Sinais do que virá
Luciano Siqueira
Um tempo novo é
possível a partir da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para um terceiro
mandato na presidência da República.
É possível sim. O
mundo espera por isso. Os brasileiros e brasileiras mais ainda.
Mas não é previamente
garantido.
A tarefa da
reconstrução nacional, assim posta pelo presidente eleito com respaldo do
conjunto das forças políticas e sociais que se ajuntaram na frente ampla
político-eleitoral vitoriosa, implica contradições, conflitos de interesses e
disputas de rumo.
Até onde iremos? Se
tivermos um governo "de centro progressista" será ótimo.
Um "governo de
centro-esquerda", com todas as nuances que isto significa? Será excelente!
Mas no meio do
caminho tem uma pedra, como diria o poeta.
Essa pedra — a real
correlação de forças no conjunto da sociedade, no âmbito dos chamados Três
Poderes da República e particularmente no próprio governo (irrecusavelmente de
frente ampla, agora alargada mais ainda para dar conta da governabilidade no
parlamento) — põe na ordem do dia o conflito entre o velho e o novo.
Particularmente entre
os interesses consignados no acelerado desmonte do Estado nacional promovido
por Temer e aprofundado por Bolsonaro versus retomada do desenvolvimento
econômico, tendo as atividades industriais como vértice e como subproduto a
recuperação de conquistas sociais inadiáveis.
Agora, na fase
preparatória do novo governo, que se apoia nas equipes do chamado gabinete de
transição, constata-se a disputa de diagnósticos e de proposições e, de modo
velado ou explícito, a manifestação de aspirações a ministérios, presidências
de grandes estatais e quejandos.
São sinais do que
virá a partir do dia primeiro de janeiro.
Tudo isso é tão
natural quanto o sol que nasce todos os dias. Mas requer discernimento,
habilidade e espírito prático consequente — especialmente do principal líder do
processo, Lula.
Esse filme já passou
antes. Os dois primeiros governos Lula e o primeiro governo Dilma acumularam
conquistas sociais sem precedentes na história do Brasil. Mas não enfrentaram
as disfunções do Estado, que até se agravaram através de uma desastrosa
permissividade quanto à legislação infra constitucional.
E a casa caiu, como
se sabe, no segundo governo Dilma, que nem soube lidar com o cenário muito
adverso no parlamento, nem equacionou corretamente os desafios da economia.
Ao contrário,
praticou o confronto em relação a maioria hostil no Senado e na Câmara e
agravou a força e os efeitos dos elementos neoliberais persistentes na macropolítica
econômica.
O golpe que
interrompeu o mandato da presidente Dilma foi fruto principalmente dessas duas
variáveis.
Agora, subjacente ao
ambiente do novo governo e no seu entorno, Lula se depara com uma situação
internacional crítica, com gravíssima crise econômica e social e se verá atacado
pela extrema direita, que perdeu o pleito presidencial mas se mostra forte no
Senado na Câmara e se apoia em movimento socialmente extenso e ensandecido por
ideias as mais retrógradas.
Em contrapartida, no
seio da sociedade, digamos assim, as correntes democráticas e populares têm a
responsabilidade irrecusável e imediata de construírem amplo movimento que
venha a respaldar o novo governo.
Não será simples, bem
sabemos.
Movimento dessa ordem
conviverá, inclusive, com as naturais contradições de interesses e expectativas
de classes e segmentos de classe e com a imperiosa necessidade de preservar a
relação dialética de apoio e independência por parte das entidades da luta
social organizada.
Assim, a
possibilidade de um novo tempo é tão grandiosa quanto complexa.
Leia
também: Amplitude na transição: correta, mas arriscosa https://bit.ly/3EkFrJ7
Nenhum comentário:
Postar um comentário