Na história do Brasil e em seu futebol, predomina o personalismo
Discutem-se as preferências e o estrelismo dos jogadores e treinadores; pouco é falado sobre as ideias de jogo
Tostão/Folha de S. Paulo
Nos últimos anos, aumentou bastante o número de times brasileiros que utilizam a marcação por pressão, em todo o campo ou apenas na saída de bola do goleiro. Essa estratégia é usada há muito mais tempo na Europa. É uma evolução no futebol.
Na Copa do Mundo de 1974, há 49 anos, os holandeses surpreenderam e encantaram o mundo pela marcação por pressão em todo o campo. Onde estava a bola, havia vários holandeses para tomá-la. Era a pelada organizada. Depois disso, raros times conseguiram repeti-la de rotina.
Mais ou menos 15 anos atrás, Guardiola passou a usá-la de rotina com enorme sucesso no Barcelona, inspirado em Cruyff, que bebeu na fonte de Rinus Michels, treinador da Holanda em 1974. Essa postura se espalhou pela Europa, pelo mundo, e hoje é praticada pela maioria das equipes.
Em vez de recuar quando perdem a bola para fechar os espaços na defesa, como era no passado, os jogadores passaram a pressionar. É mais fácil e menos desgastante correr poucos metros para a frente para tomar a bola do que correr para trás. Para isso, a marcação tem que ser coletiva. Se a bola não é recuperada, abrem-se grandes espaços na defesa.
Assim como aumentou bastante o número de equipes que marcam dessa forma desde a saída de bola do goleiro, cresceu também o número de times que tentam trocar passes desde a defesa. É uma disputa de eficiência. Muitos gols têm ocorrido após a recuperação da bola no campo adversário, quando a defesa está desprotegida. Por outro lado, cresceu também o número de gols marcados por equipes que trocam passes desde a defesa.
A dúvida entre os defensores de dar um chutão ou trocar passes pode ser trabalhada com treino, mas a decisão é do jogador no momento do lance.
Quase todas as equipes alternam em uma única ou em diferentes partidas a marcação mais adiantada e a mais recuada. Das equipes brasileiras, a que tem usado com mais intensidade e eficiência a marcação por pressão é o Bragantino, dirigido pelo português Pedro Caixinha. Falta ao time mais talento individual em relação às melhores equipes brasileiras.
Tenho a impressão de que os treinadores mais veteranos, por terem trabalhado durante muitos anos em uma época em que não se fazia marcação por pressão, são os que têm mais resistência em utilizá-la. Na derrota para o Corinthians por 1 a 0, o Atlético-MG, dirigido por Felipão, não pressionou com intensidade em nenhum momento do jogo a saída de bola do Corinthians, que se posicionava com a maioria dos jogadores à frente da área.
O Inter, comandado pelo experiente Mano Menezes, em vez de pressionar o Fluminense, como fizeram com sucesso vários times que tinham enfrentado recentemente a equipe carioca, marcou atrás, o que facilitou para o Fluminense fazer o que sabe melhor, trocar passes.
Existem várias maneiras de jogar, de marcar e de vencer. Difícil é escolher a melhor, no momento certo. Os treinadores deveriam priorizar as estratégias de acordo com a qualidade e a característica dos jogadores, especialmente dos melhores. A partir do conteúdo, cria-se a forma, e não o contrário.
Na história do Brasil predomina o personalismo, o culto ao mito e ao herói, na política, na sociedade e também no futebol. Discute-se muito sobre as preferências, as ações e o estrelismo dos jogadores, dos treinadores, e pouco sobre as ideias de jogo.
A morte da jovem torcedora do Palmeiras é mais uma tragédia no futebol, mais uma tragédia na vida brasileira, mais uma demonstração de violência e de decadência humana.
Reforma urbana avança: uma vitória sem heróis https://tinyurl.com/34vffeyc
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