Palavra de poeta: Chico de Assis
PARA ALÉM DO PRESENTE!
Chico de Assis*
O último dia do ano
pode não ser o último do tempo
– como diz o poeta Drummond.
Mas pode ser esse inventário
de cicatrizes distribuído
entre deslizes desconhecidos.
Ninguém me orientou
para o pisar clandestino
deste solo movediço.
Nenhuma voz entoou
comigo o coro de lamentações
tardiamente orquestradas.
Nenhum desejo plantou
sementes que florescessem
entre os canteiros da estrada.
Estive só quase sempre.
E de solidão ressequido
atravesso os umbrais do tempo.
Meu corpo ainda se recobre
com a pele macerada dos prisioneiros
e carrega o peso das noites insones.
Mas em minha mente há reflexos de luz.
E eu ainda espero o poema
que nos ilumine através dos séculos.
Por isso não há tibieza no passo
que acompanha agora o poeta Benedetti:
“Ainda existe vida nos teus sonhos.
Porque cada dia é um novo começo...”
Aos irmãos de luta e de sangue. Aos que
sonham sem nunca acordar. Aos que lutam sem capitular. Aos que seguem uma rota
infinita. Por um mundo de paz amor e justiça. A todos, enfim, que compartilham
comigo essa humana lida:
UM SAUDÁVEL, PRODUTIVO E RESISTENTE ANO NOVO!
[Ilustração: Ivan Konstantinovitch Aïvazovski]
*Advogado, poetaO mundo gira. Saiba mais https://bit.ly/3Ye45TD
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