ALMIRANTE ZHENG HE: O DESBRAVADOR
DOS OCEANOS NA DINASTIA MING (1368 a 1644)
Roberto y Plá Trevas*
O presente trabalho tem por finalidade narrar sobre um personagem épico da China do século XV, o Almirante Zheng He, desbravador dos mares e dos oceanos, que a serviço da Dinastia Ming liderou diversas expedições marítimas que revolucionou o alcance nos mares e as técnicas marítimas de expedição dos chineses a locais e mares nunca antes navegados.
A Dinastia Ming – a dinastia Ming foi a dinastia que governou a China de 1368 a 1644 após a queda da dinastia Mongol e dos Iuâ, ela foi a última dinastia comandada pelos Hans. Pode-se salientar que o Estado dirigido pelos Ming, constituiu e formou uma extensa marinha e um exército permanente de cerca de um milhão de soldados. Nesse período existiu um comércio marítimo privado além de missões tributárias oficiais nas dinastias anteriores, a frota tributária do Almirante Zeng He, no século XV superou todas as outras missões em tamanho absoluto.
É bom salientar que durante essa dinastia houve uma grande quantidade de projetos de construções, tais como a restauração do Grande Canal e da Muralha da China. A população estimada da dinastia MING variam de 100 a 150 milhões de pessoas, e o Imperador Hongwu (1368-1398) tentou criar uma sociedade de comunidades rurais auto-suficientes, resultando uma rede agrícola chinesa, e também nesse período foi criado um sistema militarizado de rede de correio, onde o resultado do efeito da superprodução agrícola permitia que o excedente dessa produção fosse comercializado nas rotas onde esse correio percorresse.
O terceiro Imperador da Dinastia MING, YONGLE cujo reinado foi de 1402 a 1424, é reconhecido como o maior imperador da Dinastia MING, é um dos mais admirados da história chinesa, e sobre o seu reinado foi aonde ocorreram as principais expedições e viagens do Almirante Zheg He. O Imperador yongle mudou a capital de Nanquim para Pequim, onde foi construída a cidade proibida e foi complementada a monumental Enciclopédia Yongle, e é importante e fundamental frisar que o Imperador Yongle permitiu e autorizou as diversas viagens exploratórias do Almirante Zheng He durante todo o seu reinado, e consequentemente toda a expansão marítima chinesa baseou-se nessa “exploração marítima”, onde o Almirante Zheng He negociou em diversos portos em toda a Ásia, com os diversos go vernantes favoráveis aos interesses comerciais da china.
Sem dúvida alguma a importância do Imperador Yongle da dinastia Ming foi excepcional devido a sua visão geopolítica da época e seu instrumento de negociação foi sem dúvida o Almirante Zheng He. O Imperador yongle morreu em Changling e foi construído “O grande Mausoléu” onde estão as suas cinzas, e sem dúvida alguma este é o maior e mais importante mausoléu da Dinastia MING.
O ALMIRANTE ZHENG HE
MA HE, era o nome original do futuro Almirante ZHENG HE, nasceu em 1371 e faleceu em 1433, foi um explorador chinês do século XV e que realizou inúmeras viagens no mar do sudoeste asiático e no Oceano Índico, tendo inclusive chegado à Índia, ao Mar Vermelho e Moçambique.
MA HE pertencia a etnia HUI, era o segundo filho de uma família de origem muçulmana, nasceu em kunyang, atual Jimming, ao sul de Kunming, próximo do Lago Tiau em Yunnan. No ano de 1381, ano em que seu pai morreu, um exército Ming foi enviado para Yunnan para lutar contra o Mongol Basalawarmi, Ma He então com onze anos de idade foi aprisionado e em seguida “castrado”, tornando-se um “eunuco”. Após esse incidente ele foi enviado para a Corte Imperial e acabou se tornando um conselheiro de extrema confiança do 3º Imperador da Dinastia Ming, o famoso Imperador yongle, que reinou de 1403 a 1424, que inclusive ele ajudou o Imperador Yongle a depor o Imperador Jianwen, seu antecessor e como premiação desse apoio o “eunuco” Ma He recebeu do Imperador Yongle o nome de Zheng He pelo qual ele ficou conhecido como o grande desbravador dos mares e oceanos, o inesquecível Almirante Zheng He. Suas missões demonstraram a sua grande capacidade organizativa e poder tecnológico, que sempre contou com o seu protetor o Imperador Yongle que o apoiou e o estimulou a fazer 6 das 7 viagens exploratórias que o famoso Almirante Zheng He liderou de 1405 a 1433, essas viagens, e portanto nesses 28 anos levou a cultura ao sudeste asiático, parte da África e inclusive existe teorias que o Almirante Zheng He chegou nas Américas, antecedendo cerca de 70 anos o feito do descobrimento de Cristovão Colombo e Pedro Álvares Cabral.
