17 janeiro 2023

Evolução do futebol

O futebol mudou para melhor

O inovador Manchester City usa o esquema 2-3-5, de quando o futebol começou
Tostão, Folha de S. Paulo

 

O neurologista e cientista Miguel Nicolelis, autor do livro "Muito Além do Nosso Eu", ressaltou em uma entrevista à CNN a importância dos recursos tecnológicos para o conhecimento e, ao mesmo tempo, alertou para a tendência de essas ferramentas diminuírem a inteligência humana, já que a estrutura dos computadores é binária, ou seja, é isso ou aquilo, certo ou errado, deleto ou não deleto.

O ser humano precisa também questionar, inventar, divagar, divergir. Não é uma coisa ou outra. Há o risco de essa estrutura binária ser cada vez mais incorporada pelos humanos e estimular a polarização, a radicalização e a violência, como as absurdas e criminosas invasões e destruições do patrimônio público ocorridas em Brasília. As pessoas, cada vez mais tendenciosas, perdem o senso da realidade.

Nos últimos dias, morreram três grandes atacantes: Pelé, o maior jogador da história, o italiano Vialli Roberto Dinamite, o maior ídolo do Vasco, com quem convivi, por pouquíssimo tempo, quando ele, jovem, passava para a equipe principal.

Ao me lembrar de Pelé, penso nas conquistas de 1958, 1962 e 1970. Em 1958 e em 1962, o ponta-esquerda Zagallo recuava para formar um trio no meio-campo, com Zito e Didi. Em 1970, o técnico Zagallo deslocou Rivellino do meio para o lado, para formar, com Gerson e Clodoaldo, o trio de meio-campistas.

Com o tempo, o trio do meio-campo com um ponta recuado foi substituído por três clássicos meio-campistas. O avanço pelos lados passou a ser do autêntico ponta ou do lateral ou do ala, no esquema com três zagueiros. Na Copa do Qatar, esse trio pelo meio foi o esquema mais usado. A Argentina usou vários esquemas táticos, mas sempre teve três jogadores pelo meia, Enzo Fernández pelo centro, De Paul pela direita e Mac Allister pela esquerda.

Chama-me a atenção nas análises a preocupação constante com o meia de ligação e a ausência de comentários sobre os meio-campistas que atuam de uma intermediária à outra, chamados ainda de segundos volantes, como se o meio-campo fosse dividido, como no passado, entre o primeiro volante, o segundo volante e o meia de ligação ou meia ofensivo. O futebol mudou, pelo menos nas grandes equipes.

Na conquista do Mundial de 1994, o Brasil utilizou a formação clássica inglesa, com duas linhas de quatro e com dois atacantes, Romário e Bebeto. Raí, que era um excelente meia-atacante no São Paulo, jogou pela direita, recuado, marcando ao lado do volante, o que não sabia fazer. Foi substituído pelo volante Mazinho. Na conquista de 2002, Felipão seguiu o modelo da Argentina, dirigida por Bielsa, com três zagueiros, dois alas, um volante, um meio-campista e mais três no ataque (Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo).

Hoje, há muitas variações na maneira de jogar. O Manchester City é o time mais inovador, pois atua com cinco atacantes, um ponta aberto de cada lado, um centroavante e dois meio-campistas, que estão sempre próximos à área adversária, já que o time marca por pressão e passa a maior parte do jogo com a bola no ataque. Um ou os dois laterais costumam ser apoiadores, ao lado do único volante, ou melhor, do centromédio, que também avança, Rodrigo. Parece o esquema 2-3-5, de quando começou o futebol.

As coisas vão e voltam, com novos nomes, novos detalhes, novas maneiras de enxergar o jogo e novos conhecimentos científicos. O encontro é quase sempre um reencontro com o que vivemos ou com o que imaginamos.

Fincar os pés na realidade concreta https://bit.ly/3Ye45TD

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