Cida Pedrosa lança “Araras Vermelhas” em homenagem à resistência
contra a ditadura
Vencedora do prêmio Jabuti nas
categorias Poesia e Livro do Ano em 2020, Cida Pedrosa apresentou seu livro em
São Paulo
Hora
do Povo
A
escritora Cida Pedrosa, poeta de Bodocó, no sertão pernambucano, lançou o seu
livro Araras Vermelhas nesta terça-feira (29).
O evento aconteceu na livraria Megafauna, no centro de São Paulo, em formato de
bate-papo com o escritor e professor de literatura Cristhiano Aguiar, além de
amigos, leitores e políticos também presentes.
Autora
de Solo para vialejo, vencedor do prêmio
Jabuti nas categorias Poesia e Livro do Ano em 2020, Cida Pedrosa é também
vereadora no Recife pelo PCdoB e fez questão de ressaltar que militância
política nunca foi incompatível com a poesia, em especial em Pernambuco, “onde
tem mais poeta do que gente”.
Em Araras Vermelhas,
publicado pela Companhia das Letras, a escritora traz um poema intercalando a
história da guerrilha do Araguaia, movimento de combate à ditadura na região
amazônica, com suas lembranças da infância e juventude. “Eu me joguei na
escrita, e esse livro é um longo poema onde intercalo esse fato histórico com
as minhas memórias pessoais. Porque, apesar de estar lá em Bodocó, todo mundo
que estava nesse país naquela época vivia a ditadura de alguma forma”.
“Eu nasci numa
cidade que não tinha televisão. Eu morava num sítio que não tinha energia
elétrica, não tinha banheiro. É desse lugar que eu vinha quando cheguei ao
Recife. Foi um susto enorme. Eu via ruas pichadas com “tortura nunca mais!
Volta Arraes”, “liberdade para os presos políticos”, e a pergunta foi: “Que
diacho é isso?”.
“A ditadura me
atravessou de maneira muito forte”, disse Cida, lembrando que fez da praça
pública um local de denúncia contra a opressão. “Nós recitamos por mais de seis
anos e era uma luta diária. Isso há 40 anos. É desse lugar que eu venho. Vendi
o meu primeiro livro de mão em mão e tenho uma relação direta com pessoas
ligadas à cultura que saíam do cárcere. Nós recitávamos na rua, muito jovens, e
recebíamos aqueles que estavam saindo do cárcere, que também eram poetas”.
Cida conta que a
ideia do livro é também a de resgatar personagens do Brasil que foram
“apagados” da história, que tiveram suas “cabeças cortadas” por aqueles que
achavam que cortariam assim os seus ideais. “No Araguaia não foi diferente. Não
bastava prender, torturar, executar. Tinha que fazer com que não existisse mais
ninguém, tinha que aniquilar da história. Eu queria, com isso, fazer uma
ligação com Tiradentes, Zumbi, Lampião”.
Ao mesmo tempo,
conta a autora, “eu queria mostrar que a luta dos guerrilheiros do PCdoB, dos
camponeses e tantos outros que estavam lá não estava isolada do que acontecia
no mundo. Embora pareça que estava isolada, toda a América vivia algo parecido.
Allende é eleito, deposto e assassinado. No Uruguai começa uma ditadura, na
Argentina outra. Nesse período estava se encerrando o armistício do Vietnã, que
nada mais é do que o absurdo autoritarismo dos EUA”.
Sobre o nome do
livro, Cida conta que quando escreve gosta de saber a origem das palavras. “O
livro ia se chamar ‘Canto para o Araguaia’, que era um nome muito ruim. E
quando eu descobri que Araguaia significa rio das araras vermelhas eu
enlouqueci. E esse livro se chama Araras Vermelhas, que são os
guerrilheiros, que é o nome do rio Araguaia”.
A atuação política
da poeta premiada passa também pela administração pública desde a década de 90.
Chefiou áreas de direitos humanos, segurança cidadã, saneamento, meio ambiente
e direitos das mulheres. Na gestão da Secretaria da Mulher do Recife, em 2018,
recebeu o título de cidadã recifense, concedido pela Câmara Municipal. Em 2022
é eleita vereadora da capital pernambucana.
A dirigente
nacional do PCdoB Nádia Campeão falou sobre a oportunidade especial de poder
ter em São Paulo a poeta Cida Pedrosa. “Para nós, Cida é muita coisa ao mesmo
tempo. É nossa companheira, nossa camarada da direção nacional, nossa vereadora
do Recife, mulher combativa, é uma feminista, é a nossa poeta que encanta em
todos os eventos que fazemos e, acima de tudo, é uma companheira muito
generosa, espontânea e com muito carinho pela vida”, declarou.
“É uma satisfação
muito grande receber a poeta Cida Pedrosa trazendo em poesia esse momento de
resistência da história do Brasil”, afirmou Nivaldo Santana, também dirigente
do PCdoB, durante o evento.
A literatura pode comover as
pessoas com mais força do que uma tese https://bit.ly/3H1ecoJ
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