Segue no Quadro abaixo, as principais viagens do Almirante Zheng He.
Viagens
Viagem | Anos | Regiões e países visitantes |
1ª viagem | 1405-1407 | Champa, Java, Palembang, Malaca, Aru, Samudera, Lambri, Ceilão, Kollam, Cochin, Calecute |
2ª viagem | 1407-1409 | Champa, Java, Siam, kochi, Ceilão |
3ª viagem | 1409-1411 | Champa, Java, Malaca, Sumatra, Ceilão, Quilon, Kochi, Calecute, Sião, Lambri, Kayal, Coimbatore, Puttanpur |
4ª viagem | 1413-1415 | Champa, Java, Palembang, Malacca, Sumatra, Ceilão, Cochin, Calicut, Kayal, Pahang, Kelantan, Aru, Lambri, Ormuz, Maldivas, Mogadíscio, Barawa, Melinde, Aden, Mascate, Dhofar |
5ª viagem | 1416-1419 | Champa, Pahang, Java, Malaca, Samudera, Lambri, Ceilão, Sharwayn, Kochi, Calecute, Ormuz, Maldivas, Mogadíscio, Barawa, Malindi, Aden |
6ª viagem | 1421-1422 | Ormuz, Este de África, outros países da Arábia |
7ª viagem | 1430-1433 | Champa, Java, Palembang, Malaca, Sumatra, Ceilão, Calecute, Fungte... (18 países no total). |
É importante salientar que antes de a Europa entrar em sua era exploratória, a China através das viagens do Almirante Zheng He, lançou uma série (7) de impressionantes viagens marítimas que buscaram estabelecer a influência chinesa, expandir o comércio além de coletar tributos. Os navios do Almirante Zheng He, eram chamados de “navio do tesouro”, estavam entre os maiores da época, tendo em torno de 137 metros de comprimento, bem superiores aos navios europeus da época.
Nessas sete viagens, o Almirante Zheng He e sua frota navegaram pelo sudeste asiático, oceano índico, chegando próximo ao Quênia, visitando nesses périplos portos importantes como Calicut, Malaca, Galle, dentre outros.
É importante salientar que além de expandir o comércio as expedições tinham objetivos diplomáticos e simbólicos, além de buscar coletar tributos de reinos distantes e reafirmar a posição do Império do Meio como a principal potência da Ásia.
No livro “1421: O ano em que a China descobriu o mundo”, o autor inglês Gavin Menzies sugere e defende que uma frota de 1000 navios explorou todo a terra, descobrindo a África Ocidental, a América (incluindo o Brasil), a Groelândia, a Islandia, a Antardida e a Austrália, tese essa que tem sido descartada por alguns historiadores, pois a cartografia e os textos chineses referem unicamente as expedições pelo Índico, inclusive no tocante a dimensão dos navios citada em textos mais recentes, é considerada exagerada em função das limitações da tecnologia naval da época com a utilização de “juncos” como o principal insumo para a fabricação dos “navios do tesouro”.
Vale ressaltar que apesar do sucesso, as expedições foram interrompidas após 1433, pois o seu grande incentivador o Imperador Yongle faleceu em 1424, e o seu sucessor alegando as enorme despesas das viagens, conflitos na fronteira no norte da China aliado a uma crescente influência das fações conservadoras na corte do novo Imperador viam as expedições como desvios de valores confucianos tradicionais. Concluindo, podemos afirmar que as viagens do Almirante Zheng He deixaram para o continente asiático uma marca duradoura, demonstraram a habilidade e sofisticação marítima da China no século XV, além de uma interação comercial e cultural que influenciou diversos países da África Oriental e do Sudeste asiático.
Apesar da importância desses acontecimentos infelizmente a história não proporciona a real importância desse personagem ímpar o famoso e lendário Almirante Zheng He, pois em uma época em que a Europa estava apenas começando a olhar além dos seus horizontes, o Império do Meio já estava realizando viagens marítimas de longa distância que conectavam regiões, continentes e culturas.
REFERÊNCIAS
COUTO, Sergio. A extraordinária história da China. Universo dos Livros, 2008.
DREYER, Edward. Zheng He: China and the ocean in the Early Ming, 1405-1433. Longuan, 2006.
MANZIES, Gavin. O ano em que a China descobriu o mundo. Bertrand Brasil, 2017.
MING, Yang. Seven Epic Voyages of Zheng He in Ming China (1405-1433).
REVISTA TIME ESPECIAL. Sobre características de Zheng He (agosto 2001). Disponível em: http://www.time.com/time/asia/features/journey2001/).
WOOD, Michael. História da China, crítica. 2015.
*Ex-Coordenador de Relações Internacionais da Prefeitura do Recife
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