Brasil fica pouco com a bola e troca poucos passes
É preciso gostar mais dela; há tempos predominam na seleção os lances individuais, isolados
Tostão/Folha de S. Paulo
Não houve surpresas nos empates do Brasil contra Colômbia e Uruguai. São três seleções do mesmo nível. A Argentina é a melhor. Da mesma forma, há pouca diferença entre as melhores seleções europeias e entre as principais da Europa e as da América do Sul.
Os jogos da Eurocopa são mais agradáveis de ver do que os da Copa América porque os europeus se preocupam menos em tumultuar, fazer faltas e parar o jogo. A grande superioridade dos europeus ocorre somente entre os melhores times porque eles contratam os principais jogadores sul-americanos.
Após o empate entre Brasil e Colômbia por 1 a 1, o ótimo e lúcido zagueiro Marquinhos disse que faltou à seleção brasileira ficar mais com a bola. Contra o Uruguai, ficou menos ainda. Isso ocorreu nos dois jogos por causa da marcação por pressão dos adversários e porque o meio-campo do Brasil não teve talento para sair dessa marcação. O time abusou das bolas longas da defesa para o ataque.
Nas duas partidas, Paquetá não sabia se jogava ao lado ou próximo de Bruno Guimarães e de João Gomes ou se atuava mais perto dos atacantes. Não fez uma coisa nem outra. Não foi meio-campista nem meia-atacante. A história se repete, pois a seleção teve o mesmo problema com Tite no Mundial de 2022.
O Brasil fica pouco com a bola e troca poucos passes. Há tempos predominam na seleção as estocadas, os lances individuais, isolados. Quando o time enfrenta adversários frágeis, como o Paraguai na Copa América, os pontas, meias e atacantes hábeis e dribladores deitam e rolam. Porém, contra fortes rivais, as dificuldades são enormes pela falta de uma melhor elaboração de jogadas no meio-campo. Isso ocorre há décadas.
Independentemente da formação tática, o Brasil precisa gostar mais da bola, os atletas precisam compartilhá-la com os companheiros. O jogo é coletivo. O futebol brasileiro parece uma representação da sociedade individualista do país.
Quem gosta demais da bola é a Espanha, finalista da Eurocopa após vencer a França por 2 a 1. É uma equipe bastante coletiva, que troca muitos passes, comandada no meio-campo com extrema regularidade e talento por Rodri. O garoto Lamine Yamal, que fará 17 anos nos próximos dias, marcou um belíssimo gol, no estilo Estevão, do Palmeiras. Na véspera, Yamal fez o dever de casa para a escola em que estuda na Espanha.
A seleção brasileira, mesmo com deficiências individuais e coletivas, é uma das candidatas a ganhar novamente a Copa do Mundo por causa do equilíbrio técnico. Existem esperanças de que melhore a maneira de jogar, que alguns jovens evoluam bastante, como Estevão e Endrick, que Neymar volte em boas condições físicas e técnicas e que as pessoas que trabalham no futebol, em diferentes atividades, dentro e fora de campo, tenham mais sabedoria, que vai muito além de informação e padronização.
É preciso gostar mais da bola, tratá-la com carinho. É fundamental também divertir-se com ela, como faz Vinicius Junior. A sua fantasia transita pelo espaço imaginário entre a brincadeira e a seriedade.
A bola deve ter surgido antes da roda. A forma esférica sempre fascinou as pessoas e está presente na natureza. Dizem que o formato da bola foi inspirado nos estudos de Leonardo da Vinci sobre as formas esféricas. O químico britânico Harold Kroto recebeu o Prêmio Nobel em 1966 pela descoberta de uma nova fórmula molecular do carbono (fulereno), que tem o formato de uma bola.
Segundo a teoria do Big Bang, a vida começou como uma bola de fogo. O mundo é uma bola.
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