Governadores retrógrados
Luciano Siqueira
Governadores de orientação bolsonarista têm se negado a comparecer a atos oficiais promovidos pelo governo federal.
Não desejam fortalecer o presidente Lula.
O que é pura bobagem. Antes, demonstração retrógrada da polarização política e ideológica elevada à décima potência.
O Brasil é constitucionalmente uma República federativa. União Federal, Estados e Municípios devem manter relações cooperativas entre si, na esfera administrativa, em favor do bom cumprimento de suas funções.
Recordo-me de um evento no Palácio do Campo das Princesas, no Recife, quando o então governador Miguel Arraes discursou enaltecendo "a sensibilidade social" do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Era um ato que formalizava a liberação de recursos federais para o programa "Chapéu de palha", do governo estadual.
Me surpreendeu o tom de Miguel Arraes, Fernando Henrique tratava o governo de Pernambuco a pão e água.
Já no final da noite liguei para o governador e manifestei a minha estranheza.
Do outro lado da linha, ele me respondeu que havia um detalhe para o qual eu não estava dando a devida atenção. Chamou-me para um café na manhã seguinte e conversamos sobre o fato e extensivamente sobre a conduta correta do gestor público, que segundo ele deveria ser desprovida da contaminação das disputas políticas momentâneas.
— O governador não faz oposição ao presidente da República. Cabe ao partido a que pertence e não a ele pessoalmente.
Vivíamos outro tempo. A luta política era acirrada, a demarcação de campos explícita. E contávamos com quadros da estirpe de um Miguel Arraes, sob muitos aspectos exemplo para as novas gerações que se formavam.
A atitude dos atuais governadores bolsonaristas traduz uma percepção mesquinha da função pública, que em nada contribui para o fortalecimento do regime democrático.
Contrasta com a postura dos governadores que, no governo passado, respeitavam o princípio federativo e, mesmo tratados com hostilidade, compareciam a eventos convovados pelo então presidente Bolsonaro.
O neofascismo acrescenta uma gota de ódio em tudo. Contra o processo civilizatório da nação.
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