01 março 2023

Enio Lins opina

Golpismo e cinismo são traços do bolsonarismo

Enio Lins www.eniolins.com.br

 

Característica da aristocracia brasileira há séculos, o golpe é alma imortal da elite local desde os primeiros genocídios contra as populações originárias, crime conta a humanidade varrido para baixo do tapete colonial, assim como a pulada de cerca do Tratado de Tordesilhas.

Destaque nesse caminhar golpista está na única independência nacional que manteve a mesmíssima família no poder do país ex-colonizador e do país ex-colonizado. Por sua vez, a “áurea” supressão da escravatura sem compensações materiais à população cativa é outra jabuticaba (diferente, inclusive, dos Estados Unidos, onde uma indenização mínima foi liberada para ex-escravos); e o fim da monarquia dos Pedros não foi tão diferente...

Mas, ao longo dessa história de camas-de-gato, sempre se procurou uma desculpa, uma explicação que encaixasse a quebra das regras estabelecidas (ou sua tentativa, no caso de insucesso) em algum figurino ético que vestisse uma justificativa qualquer.

Isso mudou com o bolsonarismo, com o cinismo próprio da mitológica criatura. O golpismo, a vagabundagem, a vigarice, a corrupção, todas as modalidades de preconceito e atitudes criminosas são assumidas na cara de pau, com a canalhice típica do capitão-fujão replicada como “autenticidade”.

Ser bolsonarista é ser “pessoa do bem” autorizada a fazer o mal. Bolsonaristas podem tentar golpes de estado, podem destruir o patrimônio público, podem invadir festas de aniversário e matar o aniversariante, podem trucidar toda a torcida adversária por perder um jogo de sinuca, podem matar o pai de criança que buzine alto, podem – de armas em punho – perseguir pessoas nas ruas, podem fazer rachadinhas no salário alheio, podem praticar o genocídio contra tribos inteiras... podem tudo, afinal são “patriotas” e “do bem”.

Ser bolsonarista é a licença poética para praticar crimes, esse é o entendimento. A defesa de que o “golpe é um direito” é pérola mais recente desse raciocínio, expelida por um molusco deputado dito evangélico, numa entrevista à Folha de São Paulo. Em cima do lance, o jornalista Reinaldo Azevedo alertou para que “o exercício da fé não se misture com golpismo, obscurantismo e misoginia” e denunciou o culto à “bezerros de ouro”.

Jair, o falso messias, é o bezerro de ouro do momento, ídolo para o gado acrítico, boiada que muge em uníssono, seguindo o mito e um tipo de “pastores” chifrudos e de cascos fendidos. Um perigo que segue ameaçando o Brasil.

Os destinos da nação na ponta de uma agulha https://bit.ly/3KwQGl9

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