira
Na complexidade da
sociedade brasileira e no presente contexto pós-eleitoral, múltiplas são as
questões na pauta da chamada análise da realidade concreta tendo em vista a
continuidade da luta transformadora.
Vale, sobretudo, para
correntes políticas conscientemente empenhadas em mudanças na sociedade para
além do que está estabelecido. Pois não basta conter o mal neofascista
derrotando-o no pleito presidencial — por mais que reconheçamos aí uma vitória
de sentido estratégico.
É preciso ir abaixo e
a fundo — como dizia Lenin — no intuito de compreender o que verdadeiramente se
passa na base da pirâmide social.
Isto no pressuposto
de que a concretização do novo governo Lula como instrumento de recuperação da
economia, da reconquista de direitos e da preservação da soberania nacional
depende de ampla mobilização social, ao lado das condições de governabilidade
alcançadas, a muito custo, no parlamento.
João Amazonas
costumava dizer que é necessário fazer a boa política "por cima",
construindo a todo instante a unidade possível no campo democrático e
progressista; e fazer a boa política "pela base", despertando para a
luta, organizando e mobilizando milhões de brasileiros e brasileiras a partir
dos que têm na própria força de trabalho a sua riqueza e as suas
potencialidades.
O PCdoB é reconhecido
e respeitado pela largueza de propósitos e pela habilidade em contribuir para
unir forças numa mesma direção. É a política "por cima" bem sucedida,
como na construção da frente ampla que elegeu Lula presidente.
Mas o próprio PCdoB
reconhece limitações no seu enraizamento nas massas do povo, em boa parte pelo
desacordo entre concepções, métodos e instrumentos de atuação que já não são plenamente
suficientes para darem conta das transformações no mundo do trabalho e no modo
como a maioria da população sobrevive, se informa, forma seu juízo de valor
sobre os fatos, defende o que deseja e se junta para a ação.
Essas limitações são
comuns às forças de esquerda no seu conjunto e se manifestam conforme o estilo
e as concepções de cada uma.
Embora pareça
paradoxal, o PCdoB — que pelo critério eleitoral não está entre as grandes
agremiações do país — é que reúne melhores condições de promover um verdadeiro
reencontro com sua base proletária e popular.
Seja pela experiência
acumulada em um século de existência e atuação ininterrupta, seja pela sua base
teórica científica e pela sua proposta programática — que que o faz enxergar o
objetivo estratégico para além dos limites institucionais vigentes e aponta o
caminho de reformas estruturais profundas que, a um só tempo, propiciarão a
elevação do padrão de vida material e espiritual e um salto qualitativo na
consciência política do nosso povo, que assim vislumbrará o socialismo como
alternativa.
O tempo novo que se
abre no país a partir de primeiro de janeiro vindouro instiga milhões de
trabalhadores assalariados, jovens estudantes ou em idade de estudar, mulheres
e vasta camada da intelectualidade.
A luta imediata
concreta, de natureza econômica e política, e o embate no terreno das ideias
conformam o ambiente em que se dará o reencontro desejado entre a corrente
revolucionária consequente e sua base social.
Um tempo novo no Brasil:
possível, mas nada está previamente garantido https://bit.ly/3Y6nLZF
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