10 julho 2024

Enio Lins opina

A esperança que vem da luta
Enio Lins    

Na ilustração, combatentes da resistência francesa estão representados como coelhos antropomórficos, numa reinterpretação gráfica de “A liberdade guiando o povo” (quadro de Delacroix, de 1830), em “A fera está morta!”, obra do quadrinista Edmond-François Calvo (1892/1957) iniciada clandestinamente em 1942 e publicada em 1945

Domingo, 7 de julho, a humanidade festejou por ter barrado a erupção da desumanidade na França, impedindo que a extrema-direita herdeira de Vichy conseguisse a maioria das cadeiras na Assembleia Nacional. Uma grande vitória, sem dúvida! Mas o problema não está resolvido, nem o êxito consolidado.

AVANÇO DA DESUMANIDADE

Com base na expressiva vitória no primeiro turno das eleições parlamentares francesas, a extrema-direita festejou antecipadamente o ganho da maioria das cadeiras do Palais-Bourbon. O universo neonazifascista vibrou no resto do mundo com a perspectiva desse retrocesso se confirmar no segundo turno, pois o impressionante avanço nessas eleições se dava em sequência ao crescimento da ultradireita na votação para o Parlamento Europeu. Desastre esse que levou o presidente da França, Emmanuel Macron, a convocar novas eleições nacionais, num gesto de alto risco destinado a sacudir o lado saudável do país, pois o lado podre francês estava em feroz ebulição e ameaçando a estabilidade. Macron provou que estava certo, mas pagou um preço alto.

EQUÍVOCOS NA ÁREA

Pode e deve ser comemorado o resultado das eleições francesas de 2024: a extrema-direita foi derrotada em seu projeto de ganhar a maioria do parlamento e formar um novo governo de Vichy. Vitória importantíssima, sim. Mas é erro primário supor uma derrota acachapante ou mesmo um refluxo político e eleitoral dos herdeiros de Pétain & Laval, pois essa ultradireita capitaneada por Marine Le Pen consolidou sua marcha assustadora e foi o grupo que mais cresceu na Assembleia Nacional da França entre as eleições de 2022 e 2024, abocanhando mais 55 cadeiras, pulando de 88 para 143 representantes no Palais-Bourbon. A Nova Frente Popular, de esquerda, principal responsável pela espetacular virada, cresceu em 33 cadeiras, passando de 149 parlamentares para 182, num avanço significativo. Emmanuel Macron e seu partido “Juntos”, perderam nada mais nada menos que 82 lugares (!), caindo de 250 p ara 168 deputados. Deve ser considerado também o baque do grupamento de centro-direita “Republicanos”, reduzido em 16 cadeiras, de 61 para 45. Assim, como esses números comprovam, não se pode menosprezar, muito menos ignorar, o ascenso da extrema-direita.

FRENTE INDISPENSÁVEL

Mais uma vez está provada a necessidade imperiosa da política de frente única, da frente ampla contra a ultradireita – na França e no resto do mundo. No mesmo dia em que o segundo turno das eleições fazia tremer o solo francês, o circo da direita mais extremada, em sua versão latrina-americana, montava seu picadeiro no Balneário Camboriú, em Santa Catarina (área onde existem mais células neonazistas no Brasil), para o espetáculo dos palhaços destros Jair & Milei, provocando o êxtase de numerosa plateia patriotária. Dias antes, nos Estados Unidos, Trump (exagerando nas mentiras) atropelou um sonolento Biden no primeiro debate das prévias presidenciais, enquanto a Suprema Corte de direita resolveu lhe anistiar, graciosamente, pela tentativa de golpe em 6 de janeiro de 2021. O mundo continua em perigo. Mas, nesses agitados dias, a resistência venceu e n&at ilde;o foi só na França: o povo britânico deu um chute nos governantes conservadores que tomavam conta do Reino Unido há 14 anos.

E a luta continua! Abaixo a ultradireita em todos os cantos da terra!

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