Contra o bolsonarismo, nem tudo pode passar pelo ralo
Luciano Siqueira
Tarefa corriqueira
aqui em casa — lavar a louça — frequentemente me enseja boas reflexões.
Cumpro minha
obrigação pensando na vida. Estimulado por uma boa música ou de ouvido atento ao
noticiário.
Agorinha me veio à
memória a frase de Antônio (que nós lá em casa chamávamos "tio" por
ser esposo da querida e inesquecível tia Ivete), mestre de obras de tamanha
competência que projetou e construiu residência de dois pavimentos praticamente
sozinho, perto da Igreja do Rosário, região central de Natal.
Ele dizia que pelo
ralo da pia "o que passasse ia embora", não nos preocupássemos.
Por isso deixo que
passem pequenos fragmentos de restos de comida pelo ralo da pia da cozinha daqui
de casa, na certeza de que lá embaixo terão destino certo e adequado.
Mas nem tudo na vida
se deve deixar passar pela vigilância do ralo...
A Constituição, e o
sistema legal a ela associado, servem de defesa do Estado Democrático de
Direito. Um ralo rigoroso que não pode deixar passar incólumes infrações graves
— como as cometidas repetidas vezes pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus
seguidores, incluindo os que praticaram atos de vandalismo semi destruindo os
palácios que sediam os três poderes da República, dia 8 passado, em Brasília.
Parece óbvio, mas
creio que para muita gente não é. Pois há quem advogue uma espécie de anistia
tácita para os tais vândalos, corretamente caracterizados como terroristas,
para concentrar investigações e processos formais nas figuras do ex-presidente
e outras de relativo destaque em seu grupo, como o ex-ministro da Justiça
Anderson Torres, que se encontra preso em Brasília.
Essa hipótese, em
certa medida benevolente, eu ouvi de dois amigos, velhos companheiros de luta, com
os quais conversei ao telefone hoje.
Diziam falar por
outras pessoas próximas que julgam que um gesto dessa natureza — minimizar os
crimes cometidos pela horda bolsonarista — poderia sinalizar positivamente como
algo magnânimo, em favor da restauração da paz social e em substituição à cultura
do ódio que essa gente pratica e dissemina.
Mas não pode ser
assim. Definitivamente, não!
Os que tentaram o golpe
no dia 8, manipulados e dirigidos à distância por estamentos bolsonaristas
conscientemente contrários à ordem constitucional, representam parcela de
alguns milhões de brasileiros e brasileiras presentemente capturados pela
pregação fascista. Simplesmente perdoá-los ecoaria como estímulo à repetição de
manifestações de insurgência igualmente antidemocráticas,
Cabe, sim, às
instituições responsáveis levar até o fim os processos devidos, que são parte irrecusável da cena política atual.
Concomitantemente,
ações positivas do governo Lula, de repercussão sobre a vida da maioria da
população, servirão de lastro para que a luta no plano das ideias possa
conquistar maioria expressiva na sociedade em defesa da democracia.
E assim tocaremos a ingente tarefa: da reconstrução nacional.
O mundo gira. Saiba mais https://bit.ly/3Ye45TD
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