Golpismo e cinismo são traços do bolsonarismo
Enio Lins www.eniolins.com.br
Característica da aristocracia brasileira há séculos, o golpe
é alma imortal da elite local desde os primeiros genocídios contra as
populações originárias, crime conta a humanidade varrido para baixo do tapete
colonial, assim como a pulada de cerca do Tratado de Tordesilhas.
Destaque nesse caminhar golpista está na única
independência nacional que manteve a mesmíssima família no poder do país
ex-colonizador e do país ex-colonizado. Por sua vez, a “áurea” supressão da
escravatura sem compensações materiais à população cativa é outra jabuticaba
(diferente, inclusive, dos Estados Unidos, onde uma indenização mínima foi
liberada para ex-escravos); e o fim da monarquia dos Pedros não foi tão
diferente...
Mas, ao longo dessa história de camas-de-gato,
sempre se procurou uma desculpa, uma explicação que encaixasse a quebra das
regras estabelecidas (ou sua tentativa, no caso de insucesso) em algum figurino
ético que vestisse uma justificativa qualquer.
Isso mudou com o bolsonarismo, com o cinismo
próprio da mitológica criatura. O golpismo, a vagabundagem, a vigarice, a
corrupção, todas as modalidades de preconceito e atitudes criminosas são
assumidas na cara de pau, com a canalhice típica do capitão-fujão replicada
como “autenticidade”.
Ser bolsonarista é ser “pessoa do bem” autorizada
a fazer o mal. Bolsonaristas podem tentar golpes de estado, podem destruir o
patrimônio público, podem invadir festas de aniversário e matar o
aniversariante, podem trucidar toda a torcida adversária por perder um jogo de
sinuca, podem matar o pai de criança que buzine alto, podem – de armas em punho
– perseguir pessoas nas ruas, podem fazer rachadinhas no salário alheio, podem
praticar o genocídio contra tribos inteiras... podem tudo, afinal são
“patriotas” e “do bem”.
Ser bolsonarista é a licença poética para praticar
crimes, esse é o entendimento. A defesa de que o “golpe é um direito” é pérola
mais recente desse raciocínio, expelida por um molusco deputado dito
evangélico, numa entrevista à Folha de São Paulo. Em cima do lance, o
jornalista Reinaldo Azevedo alertou para que “o exercício da fé não se misture
com golpismo, obscurantismo e misoginia” e denunciou o culto à “bezerros de
ouro”.
Jair, o falso messias, é o bezerro de ouro do
momento, ídolo para o gado acrítico, boiada que muge em uníssono, seguindo o
mito e um tipo de “pastores” chifrudos e de cascos fendidos. Um perigo que
segue ameaçando o Brasil.
Os destinos da nação
na ponta de uma agulha https://bit.ly/3KwQGl9
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