A civilidade, a boa educação e o respeito voltaram
Enio Lins
Lula protagonizou mais um momento de atenção da mídia ao entregar a condecoração da Ordem Nacional do Mérito Científico à Academia Brasileira de Letras, naturalmente representada por seu presidente Merval Pereira.
Nas redes sociais o buchicho passou a ser uma sequência de avaliações (díspares) sobre o clima fraternal entre Lula e Merval, por conta da linha ácida do jornalista em suas críticas (há anos) ao PT, aos governos petistas e, individualmente, contra Luiz Inácio.
Gesto cortês e democrático cujo impacto nas redes sociais descortina o prejuízo civilizatório causado pela patologia social bolsonarista, que radicalizou a prática da agressão pessoal como princípio para a relação entre pessoas com posições opostas.
Ora, o presidente da República entregar uma comenda nacional ao presidente de uma das mais antigas e representativas entidades civis brasileiras é algo que não deveria merecer destaque algum, por ser próprio da liturgia dos dois cargos.
Ora, ora, uma pessoa entregar um prêmio a outra pessoa, ambas desconsiderando nesse gesto as divergências entre uma e outra criatura, é uma atitude de corriqueira civilidade, educação e respeito pessoal. Procedimento que deveria ser usual.
Tais condutas, seja entre figuras públicas, seja entre seres privados, foram – desgraçadamente – como que expurgadas dos comportamentos brasileiros por conta de uma pregação ostensiva, petulante, desrespeitosa e exercida cotidianamente pelo dito mito.
Consequência dessa pregação são gestos como o de um cidadão invadir o aniversário de outro e o assassinar por discordar do tema da festa; nesse conceito de animosidade belicosa, o “direito a arma” é sinônimo do “direito de atirar em quem mereça”.
Naquele caldo de cultura criminoso, odiento – vírus mitológico que ainda circula à mão armada e com força em muitas bolhas – a fraternidade entre dois adversários no campo das ideias e ideais, Lula e Merval, causa espanto e estranheza.
Beleza e humanidade é o que se deve ver na harmonização entre dois adversários em torno de um objetivo, um valor, uma causa comum. Esse é o ensinamento: existe muita coisa maior, mais importante, que as divergências políticas conjunturais.
É o impacto causado pelas coisas (boas) voltando a seus lugares. Ainda bem.
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