Relatividade das coisas
Futebol tem inúmero fatores envolvidos que podem influenciar uma partida
Tostão/Folha de S. Paulo
No futebol, com frequência, treinadores tomam decisões corretas que dão errado ou decisões erradas que dão certo, por causa dos inúmeros fatores envolvidos. Independentemente das habituais mudanças feitas no segundo tempo, o mais transformador na história de um jogo é o que acontece na primeira etapa.
A relatividade das coisas no futebol não anula a grande importância dos técnicos no comando, no planejamento e nas ações antes e durante os jogos. Além disso, os treinadores tentam controlar o imponderável e o caos de muitas partidas.
Na vitória fora de casa por 1 x 0 contra o favorito Bahia, o novo técnico do Corinthians, Ramón Díaz, com poucos dias de trabalho, mudou a estratégia da equipe que passou a marcar por pressão quem estava com a bola e com isso atrapalhou a principal qualidade do Bahia, a troca de passes no meio de campo.
Na vitória por 2 x 0 sobre o Cruzeiro, o Palmeiras orientado por Abel Ferreira tinha sempre um marcador para pressionar Matheus Pereira quando recebia a bola. Na única chance que teve, o brilhante meia do Cruzeiro deu um ótimo passe que iniciou a jogada do gol, absurdamente anulado pelo árbitro, com a colaboração indevida do VAR. O árbitro nunca deve ter chegado perto de uma bola.
Os treinadores costumam utilizar no segundo tempo, ainda mais quando o time está perdendo, todas as substituições possíveis pela regra, que geralmente bagunçam o esquema tático e perde-se a chance de virar o jogo. Uma das grandes qualidades do Manchester City é não mudar a maneira de jogar mesmo quando o time está perdendo e jogando bem.
Diferentemente da Colômbia, a Argentina fez várias substituições no segundo tempo, mas manteve a estrutura tática, o que foi fundamental na vitória na prorrogação da final da Copa América.
O futebol possui poucas regras, simples, mas as possibilidades durante as partidas são infinitas, uma paradoxal equação. Quem sabe, a matemática me ajudaria a compreender. Para isso, vou ler o livro "Histórias da Matemática, Da Contagem Nos Dedos À Inteligência Artificial", escrito por Marcelo Viana, colunista da Folha, pesquisador, professor e diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada.
De uma área a outra
Quando eu jogava no Cruzeiro, meu pai me dizia que Pelé era o maior do mundo de todos os tempos, mas que Di Stéfano, jogador do Real Madrid, era o único da história que jogava de uma área a outra. Tentei fazer o mesmo e foi um fracasso. Quando chegava ao campo adversário já estava cansado. Desisti de ser Di Stéfano e contentei-me em ser o Tostão.
Lembro-me disso por causa das comemorações nos últimos dias dos trinta anos da conquista em 1994 do tetra mundial pela seleção brasileira. Na época, fui convidado pela tv Bandeirantes e na companhia do mestre Armando Nogueira me hospedei em Dallas, cidade onde estava o centro de imprensa da Copa do Mundo.
Um dia, comia um sanduiche na lanchonete do centro de imprensa quando um senhor calvo, mais velho do que eu, aproximou-se e disse que gostava muito da seleção brasileira de 70. Convidei-o para sentar e aí levei um susto ao reconhecê-lo. Era Di Stéfano, ídolo de meu pai e do mundo. Ele era comentarista de uma emissora de tv da Espanha.
Di Stéfano, como dizia meu pai, foi o primeiro jogador da história a atuar de uma área a outra. Hoje é a chave para se formar uma grande equipe.
[Ilustração: Acencio]
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